domingo, 8 de abril de 2018

“Hito Kata san nen” (一型三年)

Sempre que eu pratico Kata, uma das histórias favoritas de meu professor vem à minha mente!

Um dia um aluno de arco e flecha estava praticando no Dojo e de repente ele pensou:
“Vou eliminar o primeiro movimento, o de esticar a mão para cima antes de puxar o arco e então atiro as flechas o mais rápido que eu puder. E como agora o Sensei não está presente no Dojo, ele não poderá cobrar que eu realize todos os movimentos como ele sempre faz. Ele é muito exigente com relação à execução completa no Kata! Estou feliz que ele não esteja aqui nesse momento, afinal Kata não é tão importante assim ”.

Então o estudante pegou duas flechas e as atirou o mais rápido que pôde, eliminando o primeiro movimento do Kata. O estudante acertou o alvo e ficou muito satisfeito consigo mesmo. Como ele estava se vangloriando do feito, seu Sensei, que estava na biblioteca logo ao lado do Dojo, entrou e advertiu o seu aluno por eliminar o primeiro movimento. O Sensei, um mestre Zen, já sabia o que o aluno tinha feito mesmo sem estar no Dojo!

Então seu Sensei disse para ele:
“A prática deve ser mantida a mesma em todos os momentos, mesmo que ninguém esteja assistindo ou supervisionando! É preciso praticar para si mesmo! Você não está praticando para mim ou para a sociedade, você está praticando para si mesmo - para o seu auto aperfeiçoamento e conscientização, se você eliminar ou adicionar movimentos ao Kata, você está enganando a si mesmo, não a mim!

Muitos estudantes de Karatê não sabem que a eliminação ou adição de movimentos a um Kata original mostra total desrespeito ao “ryu” (escola ou estilo) que eles estão estudando! Se tais estudantes estão insatisfeitos com a sua escola (ryu), eles devem sair!

A culpa pela “mutilação” do Kata existente e a criação de novos é de dois tipos de indivíduos. Ambos os tipos, no entanto, são os produtos da era *ocupacional do Japão, Okinawa e Coréia (*durante e pós segunda grande guerra).

Por um lado, existe o tipo de indivíduo que alcançou um grau de proficiência nos aspectos mecânicos da arte. E retornando do Oriente, ele abre sua própria escola no mundo Ocidental. Ou ele não aprendeu seus Kata corretamente o suficiente, ou então ele se esqueceu deles e seus Kata são bastante improvisados.

Por outro lado, há o tipo que aprendeu com o primeiro tipo e que posteriormente abre sua própria escola. Esse indivíduo depois de ganhar alguns “campeonatos de kumite” cria o seu próprio Kata com base em sua “fantasia” de que ele é um grande professor, um verdadeiro grande mestre. Para ele Kata nada mais é que uma “dança” ou uma formalidade. Porem nada está mais longe da verdade, mas lamentavelmente dentro daquele “reino de sua experiência” e consciência isso é tudo o que conta ou o que importa para ele.

“Hito-kata san-nen” de Yasutsune Azato’Sensei, significa “três anos para um Kata”! 
Mas muitas pessoas diriam: “Que absurdo, três anos para um Kata, porque eu poço aprender e fazer um Kata em questão de semanas.

Empiricamente, os mestres sabiam que a realização de um Kata requer sangue, suor e lágrimas! Eles sabiam que não podiam produzir uma “maravilha em 90 dias”! Todas as experiências demonstram para o fato de que isso exige uma fé determinante, tenacidade e muito trabalho, para conseguir dominar realmente um Kata! Então três anos é como um tempo mínimo para dominar um Kata e para produzir no estudante uma consciência real do que isso significava!

O Kata é Karatê e Karatê é o Kata! A compreensão adequada de um Kata ajuda a encher a taça da vida com água limpa, não água suja! Sem a orientação do professor e a pratica correta do Kata, o aluno não consegue distinguir entre água limpa e água suja! O Kata ensina habilidades de luta e de vida ao mesmo tempo! O objetivo do Kata é tornar o indivíduo “Um” com o universo! Como ele sintoniza com o Kata, ele está, no final, em sintonia com ele mesmo!

(texto sintetizado)

                                   
Shigeru Egami'Sensei entre 1936/37 (Taikyoku shodan)