sábado, 25 de maio de 2013

Escola para a vida!

Nos “tempos de ouro”, por volta dos idos dos anos '70, quando comecei a trilhar e vivenciar o “Caminho”, imperava a vontade sublime, voraz, indômita, indescritível, insaciável de aprender, estudar e praticar a honorável Arte maior do Karatê-Dô!
Praticava-se com “alma”, sangue, suor e lagrimas, com agonia sem fim, tamanha a disciplina!
Onde os olhos eram espelho da alma e se percebia o fascínio do despertar pela Arte!
Longe vai o dia em que se sentia no ar a energia, o invisível, o sobrenatural obsessivo da força interior, que vem das entranhas, do mais profundo do “Ser”, do incomparável querer saber aprender sobre o “Caminho”!
Lá não tinha tempo, nem lugar, nem condição, nem coisa alguma que impedia os sacrifícios!
Havia a certeza imutável da vontade infinita e única do “aprender por aprender” para saber!
Empenhados de corpo, mente e espírito, orgulhosos, leais a nossa “segunda família”, o Karatê-Dô!
A obediência, a hierarquia, o respeito inquestionável, a honra ilibada, a imaculada conduta!
Não havia cansaço, nem desanimo, nem dor alguma capaz de afastar-nos dos “castigos” da lição, a lição para a vida!
Lições vivenciadas com tanta emoção, que o próprio cheiro do couro cru, da corda de sisal, da lona surrada, do quimono encharcado, do assoalho gasto da madeira maciça, temperava nossos sonhos e se enraizava na eternidade da nossa busca incessante, inquietante!
Sonhos movidos por um ideal, um ideal apenas, um nobre ideal, sem precisar de estímulos, nem de elogios, nem de motivações externas, mas “unicamente para ser um Karateka”, muito mais que vencedores, mas Karatekas de verdade!!!
Prof. Sylvio Rechenberg

sábado, 11 de maio de 2013

Aprender Karatê-Dô é se dar uma chance para conhecer a si mesmo!

 
Nos dias de hoje, ainda, a maioria das pessoas não tem ideia do que é Karatê-Dô. A mídia infelizmente prega e enfatiza o sensacionalismo, distorcendo o seu "conceito real".
Grande parte dos responsáveis pela sua difusão, não tem o menor interesse em orientar sobre sua real finalidade, muito menos em aprender sobre o verdadeiro Karatê-Dô.
 
Nesses tempos, o que vale é a competição, a esportivisação, a facilitação e o descomprometimento com o futuro desta Arte Marcial extraordinária.
 
A real Arte Marcial milenar, não foi criada com propósitos lúdicos como campeonatos, torneios e afins, mas foi constituída com a nobre finalidade de salvaguardar a própria vida através da prática rigorosa e constante do auto-aperfeiçoamento construtivo, superando as fraquezas humanas nos três aspectos, “físico, mental e espiritual”, mantendo-se assim incorruptível, inviolável, exclusiva, e de acordo com os seus sábios e legítimos criadores, “para a vida toda”!
 
Porem com as recentes distorções, interpretações equivocadas e total “falta de controle das grandes organizações”, o dito "Karatê" por aí, se tornou um jogo, uma "brincadeira de luta", atiçada pelo ego inflamado, desiquilibrado, valendo-se da fraqueza humana pelo conflito, pela disputa pela “pseudo” vitória sobre o outro, nada mais do que marionetes animadas!
 
"Aprender Karatê-Dô é se dar uma chance para conhecer a si mesmo"!
 
Esteja disposto a confrontar-te para melhorar algo em ti; esteja consciente para descobrir-te e entender mais de ti; esteja preparado para superar-te a ti mesmo!
 
Saiba que o universo ao teu redor esta ao redor de todos os demais; que a energia que brota de ti conspira para o mundo, e que o mundo no qual respiras te permite "vivenciá-lo em harmonia"!
 
De nada adianta lutar contra os outros se o verdadeiro conflito se manifesta em ti!
 
Prof. Sylvio Rechenberg

sábado, 4 de maio de 2013

Para o entendimento da génese do Karatê-Dô.

Profundamente religioso, Gichin Funakoshi'O-Sensei era Taoísta, enquanto vivia em Okinawa, ensinava os clássicos Chineses, como o Tao Te Ching de Lao Tzu. Quando O'Sensei Gichin Funakoshi adicionou a palavra Dô (caminho, via espiritual), ao termo "Mãos  Vazias", estabeleceu uma filosofia de vida, (o espírito do Karatê), que é esvaziar o corpo de todos os desejos e vaidades terrenos. Um método de se auto aperfeiçoar continuamente durante toda a vida, muito além de um simples método de defesa sem armas, (Caminho das Mãos Vazias).

" Ele (o Karatê-Dô) se enraizou e é amplamente praticado em toda a Ásia, entre povos que professam credos tão distintos como o Budismo, o Islamismo, o Hinduísmo, o Bramanismo e o Taoísmo. No transcurso da história humana, artes de autodefesa específicas atraíram seus próprios seguidores em várias regiões da Ásia, mas existe uma semelhança subjacente básica entre todas elas.

O Karatê-Dô teve um desenvolvimento maior devido ao incentivo do Budismo, visto que os monges o utilizavam como um meio de percorrer o “Caminho” rumo à auto-iluminação. Nos séculos sétimo (VII) e oitavo (VIII), budistas japoneses viajaram para as cortes de (Sui e T’ang), onde aprenderam a versão chinesa da arte, trazendo para o Japão alguns de seus aperfeiçoamentos.

Durante muitos anos, aqui no Japão, o Karatê-Dô continuou confinado nos largos muros dos templos, de modo particular dos do budismo zen; aparentemente, não era praticado por outras pessoas, até que os samurais começaram a treinar no recinto dos templos e assim ficaram sabendo da existência da arte. Como o conhecemos atualmente, o Karatê-Dô foi aperfeiçoado por Gichin Funakoshi'O-Sensei. "

Genshin Hironishi’Sensei  (discípulo direto de O'Sensei Funakoshi)


Confucionismo:
 
Azato'Sensei fora um estudioso do confucionismo!

O Confucionismo não se trata de uma religião. Não possui um credo estabelecido, mas apenas determinações rituais de caráter social, que permitem a um adepto do Confucionismo a liberdade de crença em qualquer tipo de sistema metafísico ou religioso que não vá contra as regras de respeito mútuo e etiqueta pessoal.

Surge no séc. VI a.C. na China com Confúcio, que funda no pequeno estado de “Lou” a primeira “escola de educação”. O Confucionismo acabaria por tornar-se o conjunto de regras e convenções morais, jurídicas e linguísticas oficiais de toda a China.

O Confucionismo atingiu um pleno sucesso, tornando-se uma filosofia moral de profundo impacto na estrutura social e cotidiana da sociedade. O valor ao estudo, à disciplina, à ordem, à consciência política e ao trabalho são lemas que o Confucionismo introduziu de maneira definitiva na vida da civilização chinesa da antiguidade aos dias de hoje.

Regra de Ouro do Confucionismo: " não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem a ti ".


Taoísmo:
 
“Nasce” com Lao-Tsé (n. 571, m. 479 a.C.). Coexiste desde o seu início com o Confucionismo sendo, em muitos aspectos, complementar-antagónico deste. Trata do Tao (= Dô) conceito sem tradução perfeita. É o “Dô” do Kendô, do Iai-Dô, do Judô, do Karatê-Dô. É também, em muitos aspectos, a fonte do Budismo-Zen.

Tao não é um conceito que possamos captar ou compreender intelectualmente, mas é uma realidade que podemos presenciar, vivenciar e praticar. Por exemplo, a prática do Kata Taikyoku-Shodan, ao longo de anos e anos, permite-nos conviver com o Tao, embrenharmo-nos no seu fluxo sem que, no entanto, o possamos definir ou explicar.

O Taoísmo é uma maneira de estar no mundo de acordo com o Tao, de acordo com o fluxo natural do mundo e da vida. Trata-se de “não remar contra a maré”, de aceitar o seu ímpeto, de fluir com ele. “O que é contrário ao Tao, cedo desaparece”.

O Taoísmo está na raiz da medicina, da culinária, da construção de edifícios, da pintura, da caligrafia ou das Artes Marciais orientais... “

" Nunca vás contra a Natureza ” afirmava o Funakoshi'O-Sensei!


Budismo:
 
O Budismo surgiu no séc. VI a.C. com Siddhartha Gautama - o Buda ( O que despertou, o iluminado ) (n 622? a.C. e m. 543? a.C. no sopé do Himalaia, hoje chamado Nepal ). Buda não deixou ensinamento escrito, mas os monges budistas espalharam a sua religião por todo o extremo oriente. O Budismo dá entrada no Japão no séc. VI d.C., fundindo-se com a tradição religiosa nativa (O Shintoísmo). Importa-lhe determinar as causas do sofrimento humano e modificar a atitude do indivíduo perante o mundo, de forma a eliminar esse sofrimento. Buda identifica, nas suas (4 Nobres Verdades essenciais), a causa da doença da humanidade, a seguir passa à afirmação de que a doença pode ser curada, finalmente prescreve o método de cura:

- A 1ª Verdade Nobre identifica o (sofrimento ou a frustração) como “doença” básica fundamental do homem.
 
- A 2ª Verdade Nobre revela-nos a causa desse sofrimento, (o apego ou a avidez). É o apego a determinadas ideias, ou fatos, ou pessoas, ou objetos (que encaramos ilusoriamente como coisas individuais e nossas), que nos leva a esquecer que tudo é mutável e transitório, que tudo o que tem um princípio tem um fim, inclusive o nosso ilusório “eu”.

- A 3ª Verdade Nobre afirma que o sofrimento e a frustração podem chegar a um fim. “É possível transcender o círculo vicioso de "samsara", livrar-se do jugo do karma (Lei de causa e efeito) e alcançar um estado de libertação total: o Nirvana (Paz no estado de Buda). Neste estado, as noções falsas de um “eu” separado desaparecem para sempre e a unidade da vida torna-se numa sensação constante”.

- A 4ª Verdade Nobre é a prescrição da cura - o Caminho óctuplo do auto-desenvolvimento que nos leva ao Estado de Buda.


Budismo Zen
 
Raiz filosófica do Bushi-Dô (o código dos samurais) e, por consequência, do Budo (as Artes Marciais). A pior maneira de o revelar seria dar dele qualquer definição. O Zen pratica-se e confunde-se com a própria prática. Lembremo-nos de Zen-kutsu-dachi.