domingo, 2 de agosto de 2009

Vazio

domingo, 19 de julho de 2009

sexta-feira, 20 de março de 2009


Karatê-Dô Kyohan “ The master text ” 1935


Uma definição do Shotokan Ortodoxo de “ O-Sensei ”

“ O texto a seguir é um resumo do original ”.

Arte Marcial japonesa, o Karatê-Dô propagou-se por todo o mundo, chegando ao Brasil através das imigrações japonesas, realizadas no começo do século passado, difundindo-se em todos os estados brasileiros e, possuindo hoje no Brasil, 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) “praticantes” aproximadamente, divididos por diferentes estilos (escolas) e organizações diversas (confederações, federações).

A escola difundida por Gichin Funakoshi “o Shotokan Ortodoxo” segue os princípios do Budô, considerado a essência, a estrutura e o alicerce de uma arte marcial e tem suas raízes mais remotas ligadas a artes marciais originárias na Índia, algumas posteriormente chegaram a China, onde se desenvolveram duas escolas, “Chuan-Fa” e “Nan-Pei-Chun”, sendo que destas chegaram à ilha de Okinawa, no Japão, e foram mescladas às lutas nativas, formando duas grandes escolas, “Shuri-Te” e “Naha-Te” .

Com relação às organizações relacionadas ao estilo Shotokan, ocorreram diversas ramificações, culminando no surgimento de múltiplas entidades regendo o mesmo estilo, infelizmente provocando e produzindo interpretações e atuações variadas com relação ao original.
O Karatê-Dô carrega consigo fortes traços da tradição oriental, comumente chamados e identificados como “filosofia”, termo relacionado aos aspectos da sabedoria, cultura e conduta existentes nas artes marciais conforme a cultura na visão ocidental.
Segundo Chaui (1994), “filosofia” difere da “sabedoria de vida ou modo de viver”, pois a filosofia deve ser entendida como análise, reflexão e busca do fundamento e do sentido da realidade em suas múltiplas formas e indagações.

Em outras palavras, “filosofia” é um modo de pensar e exprimir os pensamentos, que surgiu especificamente com os gregos e que, por razões históricas e políticas, tornou-se, depois, o modo de pensar e exprimir predominante da chamada cultura ocidental, embora tenha a filosofia dívidas inestimáveis com a sabedoria dos orientais, em particular pelas viagens que colocaram os gregos em contato com os conhecimentos produzidos por aqueles. Por outro lado, sabedoria de vida ou modo de viver tem relação com contemplação do mundo e dos seres humanos para nos conduzir a uma vida justa, sábia e feliz, ensinando-nos o domínio sobre nós mesmos, e é nesse sentido que se fala em “filosofia” no budismo, por exemplo.

Segundo Sensei Sasaki, o Karatê-Dô implica em experiência real de vida, é um tesouro, não de ‘ter’ mas para ‘ser’.
Educando e se Educando com o Budô através do Karatê:
Percebe-se assim os diversos valores que estão colocados na sua prática educativa, tais como a não fragmentação corpo – mente - mundo, a persistência, a determinação, a humildade, a sinceridade e o respeito ao outro, valores que são apreendidos e ensinados no “Caminho’ trilhado pelo Sensei ( professor) , que educa e se educa, na busca de uma compreensão mais profunda, amadurecida, do Karatê-Dô.
Sensei Sasaki reforça a idéia de aprendizado pessoal contínuo, persistente e não desligado da vida:
“eu continuo me aprimorando nesse sentido (...) continuo buscando através do Karatê esse tesouro escondido. E esse tesouro escondido, para achar tem que se esforçar (...). E esforçar corretamente é um caminho árduo (...). Fazer de qualquer jeito qualquer um faz (...), mas esforçar corretamente... ".

Sensei Inoki, comenta que “queria ficar forte, depois com o passar do tempo, treinando e recebendo orientação dos professores, comecei a entender que Karatê não é nada de ‘um contra outro’ é...‘contra mim mesmo’”.
Sensei Kazuo destaca que iniciou o Karatê como “uma forma de aprender alguma coisa relativa a defesa pessoal e, com o passar dos anos, foi se transformando numa descoberta, numa (...) possibilidade de auto-conhecimento”.

Sensei Sasaki relata: “ treinava Karatê como um instrumento para fortalecer meu espírito e encarar esse mundo de incertezas. Lapidar meu corpo, meu espírito (...). Enfim, eu treinei Karatê como instrumento para me fortalecer fisicamente e sempre na cultura japonesa, arte marcial além de ficar forte, te dá luz, iluminação, te dá clareza, é como o ‘caminho de Dô’. Seria tipo monge (...). Mas é monge através do Karatê (...) Aí comecei a mudar meu comportamento... no final, eu vou terminar como atleta ??? (...) Não!!! Eu vou seguir “Caminho” de ‘ser mestre’ e não simplesmente atleta detonador... lutador simplesmente,... eu vou trilhar o “Caminho” de mestre.”

Conclusão:
Valores como dignidade, honra, trabalho, pacifismo, formação do caráter, persistência e humildade se fazem presentes nas falas dos Senseis, os quais mantém as raízes da cultura oriental, ou seja, o Karatê como sabedoria ou modo de viver, em que o “Dô” (Caminho) se dá nas experiências cotidianas, para além do dojo, ou seja, não fragmenta a vida em si mesma da atividade.

No entanto, de acordo com Marta (2004), apesar de na atualidade muitas pessoas aderirem à prática de uma arte marcial pelo interesse na cultura oriental, outros interesses vinculam-se a tal procura, entre elas, a prática pela prática, o convívio social, entre outras, o que pode, no ocidente em geral, e mais especificamente no Brasil, conforme sua apropriação e desenvolvimento, até mesmo contrariar as raízes originais.

Nos depoimentos dos Senseis pudemos perceber que para eles, o Karatê se acha realmente nas coisas concretas da vida diária e daí decorre alguma dificuldade destes em explicarem o Karatê através das palavras.

O Zen, o Budismo e o Karatê possuem raiz de “ pensamento/sabedoria oriental “, ao contrário da filosofia ocidental vinculada a uma visão dicotômica (o corpo e a mente separados no “Ser” e ainda “este” do mundo).
No entanto, os citados modos de sabedoria oriental (inclusive anteriores a filosofia grega) têm sido colocados em segundo plano em nossa sociedade, particularmente por força da dominação instrumental-técnica do ocidente, desenvolvida principalmente com o impulso da Revolução Industrial (ocorrida a partir da segunda metade do século XVIII) e do Capitalismo.

Para Suzuki (2003) “o Zen se afasta muito mais de nós quando tentamos explicá-lo com papel e tinta, prendendo-o numa armadilha verbal e lógica” (p.67). O Zen está além do dualismo lógico-ilógico, acima da barreira verbal que tem sua validade puramente intelectual.

Conforme caracteriza Allan Watts (citado por SUZUKI, 2003), “o Zen nunca explica, somente dá sugestões...
Tentar explicá-lo é como tentar captar o vento numa caixa. No momento em que se fecha a tampa ele deixa de ser vento e se transforma em ar estagnado" (p.34).

Essas similaridades atribuídas entre o Zen e o Karatê não são feitas por acaso, pois o Karatê, assim como muitas artes marciais originadas no Extremo Oriente como o “Judô tradicional”, o Aikidô, o Kendô, dentre outras, ao remeterem-se ao Budô são entendidas desta mesma forma, e em suas origens históricas, por estarem associadas a um povo e a uma arte.

Assim, poderíamos dizer que o Zen e o Tao “influenciaram” o que hoje chamamos de Budô, porém, segundo Sasaki (1996) este possui características e objetivos próprios distintos do Zen.

Neste sentido Gichin Funakoshi, "o difusor do Karatê", declara: “ Pode-se treinar por muito, muito tempo, se porém, apenas mexer as mãos e os pés e saltar para cima e para baixo como uma marionete, você nunca chegará à essência; você fracassará em captar a quintessência do Karatê-Dô ” (p.113-114).

Enquanto manifestação do Budô, o Karatê parte do princípio de que a experiência individual é fator essencial na busca de sua compreensão, “a experiência individual é tudo no "Zen". Não há idéias inteligíveis para aqueles que não tem alicerces na experiência” (SUZUKI, 2003, p.54).
Essa prática no Karatê se faz NÃO no sentido de “saber fazer” para “saber ensinar”, muito discutido pelos profissionais em educação física (especialmente no processo de regulamentação da profissão), MAS SIM, como experiência calcada no dia-a-dia para se poder “ Sentir /

Perceber / Apreender ” o Karatê enquanto meio para se atingir o Budô.Logo, esta arte marcial oriental, nos termos da filosofia ocidental se aproxima antes da fenomenologia existencial (primado da percepção) do que do racionalismo cartesiano (primado da razão), pois:
“ o sistema da experiência não está desdobrado diante de mim como se eu fosse um deus, ele é vivido por mim de um certo ponto de vista, não sou seu espectador, sou parte dele, e é minha inerência a um ponto de vista que torna possível ao mesmo tempo a finitude de minha percepção e sua abertura ao mundo total enquanto horizonte de toda percepção ” (MERLEAU-PONTY, 1996, p.408).

Também foi possível notar nas falas dos Senseis que no dia-a-dia dos treinos eles começaram a perceber uma outra dimensão do Karatê. Embora tenham partido da idéia de um sistema de “defesa pessoal/luta” atingiram a idéia de “Caminho”, em outras palavras, como manifestação de algo mais amplo, como Budô.

Não se deve afirmar “ ser o Zen uma filosofia” na acepção comum do termo. O Zen não é decididamente um sistema fundado na lógica e na análise. É algo antípoda da lógica e do modo dualístico de pensar (...), não há, no Zen, livros sagrados ou assertivas dogmáticas, nem qualquer fórmula simbólica através da qual se obtenha um acesso a sua significação (...). Esta é a razão por que é difícil captar o Zen” (SUZUKI, 2003, p.58-59).

Em outras palavras, se formos atribuir ao Zen, assim como ao Karatê, os termos “filosofia” ou “religião”, os quais são fundamentados na racionalidade ocidental, estaríamos cometendo um equívoco, pois os primeiros ( Zen / Karatê ) , partem de princípios diferentes destes ( filosofia / religião ).

Afirma Suzuki (2003) que “a verdade e o poder do Zen consistem na sua simplicidade e caráter prático” (p.106). Em outras palavras o Zen, assim como o Karatê, se fundamenta “na experiência (...) e não através de abstrações” (p.106), pois “a menos que brote de ti mesmo, nenhum conhecimento é realmente teu. É somente uma plumagem emprestada” (p.117).

Sôhô (2000), ao argumentar sobre a prática do Zen, diz: “pode-se explicar a água, mas nem por isso a boca ficará molhada. Podem se fazer longas dissertações sobre a natureza do fogo, mas a boca não se aquecerá. (...) O alimento pode ser definido em poucas palavras, mas isso não basta para aliviar a fome” (p.33).

Portanto, o Karatê-Do ( Budô ), como sabedoria de vida ou modo de viver embora possua características e similaridades a filosofia, apresentada por Chaui (1994), enquanto análise, questionamento, indagação, reflexão sobre o conhecimento produzido e sobre o mundo, não possui seu alicerce na racionalidade ocidental, ao contrário encontra-se centrado na sabedoria oriental, no qual se privilegia a compreensão e contemplação do mundo através da experiência pessoal cotidiana.

REFERÊNCIAS
BATISTA, Robinson A. Karatê shotokan. Disponível em: <
http://www.kamae.com.br/colunistas.html> Acesso em: 26 abr. 2004.
BRASIL. Congresso Federal. Lei nº.9.696 de 1º de set. de 1998. D.O.U. nº.168 de 02/09/98. Dispõe sobre a regulamentação da profissão de educação física e cria os respectivos conselhos federal e regional de educação física.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
FEDERAÇÃO PAULISTA DE KARATÊ. Disponível em: <
http://www.midiamix.com.br/karate/apresent.asp>. Acesso em 25 ago. 2005.
FEDERAÇÃO PAULISTA DE KARATÊ-DO TRADICIONAL. Disponível em: <
http://www.fpktradicional.com.br>. Acesso em: 25 abr. 2004.
FUNAKOSHI, Gichin. Karatê-Do: o meu modo de vida. São Paulo: Cultrix, 2002.
GONÇALVES JUNIOR, Luiz. Lazer e novas relações de trabalho em tempos de globalização: a perspectiva dos líderes das centrais sindicais do Brasil e de Portugal. 2003. Tese (Pós-Doutorado em Ciências Sociais) – Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, Lisboa (Portugal).
GONÇALVES JUNIOR, Luiz; DRIGO Alexandre J. A já regulamentada profissão de Educação Física e as Artes Marciais. Motriz, Rio Claro, v.7, n.2, p.131-132, 2001.
MARTA, Felipe E. F. O caminho dos pés e das mãos: taekwondo, arte marcial, esporte e a colônia coreana em São Paulo (1970-2000). São Paulo, 2004. Dissertação (Mestrado em História Social) – Programa de Estudos Pós-Graduados em História, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
MARTINS, Joel; BICUDO, Maria A.V. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Paulo: Moraes/EDUC, 1989.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 2ªed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
PAIS, José M. Ganchos, tachos e biscates: jovens, trabalho e futuro. Porto: Ambar, 2001.
SASAKI, Yasuyuki. O Karatê-Do e as filosofias do budo. São Paulo: Van Moorsel Andrade e Cia, 1996.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE BUGEI. Disponível em: <
http://www.bugei.com.br/ensaios/index.asp?show=ensaio&id=124 >. Acesso em 29 ago. 2005.
SŌHŌ, Takuan. A mente liberta:escritos de um mestre zen a um mestre da espada. São Paulo: Cultrix, 2000.
SUZUKI, Daisetz T. Introduç

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

História - O fundador do Karatê-Dô ( durante e depois ).

( resumo do texto original )
Mestre Funakoshi trouxe os ingredientes necessários para estabelecer o seu aprendizado como arte, nomeando-a de Karatê-Dô em 1929.
A bem da verdade na assinatura de O´Sensei "Sho-To", já estava embutida a palavra de ordem, o conceito imaginário da sabedoria de O´Sensei. Em Sho temos o pinheiro, seu símbolo de dignidade e em To temos as ondas fortes. O Karatê-do é para ser praticando tão nobremente como o pinheiro e tão forte como as ondas que batem nas rochas.
Mestre Funakoshi vendo que não haveria tempo para passar todo o seu conhecimento à todos e desenvolver a arte no sentido por ele vislumbrado, decidiu passar para alguns, do seu círculo mais próximo, instruções e pesquisas de aprimoramento, destacando-se: Takeshi Shimoda , assistente de O´Sensei, Kichinosuke Saigo antigo aluno, Yoshitaka Funakoshi (Gigo ou Waca Sensei) seu filho, Isao Obata muito fiel e o mais antigo (clube de Karatê de Keio - 1924), Shigueru Egami, assistente e sucessor de O´Sensei. Mestre Funakoshi desenvolveu a arte do Karatê-Dô e inseriu o Budo dentro dele. Shoto-kan se refere ao local onde o Karatê-Dô era praticado, chamado de ( Dai-nihon Karate-do Shoto-kan )em 1939. As pessoas que lá praticavam ficaram conhecidas como sendo do Shotokan. O Dojo pertencia a ( Dai-nihon Karate-do Shoto-kai ). Ele estava situado ao norte da Universidade de Waseda. A sua construção foi por iniciativa dos alunos de O´Sensei que integravam a Associação Shoto-kai para angariar fundos e sua construção começou em 1936. Esta Associação também era conhecida como sendo "Fundação Funakoshi".
Existe entretanto a prática Shotokan, hoje identificada como um estilo e podemos chamá-lo de Shotokan Ortodoxo ou o Proto-Shotokai. Este é o real Shotokan e não deve ser confundido com o que foi divulgado esportivamente absolutamente modificado e não-autorizado. Os únicos “Dojo” que receberam autorização direta de Mestre Funakoshi para utilização do nome Shotokan fora do Japão, foi o do Brasil fundado por Mestre Harada e para os EUA sob a tutela de Mestre Oshima.
Até 1929 mestre Funakoshi utilizava o nome (Karate Kenkyukai) nas apresentações, e originalmente em 1930 – (Dai-nihon Karatê-do Kenkyukai). Então em 1936 modificado para (Dai-nihon Karatê-do Shoto-kai) referindo-se a Associação dos amigos de mestre Funakoshi. Todos que praticavam no Dojo Shoto-kan e mesmo antes deste, eram membros da Associação (Shoto-kai). Notar que ela foi fundada por O´Sensei em 1936 mas já existia informalmente em 1935, criada pelos seus alunos.
Existe entretanto a prática Shotokai, hoje identificada como um estilo e podemos chamá-la de Egami-Ryu ou a prática de mestre Egami . Existem algumas linhas que também utilizam o nome de Shotokai e todas se reportam em grau maior ou menor a prática de Mestre Egami ou ao Shotokan Ortodoxo. O Shotokai é todo o compêndio de desenvolvimento do Shotokan Ortodoxo devidamente autorizado por Mestre Funakoshi na pessoa de Shigeru Egami, enraizado como real escola de Karatê-Dô ou Karatê Budô, obedecendo a todas as regras que definem uma Escola de Budo – (não sendo desportivo). Não deve ser confundido com práticas ditas Shotokai esportivas, com algumas proliferações pela Europa. Tais práticas são absolutamente corruptas e sem reais expressões.
Shotokan e Shotokai expressam etapas de desenvolvimentos com características próprias em suas práticas expressando uma arte que O´Sensei chamou de Karatê-Dô.
Cerca de dois anos após mestre Funakoshi efetuar sua primeira apresentação, ele começou a receber pressões por parte dos alunos das Universidades para promover competições e assim esportivando o Karatê.
Como desenvolvedor da arte dentro do Japão, mestre Funakoshi viu que isto não era boa coisa em termos do seu profundo conhecimento do Budo e mesmo porque eram necessárias maiores implementações para trazer o Karatê ao nível que ele desejava, (Karatê- jutsu para Karatê- Dô).
Por outro lado isto era um sério risco a sobrevivência do Karatê-Dô como arte dentro do Japão e especialmente nas escolas.
Havia um maior conhecimento dos antigos japoneses acerca do Budo e no momento em que vissem o Karatê-Dô partindo para campeonatos onde os praticantes se esbofeteariam para saber quem seria o melhor e ganhando uma medalhinha, colocariam sérias barreiras para a visão do Karatê-Dô como digno de ter qualquer Budo em seu ensino. A arte de mestre Funakoshi seria reduzida a gargalhadas.
Mestre Funakoshi tinha uma visão grandiosa em termos do Karatê-Dô ( Caminho do Karatê ) e não cedeu para estabelece-lo como arte dentro do Japão, onde havia preconceitos quanto às coisas vindas de Okinawa. Tal medida beneficiou a inúmeros mestres okinawenses inclusive. Assim podemos dizer que sua visão era a correta em termos de Karatê como Budo e estratégica em termos de sua implantação.
Mas quem na realidade fazia as pressões eram os alunos (Kohai) provindos da Universidade, jovens com conhecimentos pouco aprofundados, alheios a grande tarefa que mestre Funakoshi tinha diante de si e aos inúmeros problemas que ainda tinha que resolver nas partes técnicas. Tais jovens já apresentavam um distanciamento espiritual acentuado e culminou nas palavras do mestre, “ irreconhecível estado espiritual ” já em 1956, para o qual haviam chegado.
Em anos anteriores houveram algumas competições que foram abertamente combatidas por mestre Funakoshi, ameaçando os participantes de expulsão, se continuassem. Estas práticas começaram a surgir entre os universitários e eram chamadas de (kokangeiko).
Estas situações levaram a Isao Obata, o mais antigo aluno de mestre Funakoshi, a promover a fundação da NKK ( Nihon Karatê-do Kyokai). Estabeleceu-se a fundação da NKK em maio de 1949 por O´Sensei e os antigos da Shoto-kai.
E os acontecimentos abaixo irão determinar as divisões entre Shotokai e Shotokan.
Existe a necessidade de se compreender a influência das classes e das Universidades na sociedade japonesa. O Shotokan era ensinado na Universidade de Tókio e em outras três importantíssimas: Keio, Waseda and Hosei . Elas eram importantes porque seus alunos conseguiriam as melhores posições de emprego no Japão. O mesmo não acontecia com Takushoku (Takudai – Escola para o Cultivo e Colonização), pois os alunos tinham um status bem inferior na sociedade japonesa.
Assim havia um certo nível de diferenciações preconceituosas nas atitudes dos alunos das Universidades tradicionais e os alunos de nível inferior de Takushoku, mesmo que estes fossem melhores em sua prática do Karatê, pois tinham mais tempo disponível.
Além do mais, Keio tinha acordos universitários com Cambridge e Yale e muitos alunos que dela vieram eram parte ou se tornaram parte de grupos de grande influência dentro da sociedade japonesa.
Obata Sensei unificou os antigos clubes universitários e os “dojo” particulares, debaixo de uma mesma organização e esta foi chamada de "Nihon Karate Kyokai " (Japanese Karate Association foi o nome dado após a esportivação).
Eram anos de ocupação americana e muitas visões e pedagogias estavam adentrando ao Japão e para o Karatê foram as de teorias de treino desportivo, assim podemos chamá-las, as que aguçaram a curiosidade dos alunos.
Mestre Funakoshi foi nomeado Primeiro Instrutor Chefe da NKK e Kichinosuke Saigo como o Presidente. Também foi criado um comitê e composto por: Obata, Takagi, Fukui, Noguchi, Ito e Nakayama.
Nakayama Sensei era desentende de uma família de samurais, ele foi formado pela Universidade de Takushoku e estudou gestão comercial e aprendeu as inovadoras técnicas de negócios. Seus estudos foram completados na China. Os seniores da Shotokai na época, estavam com uma sobrecarga de trabalho e permitiram que ele, mais Nishiyama Hidetaka Sensei e Kimio Itoh Sensei, fossem colocados na gestão operacional da NKK.
A vontade de Mestre Funakoshi foi levada em consideração quando se nomeou a organização, pois ele não quis incluir o nome "Shotokan". Ele sempre se referia a sua prática como sendo o “ Karatê japonês”.
Interessantemente dois nomes faltam no comitê criado, e deveriam estar inclusos a saber, Egami e Hironishi, muito bons amigos e seguidores de Yoshitaka. Na realidade eles mantinham uma relação muito estreita com os membros da NKK mas nunca foram membros por nutrirem suspeitas em relação a alguns de seus membros, obviamente devido a intenções deturpadas.
As pressões em direção a esportivação nunca cessaram e isto teve seu auge em 1956.
Bem cedo a NKK começou a ter problemas. Havia a falta de contato entre as Universidades, entre os Dojo e alguns alunos mais velhos de Takushoku criaram problemas desde o início.
Diferenças técnicas começaram a surgir e cada pequeno grupo mantinha a sua própria interpretação de Kata isoladamente, (mesmo com Obata Sensei tendo reunido os diferentes grupos em Waseda, onde cada Kata era revisado e uma execução formal estabelecida). Tudo sob a supervisão de mestre Funakoshi.
Takagi e Nakayama notaram que eles precisavam de algum tipo de escritório central. Através de alguns contatos eles alugaram um espaço no Bio-centro Katoga em Ytsuya, Tókio. Isto ocorreu em abril de 1955 onde pretendiam comercializar o Karatê esportivamente como produto de grande consumo de massas. Abriram também um Dojo numa sala do edifício do Centro de Cinema de Kataoka, em Tóquio.
Em Agosto de 1956 completaram um conjunto de regras de competição destinadas a permitir a competição desportiva de Karatê. Isto foi demais para o grupo antigo de mestre Funakoshi que estavam na direção da NKK. Afinal de contas, sendo eles os primeiros alunos e diretores da NKK, se depararam com uma condição inaceitável, começando a ver que o Karatê-Dô estava sendo deformado nas mãos de alguns membros da NKK, tomando rumos não autorizados.
A partir daí, os antigos alunos da Universidade de Hosei foram os primeiros a deixar a NKK seguidos de perto pelos de Waseda.
Obata aceitou sua substituição como diretor e de forma muito calma ele notou - assim como todos os outros - que haviam passado por alguma espécie de manipulação provinda de alguns membros de Takushoku. Ele saiu quando a NKK abriu o Dojo com intenções esportivas comerciais e por ter respeito a tradição do Karatê-Dô.
Deste momento em diante a NKK foi deixada a seu próprio governo, composta pelos membros do clube de Karatê de Takushoku. As Universidades mais prestigiadas e seus clubes cortaram relações com a NKK.
Assim se estabeleceu a divisão Shotokai e Shotokan, um momento no qual houve uma ruptura final entre o Karatê desportivo, liderado pela NKK (grupo dos jovens), com os grupos mais tradicionais (Antigos mestres) que eram a Associação ( Dai-nihon Karate-do Shoto-kai ) dirigida por mestre Egami e Hironishi e os grupos universitários, dirigido por Obata.
Diante destas circunstâncias a Dai-nihon Karate-do Shoto-kai passa a ser NKS ou Nihon Karatê-do Shotokai (1956), fundada por mestre Funakoshi juntamente com diversos alunos, entre eles mestre Egami, Hironishi e Noguchi e a sua formação foi uma reação de mestre Funakoshi, contra a natureza de comercialização esportiva da NKK.
A 26 de Abril de 1957 morre O-Sensei, e a família decide que a NKS ficaria encarregada de organizar o funeral. Neste momento, a NKK não comparece. Tal fato desagradou sobremaneira a família de O'Sensei.
Nota: Segue a tradução em português do que foi relatado por Hironishi Sensei em seu livro Egami: Tsui So Roku , no início da página 23. A presente tradução não é autoritativa, gentilmente cedida por Jamie Byrne Sensei, aluno de Ikeda Sensei (Superintendente da Universidade de Chuo), mas traz à luz o que sempre ficou desconhecido no mundo do Karate, mormente por alguns detalhes.
- 26 de Abril de 1957 – Showa 32
“ As bandeiras de clubes de Karatê estavam sobre o esquife de Ginchin Sensei como um sinal de respeito ” Hironishi Sensei
"" Morreu o Sr. Funakoshi Ginchin!
Tivemos uma reunião de quem iria controlar o funeral. A reunião aconteceu próxima à casa de Ginchin Sensei. A reunião era entre a JKA (Japanese Karate Association, antiga NKK ) e a Shoto-kai.
A JKA falou:"Nós não iremos ao funeral a não ser que o controlemos".
O Sr. Egami e eu ficamos profundamente chocados com isto. Giei Sensei (filho de Ginchin) disse:"Nós (A Shoto-kai) controlaremos o funeral. Meu pai tinha três posições: foi Diretor do Shoto-kan, Presidente da Shoto-kai e Conselheiro Técnico para a JKA. O Shoto-kan se perdeu devido ao incêndio, assim a Shoto-kai organizará o funeral".
Então nós (Sr. Egami e Hironishi) apenas assessoramos Giei Sensei.
O Funeral era perto da casa de Ginchin e começava às 14h00. Eu (Hironishi) era encarregado do funeral.
O Sr. Egami tentou explicar o que Giei estava pensando para a JKA (ele era como um mensageiro). O Sr. Yanagisawa (representante de Chuo) assessorou o Sr. Egami.
Naquele momento a JKA era constituída por:Universidade de Kao, Universidade de Takushoku, Universidade Hosei. Estas universidades eram as mais famosas do Japão.
A Shoto-kai era constituída por:Universidade de Chuo, Universidade de Senshu,Universidade de Gakushiku, Universidade de Tokyo Noko, Universidade de Seijo. Estas Universidades vieram a existir após a Guerra. Elas (as Universidades que constituíam a Shoto-kai) não falaram muito (na reunião?) por que não estavam entendendo a situação.
A Universidade de Waseda não pertencia a grupo nenhum. O Clube de Karatê de Waseda estava de acordo com a decisão da JKA. Eles sempre geralmente participavam de quaisquer torneios feitos pela JKA. Mas o membro do Comitê Gestor da Universidade de Waseda era Oyama (também escrito Ohama). Ele concordou com a Shoto-kai. O Sr. Oyama veio de Okinawa e era um bom amigo de Funakoshi há muitos anos. Ele era também o diretor do clube de Karatê da Universidade de Waseda. Assim, a Universidade de Waseda não pode boicotar o funeral, por que Oyama era o Diretor.Mas a Universidade de Waseda era mais achegada para o lado da JKA. Mais tarde na realidade ela se uniu a JKA. O Sr. Oyama, o Sr. Egami e eu (Hironishi) éramos todos membros da Universidade de Waseda.
Assim quem irá controlar o funeral? Então a conversa prosseguiu indefinidamente. A opinião do Sr. Egami era boa; ele enfatizava o que Giei estava pensando. Giei era o segundo Presidente da Shoto-kai.Em conclusão, a JKA não estaria presente se eles não pudessem organizar o funeral. Então tivemos um jantar de Soba e Arroz. Depois da refeição, a reunião continuou por um longo tempo. Neste momento, pareceu impossível tentar compreender o lado das associações visto que as Universidades de Takushoku, Kao e Hosei, todas elas, tiraram as bandeiras de seus clubes de Karatê. As bandeiras de clubes de Karatê estavam sobre o esquife de Ginchin Sensei como um sinal de respeito.Disseram que o motivo era por que precisavam delas para outro lugar e era sete horas da noite. As pessoas tiveram que decidir por si mesmas se viriam ou não ao funeral. As 20h00 eu (Hironishi) estava surpreso que as pessoas não estavam pensando muito sobre vir para o funeral. Era simplesmente uma decisão apressada da parte delas.Elas estavam tomando decisões apressadas para que pudessem ir para casa. Uma coisa boa foi que elas decidiam bem claramente “sim” ou “não”, tal como deve um Karatê-ka.
Naquele dia na conferência somente um tópico foi bom para todo mundo e foi assim: A JKA tinha Ginchin como seu conselheiro técnico (ou pessoa mais importante), assim Ginchin Sensei não era somente presidente da Shoto-kai mas também conselheiro técnico da JKA (em outras palavras ele não é somente o seu chefe, ele é também o nosso chefe). Eu era o presidente do congresso assim eu não falei muito. Mas finalmente expliquei sobre a situação da JKA e a Shoto-kai. Eu resolvi as diferenças, eu (Hironishi) disse: "Não é permitido a JKA praticar o Taikyoku Kata. A JKA disse que Gigo Sensei criou este Kata, mas isto não é verdadeiro. Não foi somente Gigo mas também um grupo de Karate-ka de altas graduações que o criaram.O Sr. Kugimita (da Universidade de Takushoku) foi também um membro do grupo que o criou durante a Guerra.Ginchin publicou “Karatê-do Kyohan” durante a Guerra e o Taikyoku Kata foi incluído em seu livro. Em outras palavras foi feito por Ginchin e eu penso que é muito engraçado e muita dor de cabeça para a JKA porque não lhes é permitido praticarem este Kata".Eles deveriam permitir-se praticar o Taikyoku Kata por que Ginchin era o seu conselheiro técnico.Eu quero mencionar a esta altura, como uma opinião pessoal (não como presidente) que em Dezembro deste ano o Sr. Nakayama (chefe da JKA) me visitou e disse:"Venha para a JKA e junte-se a nós! "Sem pestanejar lhe respondi como se segue: "Vocês devem ir à família Funakoshi e se desculparem. Eu não me juntarei a JKA porque vocês não foram ao funeral de Funakoshi e por que vocês devem treinar o Taikyoku Kata o qual Ginchin criou. Se vocês fizerem estas coisas eu pensarei sobre isto depois".O Sr. Nakayama disse:"Você está certo o tempo inteiro, mas antes desta opinião você deve vir para a JKA e então negociaremos estas questões".Mais tarde o Taikyoku Kata era para ser praticado – mas eles não estão praticando agora. A JKA finalmente boicotou o funeral, eu (Hironishi) disse para Nakayama:"Você e eu somos os melhores amigos como homens técnicos do Karatê, estou certo de que você me compreende, por favor, pense sobre os seus pupilos. Pois o público pensa que eles boicotaram o funeral. Assim antes que você me peça para ir para a JKA você deve ir à família Funakoshi mesmo que você não queira, você deve lhes deve prestar uma visita de cortesia".Esta foi a última vez que eu vi Nakayama. A amizade acabou.Depois disto, a Universidade de Waseda se juntou a JKA. Antes que a Universidade de Waseda deixasse a Shoto-kai eles treinavam o Taikyoku Kata. Eles ainda o fazem. "" 

Existem diferenças entre o Shotokan Ortodoxo e o Shotokan esportivo ?
Definitivamente sim. Em todos os aspectos. O Shotokan Ortodoxo é o espelho de Mestre Funakoshi. Conservou-se e era composto pelos antigos mestres educadores das Universidades. Seu corpo de estudos é vastíssimo.
A NKK (atual JKA) foi de concepção do mais antigo aluno de mestre Funakoshi na época, Isao Obata. Mestre Funakoshi se tornou primeiro Instrutor Chefe e Kichinosuke Saigo seu Presidente. Sua direção era Shoto-kai.
Quando mestre Funakoshi identificou os caminhos que a NKK estava tomando em direção a esportivação, com modificações técnicas e mentais, refundou a Shoto-kai, fortemente ligada ao Budo.
Com isto, a NKK parou de receber instruções. Foi cortada a cadeia de transmissão. Esta por sua vez, aguardou a morte de O´Sensei e então iniciou as competições. Evidentemente que com o brilhantismo de competições, apareceram os "estrelismos" dos grandes campeões... Tudo ao contrário do que mestre Funakoshi queria.
Assim como no ditado, quem é visto é lembrado, instaurou-se uma cultura de honrarias à campeões. Lamentavelmente, direcionando para a própria extinção do Budo.
Vê-se claramente que o que os antigos mestres alertaram é o que hoje se cumpre, pois a arte é implacável para quem quer andar em dois trilhos, em três trilhos, ou em trilhos que a arte não foi designada para andar. Quem tem entendimento que compreenda bem o que se fala aqui.
As diferenças entre os dois Shotokan em termos técnicos talvez residam realmente ao enfoque que é dado a determinadas execuções, às posturas "Dachi" (ex. Ko-Kutsu) são pouco mais baixas no Shotokan ortodoxo e os métodos de treinamentos. Os Kata não sofreram modificações ao longo dos tempos se conservando a forma antiga dos mesmos. O Shotokan ortodoxo é uma prática muito mais solta (não-contraída) trabalhando com equilíbrio, pés e mãos. Muita agilidade nos deslocamentos os quais são bem pronunciados. O guedan-barai como bloqueio é especialmente devastador. O corpo em si é visto com total liberdade de movimentação. Aqui no Brasil, os treinos eram bem puxados e não raras as vezes tinha hora para iniciar mas não para acabar adentrando madrugadas...
Na cidade de São Paulo a linhagem continua e devota-se a prática com regularidade. Não estão afiliados a nenhuma organização produzindo um trabalho independente com integrações familiares. Não se envolvem com práticas esportivas.
Nota: Todas as informações disponibilizadas fazem parte de um acervo de pesquisas e testemunhos coletados dentro da esfera Shotokai e outras colaborações ao longo de muitos anos. Nossas fontes são de altíssima confiabilidade. Contudo materiais históricos estão sempre sujeitos a alterações em prol de novas descobertas e informações. AKSER Brasil

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Hara ( O Centro )

(resumo do texto original)
Para o japonês o centro, a alma do indivíduo está em sua barriga. Por esta razão quando alguém no passado queria se livrar de uma grande culpa, ou demonstrar coragem, ou uma ultima demonstração de lealdade fazia o “ hara kiri” (cortar o abdomen). O “ Hara”, tem seus componentes físicos bem como os de origem emocional. O “ Rikishi”, o lutador de Sumo, que representa o protótipo somático ideal dos heróis japoneses possui as pernas grossas, os ombros caídos, e um centro massivo, similar a forma de uma pirâmide. Este modelo é copiado por todas as artes japonesas , cujos praticantes procuram mover-se a partir dos quadris, de seus “ Hara ", que representam as bases universais para seus deslocamentos e origem de suas forças. O sucesso do lutador de Sumo depende de sua capacidade em manter o corpo centrado e liderar o centro de seu oponente. De certa forma todos os caminhos marciais japoneses estão alicerçados nesta idéia, e assim todos respeitam o conceito de “ Hara ”, sendo que desta forma, o treinamento das artes marciais japonesas passa invariavelmente pelo controle, e por seu fortalecimento explorando a força dos quadris e da cintura
Especificamente o aikidoista, e o praticante de Judo, Karatê-Dô e outras artes marciais japonesas, colocam toda sua percepção de equilíbrio, controle da respiração, e da gravidade em um lugar alguns centímetros abaixo do umbigo. Este é o “centro”. No pensamento japonês o “ Hara” , é um meio de comunicação, uma forma não verbal de transmitir os sentimentos, as motivações e as intenções. Ele é o radar do artista marcial, que “ pensa” com seu " Hara ", e lá absorve as informações que chegam, e é capaz inclusive de influenciar outras pessoas com ele.
Os seres humanos são todos iguais, tirando a cor da pele e a aparência externa e assim sentimos todos as mesmas coisas. O que ocorreu no Japão foi que se observou a importância desta parte do corpo que fica em nossa barriga, muito mais do que à cabeça, como fizemos aqui no Ocidente. Deste enfoque, basicamente se pode compreender toda a evolução e da cultura do Ocidente e do Oriente. Uma esboça soluções geniais, porem localizadas, incompletas, que a longo prazo acabam trazendo distorções. A outra, parte desde o principio, de idéias integradas com o Todo e portando duradouras. No mundo moderno em que vivemos nem sempre podemos resolver tudo com o “ Hara”, temos que trabalhar com computadores, fazer contas, resolver problemas matemáticos, mas não podemos esquecer, para que possamos ser felizes e integrados, de que tudo o que fizermos deverá estar em harmonia dentro de nosso grande centro, que conduz nossos sentimentos, atitudes mentais integradas e a vitalidade de nossa vida psicológica. É basicamente isto que as Artes Marciais japonesas que possuem o sufixo “ Dô “ , como Judô (tradicional), Kendo, Kyudo, Iaido, Aikido e Karate-Do (tradicional) querem ensinar atraves de suas técnicas. (Instituto Takemussu Brazil )

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O que é Budô. LEIA E ENTENDA O SEU REAL SIGNIFICADO ( p/ Morihei Ueshiba, fundador do Aikido, foi amigo pessoal de Gichin Funakoshi ).

( resumo do texto original )

” ......Quando um inimigo tenta lutar comigo, o universo em mim mesmo, ele terá que quebrar a harmonia do universo. No momento em que ele se decidir lutar comigo, já estará derrotado. Não existindo medida de tempo -- rapidamente ou devagar. Aikido é a não resistência. Como é não resistente, sempre é vitorioso.
Aqueles que possuem uma mente perversa, uma mente em discórdia, já foram derrotados desde o começo (da luta).Então, como se pode endireitar uma mente pervertida, purificar seu coração e harmonizar-se com as ações de todas as coisas da Natureza? Primeiro você deveria fazer do coração de Deus, seu próprio. É o Grande Amor, onipresente em todos os lugares e épocas do universo. "Não há discórdia no amor. Não há inimigos no amor". Uma mente em discórdia, pensando somente na existência de inimigos, não está de acordo com o desejo de Deus. Aqueles que não concordam com isso, não podem estar em harmonia com o universo. Seu budô é o da destruição e não um budô construtivo.
Por isso, para competir nas técnicas, perdendo e ganhando, não é o budô verdadeiro. O budô verdadeiro não conhece derrotas. "Nunca ser derrotado", significa "nunca lutar". Ganhar, significa vencer sobre a mente em discórdia em você mesmo. Isso é para alcançar o fim de sua missão. Isso não é mera teoria. Pratique isso. Só então você irá aceitar o grande poder da união com a natureza.
Não olha para os olhos de seu oponente, ou sua mente será atraída para os olhos dele. Não olhe para a espada dele, ou será retalhado com sua espada. Não olhe para ele ou seu espírito será distraído. O verdadeiro budô é o cultivar da atração com a qual trará o oponente todo até você. Tudo o que devo fazer é manter-me dessa maneira. Mesmo estando de costas para meu oponente já será suficiente.
Você estará se equivocando se pensa que budô significa ter oponentes e inimigos e ser forte e derrotá-los. Não existem nem oponentes nem inimigos para o verdadeiro budô. O verdadeiro budô é ser unido com o universo, isto é, estar em união com o “Centro” do universo. Uma mente para servir para a paz de todos os seres humanos no mundo é necessária e não a mente de quem deseja ser forte ou que pratica somente para derrubar seu oponente.
Quando alguém me pergunta se meus princípios de budô são tirados da religião, eu digo "Não". Meus princípios de budô iluminam as religiões e as levam a ser completas. O verdadeiro budô é um trabalho de amor. É um trabalho onde se dá vida a todos os seres, e não matar ou brigar entre si. O amor é o deus guardião de tudo. Nada pode existir sem ele......
Eu não faço do homem meu companheiro, então a quem eu faço de companheiro? "Deus". Esse mundo não está indo bem porque cada indivíduo faz de companheiro outro indivíduo, dizendo e fazendo tolices. Seres bons e maus são uma única família unida neste mundo....Com essa atração de nosso espírito, nós avançamos à frente em nossa vida, tentando comandar uma visão mais ampla do mundo. Rezamos incessantemente para que os combates não ocorram. Por essa razão proibimos terminantemente a competição no Aikido. Entenda o Aikido primeiramente como budô e depois como um “Caminho” para servir e construir uma Família Mundial.
O verdadeiro budô é a proteção amorosa de todos os seres, com um espírito de reconciliação. Reconciliação significa permitir o cumprimento da missão de cada um. O "Caminho" quer dizer ser um só com o Desejo Divino e praticá-lo. Se estamos um pouco fora disso, não será mais o “Caminho”.
Sem o budô, uma nação cairá em ruínas, porque budô é a vida protegida pelo amor e a fonte das atividades científicas. Aqueles que procuram estudar o Aikido devem abrir suas mentes, ouvir à sinceridade de Deus através do Aiki e da prática dele. Deve-se entender a grande pureza do Aiki, pratique-a e progrida sem obstáculos. Inicie o cultivo de seu espírito voluntariamente. Quero que pessoas prudentes escutem a voz do Aikido. Não é para corrigir a outras pessoas; é para corrigir sua própria mente. Isso é Aikido. Essa é a missão do Aikido e essa deveria ser sua missão.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Onde tudo começou!


Shotokan Dojo de O'Sensei
( 1936 - 1945 )

sábado, 17 de janeiro de 2009

" Conversações com Masatoshi Nakayama "

-( Resumo do original ).

Esse texto foi encontrado em uma velha apostila e gentilmente digitado pelo Sensei Cesar Estivales.

Traduções:

Quando comecei estas traduções, esperava que pudesse apenas buscar informações sobre meu trabalho, mas à medida que lia, sentia uma necessidade profunda de mudar. Mudar minha visão do KARATE, minha visão sobre a vida. Conhecendo um pouco deste grande líder e de seu mestre, o prof. Funakoshi, será possível ao leitor rever seus pensamentos sobre o verdadeiro caminho das mãos vazias. Espero que esse empreendimento que hora começamos, dê um alento e faça ressurgir o sentido de autoconhecimento; o verdadeiro KARATE-DO. " Johannes Carl Freiberg Neto ".


Introdução

É necessário apresentar Masatoshi Nakayama somente para aqueles que nunca se envolveram com os treinamentos de KARATE. No âmbito mundial, seu nome é tão familiar quanto o nome de D. Pedro I é para as crianças das escolas brasileiras. Então para aqueles leitores que não são artistas marciais é necessário dizer que Masatoshi Nakayama foi o Grande Mestre da Associação Japonesa de KARATE (JKA), a maior e mais poderosa organização de KARATE. Foi sob a orientação direta de Funakoshi que Nakayama aprendeu KARATE. Observar este pequeno homem (Nakayama tinha exatos 1,65m) praticando seu KARATE era observar a incorporação das idéias que ele construiu com profundidade. No dojo de Yutaka Uaguchi em Denver, Colorado, aos 69 anos de idade, Nakayama tirou sua parte de cima do kimono para mostrar aos faixas pretas quais músculos deveriam ser usados em várias técnicas. Uma estudante, enfermeira de aproximadamente, 30 anos, comentou: “em minha experiência de enfermeira eu vi um grande número de físicos de 70 anos, mas a primeira vez que vejo alguém nesta idade com um corpo de 35 anos”.Na verdade, Masatoshi Nakayama em suas roupas normais aparentava uns 50 anos, em seu kimono, passando entre os jovens faixas pretas em meio aos chutes e socos, aparentava menos.O mais alto estágio do KARATE-DO, ele disse, é transcender o corpo e a mente, um estado no qual a mente e o corpo movem-se livremente e suavemente, independentemente da idade ou da condição física. Ainda que ele fosse relutante em admitir isto, os seguidores de Nakayama acreditam que ele tinha alcançado este estado e se movia para além dele. “Ele não era um homem comum” disse um instrutor.Para provar, seus seguidores lembram que Nakayama, também um professor de esqui, graduado, foi completamente esmagado numa avalanche enquanto esquiava nos Alpes japoneses em fevereiro de 1971. Os médicos o deram por morto e sua família foi chamada a permanecer junto ao leito aguardando o momento final. Não haveria possibilidades, disseram os médicos, de um homem naquela idade sobreviver à catástrofe.Ao invés de morrer, entretanto, Nakayama levantou-se poucos dias depois e disse que estava com fome. Bem, O.K., admitiram os médicos, ele deverá viver, mas ele jamais andará novamente. Quando ele deixou o hospital quatro meses mais tarde e reassumiu seus treinamentos no Dojo Central da JKA, os doutores, assim como muitos de seus muitos estudantes, ficaram atônitos sem acreditar. “Há alguma coisa de especial sobre ele”, um doutor disse. E só posso atribuir sua recuperação à extraordinária condição física ou talvez a um milagre.Mas ao ouvir isto Masatoshi Nakayama disse que não era um milagre e que não era ninguém especial: “KARATE-DO é alcançado um passo a cada tempo, e isto a vida inteira. Apenas treinar todos os dias e tentar ser melhor, e a verdade virá para você.”

CONVERSAÇÕES COM MESTRE NAKAYAMA

1. HASSEL - Sensei, talvez nós devêssemos começar com suas primeiras lembranças de sua vida e sua família.

NAKAYAMA - Minha família foi por muitas gerações uma família de instrutores de lança. Eles eram samurais ligados ao famoso clã Sanada, e eles continuaram ensinando a lancear até a época de meu pai. Meu avô foi o último da linhagem a ensinar a lança e meu pai estudou judô. Como um homem jovem, ele entrou para o exército e eventualmente tornou-se doutor com um grau de coronel.Eu nasci em 1913 e porque meu pai estava posicionado em Taiwan, eu ocupei uma grande parte de minha educação básica numa escola em Taipei, Taiwan.

2. HASSEL - Quanto seu pai influenciou em sua prática das artes marciais?

NAKAYAMA - Eu diria que sua influência foi mais de forma geral do que de forma específica. Ele era o que chamaríamos hoje de estritamente disciplinador.Naqueles dias, minha mãe, como outras mães, eram largamente responsáveis pela educação das crianças, e ela era muito boa em suas obrigações comigo e com meus irmãos mais novos. Mas algumas vezes nós saiamos da linha e meu pai ali estava para nos mostrar como sermos homens. Por um instante, em particular, bate em minha mente um desses dias.Tanto quanto eu possa me lembrar em tinha 8 anos de idade e freqüentava o 1° ano da escola na China. Desde que eu era o mais velho, era minha responsabilidade olhar por meu irmão mais novo enquanto nós íamos para a escola e de sua volta. Ao longo do caminho para a escola, havia um grande campo usado para treinamentos militares e nós estávamos proibidos de subir a cerca e entrar nesta área. Mas, como muitas crianças, eu não pude resistir à tentação de passar para o outro lado e explorar o campo.O campo era coberto por um grande número de buracos e crateras, e isto era muito sedutor para uma criança de 8 anos de idade explorar. Então sem pedir licença, eu levei meu irmão mais jovem para explorar o campo um dia. Havia toda espécie de construções e armamentos ao redor, e nós tínhamos um enorme e maravilhoso tempo para explorar isto tudo. Mas o tempo escapou de nós, e ficou muito escuro. Não era só isto, eu percebi que estávamos perdidos.Nós vagamos ao redor do campo por horas, tentando encontrar o caminho da saída. Além de cairmos em vários buracos no escuro, o lugar também estava repleto de raposas e enormes ratos que quase nos mataram de susto. Finalmente meu pai, que era um homem muito preocupado naquela época, enviou muitos soldados a nos procurar.Acabamos voltando para casa ao redor de meia noite, e eu sabia que tinha sido um grande incômodo. Meu pai me disse que eu tinha seriamente negligenciado minha grande responsabilidade de olhar por meu irmão. Isto, acoplado com o fato de ter deliberadamente desobedecido, deixou-me profundamente triste. Ao invés de me bater e mandar-me para a cama, ele me disse que ficasse do lado de fora da casa até as três horas da manhã e meditasse sobre todo incomodo que tinha causado. Isto aconteceu em meio ao inverno, então eu permaneci lá fora no frio, humilhado e perturbado com a mágoa e a angústia que tinha causado aos meus parentes.Esta experiência teve um profundo efeito em mim, para dizer no mínimo, e eu penso nisto até hoje quando vou fazer qualquer coisa sob impulso. Isto pode ser colocado numa melhor perspectiva considerando que quando eu nasci em Tóquio, nós ainda usávamos o tradicional kimono e gueta. Minha família era puro samurai, e as coisas eram feitas diferentemente. Minha mãe nos criaria até a idade em que meu pai nos ensinaria como nos tornarmos homens – homens samurais.

3. HASSEL - O Sr. Estudou artes marciais em sua infância?

NAKAYAMA - Sim, estudei KENDO na escola secundária e no terceiro grau. Alguns de meus anos de alfabetização foram passados em Taipei, Taiwan, e nestes dias eu nadava sempre, jogava tênis, comecei a esquiar, e corri trilha. E era muito atlético. Na escola secundária, eu me concentrei no esqui e KENDO. Meus treinamentos de KENDO continuaram certos até meu ingresso na Universidade de Takushoku, e anos mais tarde.

4. HASSEL - O que o Sr. Estudou na Universidade Takushoku?

NAKAYAMA - Bem, será interessante voltar aos fatos que me levaram para a Universidade em primeiro lugar, e como sai, foi muito afortunado para mim, porque foi onde eu pela primeira vez vi o KARATE e conheci Mestre Funakoshi.Como eu mencionei, minha família tinha sido de instrutores de lança até os tempos de meu avô Naomichi. Até aquele tempo nos tínhamos servido ao clã Sanada de Ueda Prefeitura de Shimano. Mas meu avô mudou-se para Tóquio e tornou-se sargento. Meu pai Naotoshi, seguiu os passos de seu pai e tornou-se sargento também, e esperava de mim que fosse para a medicina. Então, depois de me graduar na escola superior de Kanazawa, Ishikawa prefeitura, preparei-me para entrar na universidade de Hineji, prefeitura de Hyogo.Enquanto eu estava lá, um incidente ocorreu na Manchúria, e nós fomos todos recomendados a fazer leituras sobre a cultura da Manchúria e da Mongólia, e isto estimulou uma vontade que eu sempre tive de visitar este belo e vasto país. Eu desejava muito ir para a China que, contra a vontade e o conhecimento de meu pai, secretamente fiz os exames para medicina na Universidade de Takushoku. (Takushoku literalmente significa cultivação e colonização, tendo sido fundado em 1900 com o propósito específico de treinar pessoas para trabalhar no além mar).No momento em que entrei na universidade, eu estava bem preparado no KENDO, tendo praticado por mais de 5 anos. Então, quando eu cheguei à Universidade de Takushoku, eu imediatamente chequei a cédula para ver onde ficava o clube de KENDO. Mas eu li mal a cédula, e quando eu cheguei ao dojo, havia um punhado de homens em uniformes brancos praticando alguns estranhos movimentos como de dança. Um deles, um homem alto de aproximadamente 1,85m, assustou-me com repetidos pulos e chutando o teto com a bola do pé. Ele veio e me disse que estavam praticando KARATE, e se eu gostasse do que via, poderia tênar na próxima sessão.Eu tinha lido alguma coisa sobre KARATE nos jornais, mas sabia muito pouco sobre isto, então decidi sentar-me e ver um pouco. Dali a pouco, um homem de idade veio para dentro do dojo e começou a instruir os alunos. Era extremamente amável e sorria a todos, mas não havia dúvidas que ele era o chefe instrutor. Naquele dia tive meu vislumbre pelo Mestre Funakoshi e pelo KARATE. Decidi que realmente faria e que tentaria o KARATE na próxima aula porque, com todo meu background de KENDO, seria fácil.Já na próxima aula, duas coisas aconteceram que mudaram minha vida: Primeiro, eu esqueci completamente o KENDO, e segundo, eu descobri que as técnicas do KARATE não eram tão fáceis de fazer. Deste dia em diante, eu nunca mais esqueci o sentimento inerente de buscar a maestria nas técnicas do KARATE-DO.

5. HASSEL - Há muitas pessoas que começaram naquela época, ainda em atividade?

NAKAYAMA - Desafortunadamente, ninguém deste período está em atividade. Muitos deles passaram alguns anos, que me recordo, treinando com Kunio Endo e Koji Matsumoto de grande habilidade. Mas agora todos já se foram; e eu estou só.

6. HASSEL - O que eram seus treinos sob os cuidados de Mestre Funakoshi?

NAKAYAMA - As sessões de treino com Mestre Funakoshi eram severas e inflexíveis. Durante as sessões na universidade, Funakoshi Sensei levava-nos a executar técnicas e mais técnicas, centenas de vezes cada. Quando ele selecionava um KATA para nós praticarmos, nos repetíamos por 50 ou 60 vezes, e isto era sempre seguido por intensa prática de makiwava. Nós deveríamos socar até nossas frentes de mão sangrarem. Mestre Funakoshi mesmo apreciava golpear o makiwara, e posso vivamente lembrar dele batendo como que 1000 vezes com seus cotovelos. Os treinamentos eram tão cansativos que dos 60 novatos que começaram em 1932 junto comigo, somente 6 ou 7 de nós chegou ao final dos 6 meses de treino. O resto desistiu.

7. HASSEL- Naqueles dias, todos usava kimonos brancos como hoje?

NAKAYAMA- Naquele período , sim, mas não originalmente, claro. O Gi que usamos hoje, foi desenhado pelo Mestre Funakoshi depois que ele foi para o Japão. Em Okinawa, os estudantes vestiam uma versão de kimono tradicional, mas o traje era dividido nas pernas para permitir maior movimento. Este traje era chamado Hakama, e ainda pode ser visto no Japão de hoje. Mas o Japão em 1922 estava ainda preso a uma estreita estrutura social na qual diferentes níveis sociais vestiam diferentes trajes.No topo da estrutura estavam os samurais, seguido em ordem, pelos fazendeiros, os artesões e os mercadores. O que o Mestre Funakoshi primeiro projetou foi um uniforme para a prática do KARATE que pudesse ser usado por qualquer pessoa, independente de sua classe ou posição social.Depois de experimentar um pouco e fazer suas conclusões, ele veio com o uniforme que era a combinação do judô-gi e o tradicional Hakama, e é este uniforme que usamos até hoje. Também, a cor branca para simbolizar pureza nas intenções da pessoa que a usa, e servindo para erradicar a distinção entre as classes.

8. HASSEL - O que o Sr. Diria que é de maior significância na diferença entre os treinamentos de hoje e seus treinamentos sob a orientação de Mestre Funakoshi à muitos anos atrás? Quanto mudou as técnicas desde aquela época?

NAKAYAMA - Os princípios técnicos ensinados na JKA hoje são os mesmos daqueles do Mestre Funakoshi em seus dias. Os métodos usados para explicar e desenvolver estes princípios têm mudado naturalmente. Quando Mestre Funakoshi veio para o Japão e então começou a ensinar minha geração, o único método usado era o KATA.O KATA era introduzido imediatamente nos treinamentos, e nós praticávamos continuamente. Quando nós tínhamos uma idéia básica de como os movimentos deveria ser executados, nós faríamos frente a frente, executando ataques e defesas baseados nos movimentos dos KATAS. Muitas coisas eram baseadas nos movimentos dos KATAS e as aplicações destes movimentos eram acompanhadas de ataques verdadeiros. Estes treinos eram muito difíceis e realísticos, e eu me lembro de muitas noites quando eu nem podia dormir porque meus braços e pulsos estavam cheios de hematomas de centenas de fortes repetições de um tipo particular de bloqueio de um KATA.Como já mencionei, nenhum de meus seniores vive hoje, mas eles sabiam somente KATAS; era a única forma que Mestre Funakoshi ensinou-lhes, mas em minha geração, as coisas começaram a mudar. O povo de minha geração foi convidado a estudar artes marciais no início da escola (fase de alfabetização), e continuaram até o nível de graduação do colegial. KARATE não era ensinado nas escolas daquele tempo, então todos tinham estudado JUDO ou KENDO. Eu comecei KENDO na época da escola gramatical, por exemplo, e meus amigos também tinham praticado por um longo tempo. Mas JUDO e KENDO eram embasados no combate arremessando o oponente ou golpeando-o com a espada. Então, a idéia de combate estava profundamente enraizada em nós, e realmente precisávamos do aspecto combativo da qual o KARATE estava profundamente carente. Mestre Funakoshi entendeu isto e começou a mudar seus métodos de ensino para melhor atender as jovens gerações. Nós precisávamos mais que apenas KATA todo o tempo. E ele percebeu que coisas deveriam ser mudadas se ele quisesse atrair os jovens e ver sua arte crescer. Então, ele tomou técnicas dos KATAS e começou ensinando GOHON-KUMITE (5 passos com sparring) baseado em técnicas individuais do KATA.Nós deveríamos caminhar 5 vezes com o mesmo ataque enquanto o defensor bloqueava. Então o defensor poderia contra-atacar. Mas nós tínhamos um alto espírito, e se o defensor não contra atacasse imediatamente, nós poderíamos atacá-lo novamente, e ele seria forçado a improvisar uma defesa e tentar contra golpear novamente. Estas ações tornaram-se as bases para o free-sparring (luta livre). Era natural o crescimento do espírito dos jovens praticando uns com os outros.Pouco depois disso, nós começamos KIHON-IPPON-KUMITE, ou 1 passo de combate. Neste método, o atacante poderia anunciar a área do alvo, rosto ou estômago, e eles executariam com força, com uma técnica decisiva. O defensor tinha somente uma chance para fazer a correta defesa e contra golpear eficazmente. Isto muito de acordo com a filosofia das artes marciais que se resolve no conceito que não há segunda chance. Muitas coisas devem ser feitas corretamente na primeira vez, ou a pessoa morre. Nós não estávamos tentando matar uns aos outros, claro, mas nós estávamos tentando executar aquela que, seria a técnica perfeita com a qual poderíamos parar um oponente numa situação real de luta. O natural desenvolvimento deste tipo de treinamento era o JYU-IJPPON-KUMITE (o combate com um único golpe), na qual o defensor sabia qual a área seria atacada, mas no qual o atacante poderia movimentar-se livremente de posição e distância. A coisa mais significante sobre isto é que pela primeira vez o KARATE tinha sido ensinado de forma diferente daquela da aplicação dos movimentos de defesa pessoal do KATA, e com um sistema completo de KUMITE (luta livre) num único conjunto, em 5 anos de trabalho.Quando Mestre Funakoshi publicou o KARATE DO KYOHAN em 1936, ele incluiu os métodos básicos de sparring no livro, e foi à primeira vez que se marcou esta nova idéia introduzindo-a para o público em geral.Também neste período veio a idéia da prática de cada técnica em particular, como nós a conhecemos hoje (KIHON). Mestre Funakoshi entendeu que nós deveríamos praticar cada técnica independentemente para desenvolver o sentimento do IKKEN HITATSU (parar o oponente com um único golpe) no combate. Assim começamos a praticar cada técnica isoladamente, caminhando para frente e para trás no tablado de treino, repetindo as técnicas muitas vezes. Este hoje é o método fundamental de treinamento. Durante meus primeiros anos no colégio, os treinamentos de KARATE eram divididos em três aspectos como hoje – KIHON, KATA e KUMITE.Eu comecei a treinar em 1932, e o KUMITE básico foi introduzido em 1933. Em 1934, JYU-IPPON-KUMITE era introduzido, e o JYU-KUMITE iniciou em 1935.Em novembro de 1936, nós formamos o All Japan Collegiate Karatê Union e demos uma demonstração no Centro Cívico de Tóquio. Foi a primeira vez na história. Nós demonstramos ao público os novos métodos de treinamento de KUMITE, e mostramos como os estudantes progrediram no 5-passos para o 1-passo, então para o semilivre e finalmente para o combate livre.Neste tempo, nós não tínhamos um dojo. Mestre Funakoshi ensinava nas escolas, e para grupos privados de companhias e no Tóquio Bar Association. Um grupo nosso, entretanto, queria mais treinamentos que só os da escola, então íamos juntos à noite para a casa de Mestre Funakoshi para mais treinamentos.Na Universidade, nós treinávamos por 2 horas no período do almoço, e íamos para a casa do Mestre para mais 3 horas de treinamento à noite. Em sua casa havia uma varanda de madeira estreita. Enquanto nós treinávamos, Mestre Funakoshi e seu filho, Yoshitaka, permaneciam sentados no chão no fim da área e nos ensinavam. Era uma velha forma de se ensinar e era, acredito, a maneira com a qual Sensei poderia ficar mais profundamente concentrado nos movimentos dos estudantes. De tempos em tempos, Mestre Funakoshi levantava-se e demonstrava as técnicas ou explicava um ponto específico, e então se sentava novamente. Eu me lembro dele sentado ali com seu corpo reto e firme, e poderia permanecer ali naquela posição por 3 horas, movendo-se somente quando queira nos mostrar algum detalhe. O deck da casa do Mestre Funakoshi era tão pequeno que só alguns de nós poderiam praticar ao mesmo tempo, e desde que nós treinávamos até ficar escuro, era freqüente nos chocarmos.Naturalmente, naquela época, Mestre Funakoshi não era um homem de posses, então todos os estudantes se juntavam e colaboravam com dinheiro e doávamos ao Mestre para que pudesse ter uma condição melhor, e ajudá-lo em sua grande tarefa.

9. HASSEL - É bem sabido que Mestre Funakoshi escreveu o primeiro livro de KARATE, KARATE DO KYOHAN, e que ele mudou os caracteres de KARATE do antigo significado de Mãos Chinesas para Mãos Vazias. Como estas ações foram recebidas pelo grupo ligado ao KARATE e ao público em geral?

NAKAYAMA - Bem, os caracteres do KARATE tinham começado a ficarem bem conhecidos no início de 1930, mas ainda eram lidos como “Mãos Chinesas”. Em 1935, Mestre Funakoshi escreveu KARATE DO KYOHAN e propôs que os caracteres deveriam ser mudados para “Mãos Vazias” para melhor refletir a natureza do KARATE como uma arte Japonesa. Mais importante ainda, ele também propôs que KARATE-JUTSU, a técnica de KARATE, ser mudado para KARATE-DO, KARATE COMO UM CAMINHO DE VIDA. Isto causou um tremendo tumulto no meio dos mais velhos, os tradicionais mestres de KARATE de Okinawa daquela época, e eles se posicionaram fortemente a ele nos jornais. Eles queiram saber porque ele queria remover o KARATE de Okinawa e das raízes Chinesas. Ele respondeu a eles de maneira interessante. Ele disse, com efeito, que desde que o KARATE tinha se expandido para a ilha japonesa e sido aceito pela inteligência no Japão, ele tinha deixado de ser uma arte marcial local de Okinawa. Ele disse que tinha crescido para proporções universais sua aceitação, e deveria ser elevada a um status igual ao do KENDO, a mais antiga arte marcial japonesa, e JUDO, que era muito popular. O caractere que ele usou para KARA do budismo tradicional e também pronunciado “KU”, que significa “vácuo”, ou “vazio” e significa o universo.Por 2 anos, cartas e artigos foram trocados entre Mestre Funakoshi e os jornais de Okinawa, e assim foi como ele me mostraria novos artigos todos os dias. Ele pacientemente respondia todas elas para eles, e finalmente os antigos mestres abriram seus olhos e se orgulharam de terem contribuído com a maior arte marcial do Japão.

10. HASSEL - Foi nesta época que o Mestre Funakoshi abriu seu primeiro dojo para o público. Como isso veio a ser?

NAKAYAMA - Seu primeiro dojo foi construído no ano seguinte à minha graduação na Universidade de Takushoku, e foi construída através dos esforços de seus estudantes. O mais antigo deles era Kichinosuke Saigo, um famoso político no Japão, Mr. Saigo organizou um comitê para solicitar donativos para a construção do dojo em 1938. Isto marcou a construção do primeiro dojo no Japão.

11. HASSEL - Foi um sucesso e bem recebido pelo povo japonês o dojo?

NAKAYAMA - Minha impressão é que o desenvolvimento do KARATE SHOTOKAN seguiu um especial e bem afortunado caminho. Todos os primeiros esforços do Mestre Funakoshi foram dirigidos para ensinar a inteligência no Japão – doutores, advogados, escolares e artistas. Estas pessoas acataram a arte muito seriamente e com alto grau de consideração. Eles estudaram muito e tornaram-se muito bons, e formaram um grande grupo de elite a partir dos seniores para representar o KARATE-DO de Mestre Funakoshi. Então, quando o dojo foi aberto ao público, este tinha a impressão já formada de que o KARATE era uma arte de virtuosismo e importante para as pessoas.Estes seniores não ensinavam ao público em geral, e eu penso que isto serviu para mantê-los em grupo e aparte dos olhos do público como um grupo especial e importante para o KARATE. Após mantê-los separados do público em geral, Mestre Funakoshi foi capaz de prepará-los com uma forte base – um importante grupo de pessoas aos olhos do povo, rigorosamente embasados nas técnicas e filosofias do KARATE-DO. Os estudantes em geral que vinham para treinar desta maneira tinham um alto ideal para vislumbrar, e nós sempre os encorajávamos a imitar os alunos mais velhos do Mestre. Isto realmente ajudou a configurar o KARATE SHOTOKAN e parte dos outros estilos para o público em geral, e não há dúvidas que foi o fator de maior contribuição no desenvolvimento de nossa grande organização internacional.

12. HASSEL - Já que estamos neste assunto, aproximadamente quantos membros há na JKA mundial hoje? (1982)

NAKAYAMA- Difícil para eu dizer, porque encabeço o lado técnico da organização e eu não sou um administrador. E devo confessar que eu não deveria meter-me sem saber o número exato, mas eu posso dizer que temos provavelmente 10 milhões de registros desde que nós começamos a fazer os registros. Naturalmente, difícil dizer quantos destes estão ativamente treinando neste exato momento. O número pode varias de 2 a 6 milhões, e há também aqueles que estão nas escolas e universidades, e ainda os muitos que apesar de estarem começando ainda não têm seu registro na JKA. Entretanto o que eu poso lhe dizer com certeza é que a organização está ativa e bem de saúde em todo o mundo, e temos milhares de membros.

13. HASSEL - Sensei, o Sr. Obviamente é o centro do mais importante período na história do desenvolvimento do KARATE no Japão. Como o sistema completo que nós usamos hoje é comparado ao sistema então em costume, e quanto distantes nos movemos dos métodos do professor Funakoshi?

NAKAYAMA- Durante os anos que estava no colégio, Mestre Funakoshi desenvolveu e sistematizou o estilo de KARATE SHOTOKAN dentro de áreas básicas no treinamento – KIHON, que é psiquicamente o treino dos fundamentos, KATA, que é o exercício formal; e KUMITE, que é o combate. Ele dizia que estas três áreas são uma só e que não podem ser separadas. Mas elas são as bases teóricas para o KARATE como arte, e elas deitam as fundações para pesquisarmos sistematicamente nossas técnicas e tentar fazê-las forte. Hoje, a JKA segue exatamente os métodos do Mestre Funakoshi. Nós fazemos pesquisas constantemente para tentar encontrar caminhos para fazer o corpo forte e as técnicas fortes, mas nós seguimos os métodos do Mestre Funakoshi exatos.

14. HASSEL - Têm estas pesquisas levadas a grandes mudanças técnicas?

NAKAYAMA - Nós não mudamos um simples princípio básico em todos estes anos. O que nós temos encontrado através de nossas pesquisas é que, no todo, os princípios básicos de Mestre Funakoshi são corretos, fortes, e válidos à luz das evidências científicas. Quando eu digo que deve haver mudanças, quero dizer que com o advento dos torneios, nós temos que encontrar a maneira de mudar para que as técnicas possam ser usadas em competição.Mas bases são bases, e nós não devemos mudá-las. Muitos indivíduos têm iniciado mudanças, mas suas atitudes são erradas e inaceitáveis. Muitos, por exemplo, têm criado uma noção errada que competição é tudo, e só treinam com o propósito de vencer a competição. Isto está absolutamente errado. O KARATE de Mestre Funakoshi se baseia no desenvolvimento de fortes bases técnicas primeiro, através do KIHON e KATA, e usa o KUMITE para testar as técnicas uns com os outros. Nenhuma outra idéia é tida como parte deste princípio.Veja, antes de Mestre Funakoshi morrer, eu comecei a pesquisar a idéia de desenvolver torneios, ou – KARATE esporte -. Mas quando eu perguntei ao Mestre Funakoshi sua opinião, ele se recusou a comentar. Ele estava preocupado, veja você, que se os conceitos de torneio se tornassem muito populares, então os estudantes poderiam abandonar os princípios básicos e praticar somente para as competições. Ele sabia que nós teríamos as competições e que seriam importantes para a internacionalização do KARATE, mas ele queria isto claramente entendido, que a coisa mais importante seria sempre o treinamento básico. Por isso que enquanto tenho sido o Instrutor da Japan Karatê Association, o treinamento tem sido sempre centrado ao redor dos princípios básicos do Mestre Funakoshi, KIHON, KATA e KUMTIE. Fortes bases primeiro, torneios depois.

15. HASSEL - Sensei, antes de mudarmos para as questões filosóficas, poderia nos contar sobre suas experiências na China, e como elas influenciaram em seus treinamentos de KARATE?

NAKAYAMA - Sim. Eu gastei grande parte de meu tempo na China, e minhas experiências lá influenciaram fortemente meus pensamentos sobre as artes marciais.Na Universidade de Takushoku, eu era especialista em história Chinesa e Mandarim, e planejava uma viagem para a China em meu segundo ano de universidade. A viagem tomou uma maior significância para mim por causa de um incidente que ocorreu na primavera de meu primeiro ano. Eu tinha treinado KARATE por vários meses naquela época, e alguns amigos e eu fomos a um PIC-NIC no campo. Enquanto nós estávamos descansando, alguns rufiões começaram a nos incomodar, e eu fui muito rápido para mostrar a eles a força dos chutes e socos do KARATE. Eu estava muito bem capacitado a defender a mim e a meus amigos, mas quando Mestre Funakoshi ouviu sobre isto, ele ficou furioso. Ele me reprimiu severamente. Ele disse que eu tinha boas qualidades físicas, mas que eu era emocionalmente e espiritualmente imaturo. Ele disse que minhas ações foram de um covarde e imaturo, e que a verdadeira coragem recai sobre a auto restrição e a auto disciplina. Isto requer muito mais coragem, ele disse, andar em frente quando defrontado com o infortúnio do que sair dando socos e chutes para se exibir a todos.Suas palavras tiveram um profundo efeito em mim, e eu me determinei a fazer minha viagem para a China para buscar uma maturidade espiritual. Então de junho a setembro de meu segundo ano, eu viajei a pé através da Manchúria, ao longo da Grande Montanha Khingan, para dentro dos descobertos da Mongólia. Eu praticava KARATE todos os dias, porém eu estava realmente só, com medo, e usualmente com fome. Mas naquela vasta solidão dos descampados da Mongólia, eu penso que comecei a entender a essência da autoconfidência e da realiança. Isto me ajudou a ver mais claramente minha própria natureza, e eu era capaz, além do mais, de superar minha solidão e meu medo. Em 1937, eu fui para Peking como estudante bolsista para continuar meus estudos de língua, história e sociedade Chinesa. E você não o acreditaria! A primeira coisa que eu vi na China foi o Boxe Chinês! De primeira, eu não fiquei muito impressionado com as artes Chinesas como método de luta. Eles enfatizavam movimentos circulares, e eles não tinham KIME (foco) como KARATE japonês, então eu pensei que eles eram fracos.Com o passar do tempo, penso, eu aprendi que as artes Chinesas tinham grande valor. A história da China longa e profunda, e assim a história de suas artes marciais. Uma vez vi um instrutor receber um quebramento de braço do que parecia ser um golpe suave, um bloqueio circular, e eu decidi que deveria ver com mais profundidade as artes marciais Chinesas, e comece a estudá-las, e continuei por aproximadamente 10 anos.Treinei muito com diferentes instrutores, e desde que eu também ensinava KARATE, uma arte que eles nunca tinham visto, muitos instrutores vieram para conhecer mais profundamente a arte. De fato quando os jornais japoneses enviaram uma multidão de filmadores para fazer uma história sobre as artes marciais Chinesas, sifu (professores) de todos os lugares da China vieram para demonstrar para as câmaras, e me perguntaram se poderia atuar como interprete. Como uma cortesia para mim, eles também insistiram que demonstrasse o KARATE, e aceitei. E minha demonstração, enfatizou KIME e KATA.Naquela época, Japão e China estavam próximas da guerra, e passou a ser desconcertante ver jornais Japoneses e Chineses discutindo sobre qual país possuía a melhor arte marcial. Os Japoneses diziam que o Boxing Chinês parecia bonito, mas carecia de velocidade e KIME, e não era obviamente bom para lutar. Os Chineses retribuíam dizendo que enquanto o KARATE se mostrava veloz e forte e extremamente poderoso, ele era ainda uma nova arte marcial e por isto carecia de refinamento e profundidade.Desde que eu estava ensinando KARATE a um grande número de sinceros estudantes Chineses e eles ensinando Kung-fu e Tai-chi, nós achávamos tudo aquilo muito divertido.Meus sentimentos eram que enquanto as técnicas de KARATE confiam na conservação de energia para ser liberada de repente no fim de uma técnica como uma explosão, as artes Chinesas gastam uma grande parte da energia na preparação dos movimentos e libertam sua força como um lento deslizar de uma espada. Mas meu treinamento na China impressionou-me profundamente na idéia que duas culturas, tão diferentes no aspecto externo, poderiam ambas independentemente desenvolver artes marciais efetivas baseadas em suas próprias culturas e enraizadas profundamente nas mesmas bases filosóficas, a filosofia do homem esta em busca da perfeição do caráter através da expressão física, o que, para mim, é a coisa mais importante.E por favor não me interprete mal: Eu não estou dizendo que as artes Chinesas são ruins. Eu treinei por longo tempo com um velho sifu de 80 anos de nome Pai (um famoso boxer de Peking) que era absolutamente extraordinário com as pernas. Ele parecia ser capaz de enrolar suas pernas ao redor de um ataque de braço, e seus movimentos de defesa eram maravilhosos. Como resultado dos estudos com ele, eu desenvolvi dois novos chutes os quais foram incorporados nas técnicas de KARATE por Mestre Funakoshi quando eu retornei para o Japão. Um foi o chute empurrado ou bloqueio com a sola do pé ou a parte inferior da perna, e o outro o chute circular reverso.

16. HASSEL - Quanto tempo o Sr. Permaneceu na China?

NAKAYAMA - Até 1946. Eu fiquei 5 anos na Universidade de Peking, e mais algum tempo trabalhando no governo Chinês.

17. HASSEL - Como eram as condições do Japão em 1946?

NAKAYAMA - Eram terríveis! Eu tinha ingenuamente pensado que poderia trabalhar ensinando Chinês, mas todo o país estava imerso na reconstrução do pós-guerra, e havia muito poucas academias disponíveis para a prática. Eu trabalhei como vendedor de secos e molhados por um tempo para minha sobrevivência.Uma das primeiras coisas que fiz quando retornei para Tóquio foi começar a procurar por meus antigos camaradas e os seniores de KARATE. Mas muitos deles tinham desaparecido na guerra! Os que restaram não estavam mais ativos, principalmente. Então imediatamente procurei reuni-los todos juntos e iniciar os treinamentos novamente. Eu fui naturalmente afortunado porque, eu tinha continuado meus treinamentos na China.

18. HASSEL - Não havia uma lei em oposição à prática das artes marciais no Japão depois da guerra?

NAKAYAMA - Sim, mas o edital do GHQ (General Headquartesof Allied Powers) dizia em suas linhas que inclui o KARATE como parte do JUDO. Eu tinha um amigo que conhecia o chefe do Educations Bureau no Ministério de Educação, e ele nos ajudou a convencer as forças aliadas que o KARATE não era parte do JUDO em nada. Usando da premissa que KARATE era atualmente uma forma de boxe Chinês – como esporte – nós recebemos permissão para a prática. O GHQ pensava que o KARATE era apenas um inofensivo passatempo! Então enquanto outras artes marciais tiveram que esperar até o banimento da lei em 1948, nós pudemos treinar e progredir.

19. HASSEL - Quando a JKA foi oficialmente organizada?

NAKAYAMA - Nós nos organizamos oficialmente em maio de 1949, e fomos oficialmente incorporados como corpo educacional do Ministério da Educação em 1955.

20. HASSEL - Sensei, nos Estados Unidos, grande parte do KARATE dos anos de 1950 era ensinado por instrutores do comando geral. Que significância o Sr. Pensa que teve este trabalho na introdução do KARATE para a América?

NAKAYAMA - A história do KARATE americano realmente está ligado à decisão do Comando Aéreo Americano (SAC) de ensinar artes marciais para seu pessoal. Em 1951, SAC enviou 23 instrutores (para treinamentos físicos) para a Kodokan em Tóquio para estudar as várias artes marciais, sob os cuidados de instrutores japoneses. Este programa continuou por 15 anos e se colocou a um grande número de Americanos os corretos princípios do KARATE, JUDO, AYKIDO e outras artes marciais. Certamente os homens que participaram destes programas tiveram um significante impacto na transferência do KARATE para a América.

21. HASSEL - Estes estudos tiveram algum impacto no desenvolvimento do Programa de Treinamento de Instrutores da JKA?

NAKAYAMA - Sim, diretamente. Quando Mestre Funakoshi primeiro trouxe o KARATE para o Japão, ele era o único qualificado para ensinar. Mais tarde, quando Mestre Kenwa Mabuni trouxe o KARATE SHITO-RYU para Osaka, a arte começou a crescer rapidamente e havia muitos, muitos estudantes. Sua vasta popularidade levou a uma infortunada situação na qual muitos indivíduos que tinham somente 6 meses de treinamento com Mestre Funakoshi ou Mestre Mabuni ou qualquer outro, iniciaram seus próprios estilos. Por esta razão nós organizamos a JKA e formamos uma corporação como um corpo educacional sob os cuidados do Ministério da Educação em 1955, havia algo em torno de 200 assim chamados “estilos” de KARATE. E o público não tinha como saber quem estava ou não qualificado para ensinar e quem não estava.Era, portanto nosso dever estabelecer modelos standards para a instrução e registrar estes modelos junto ao Ministério da Educação. Então, sob a coordenação de Mestre Funakoshi, comecei a formular o Programa de Treinamento de Instrutores. Minha opinião era que o ranking não deveria ser o único critério para apontar instrutores. Era mais importante ensiná-los como ensinar os outros. Eles deveriam ter um amplo conhecimento de outras áreas como física anatomia, psicologia, gerenciamento, e assim por diante. Mas isto era uma tarefa monumental, e precisei pedir ajuda e conselho aos estudantes mais antigos. Então, junto comigo significantes contribuições foram feitas no programa por Motokuni Sugiura, Teruyuki Okazaki, Hidetaka Nishiyama, e outros.

22. HASSEL - Sensei muitos instrutores do Ocidente parecem ter se perdido na explicação da filosofia básica do KARATE-DO e das artes marciais em geral para seus alunos. Eu gostaria de fazer uma série de questões filosóficas e saber se o senhor poderia ajudar-nos a entendê-las melhor.

NAKAYAMA - Eu tentarei.

23. HASSEL - De acordo com a maioria da literatura existente no Ocidente, parece que o KARATE-DO possui uma grande parte das filosofias Budistas e do Zen, mas muito pouco com Shinto, que é a maior religião do Japão. Esta impressão está correta, e se não, porque?

NAKAYAMA - Não, esta impressão não está correta. As Artes Marciais no Japão independente do Budismo ou Shinto tem uma longa história, e a filosofia está profundamente enraizada em todos os aspectos da vida japonesa. KARATE um caminho marcial, como KENDO e JUDO, e todos estes caminhos marciais têm suas raízes no início da cultura japonesa. Nas primeiras guerras, o instinto para a vida naturalmente trazia consigo o conceito de matar ou morrer. Isto é, o guerreiro tinha que matar o inimigo ou ser morto por ele. Isto era muito simples e natural. A partir daí, os guerreiros japoneses desenvolveram uma filosofia que se chama HEIJO-SHIN KORO MICHI, e esta é a base fundamenta de todas as artes marciais. Isto quer dizer que o guerreiro deveria se esforçar em ser o mesmo na aparência não obstante o que ele estivesse fazendo ou o que estivesse vestindo. Quer ele esteja simplesmente indo para o seu dia a adia ou indo para a guerra encarando a morte, ele deve ser o mesmo e agir igual – confiante, calmo e preparado para agir, e completamente alerta internamente.Naqueles primeiros dias, as filosofias do Budismo, Xintoísmo e Confucionismo estavam se desenvolvendo no Japão, e os artistas marciais estudaram estas filosofias para adquirir um aprofundamento em como entender, com efeito, o HEIJO-SHIN KORO MICHI – a calma e o estado de prontidão, a mente presente. Muitos deles estudaram zen e outros estudaram Xintoísmo, mas eles todos estavam estudando com a mesma perspectiva. A escolha de estudar uma religião ou filosofia em detrimento a outra foi simplesmente que – era uma escolha pessoal. A espinha dorsal destes estudos já estava lá HEIJO-SHIN KORO MICHI. Eu sei que muitas coisas são explicadas no Ocidente em termos de uma religião ou filosofia ou qualquer outra forma, mas se você olhar profundamente para a cultura japonesa, você encontrará, que HEIJO-SHIN KORO MICHI, a filosofia do guerreiro, está em todas as coisas é de fato um denominador comum dentro da cultura. NOH e KABUKI, por exemplo, são baseados fundamentalmente nas filosofias do BUDO. Elas requerem resistência, clareza, mente presente, e não há possibilidades para um erro em sua execução. Isto é o mesmo da filosofia do BUDO: Há somente uma chance para se executar a técnica correta. Erros não podem ser corrigidos. Se você faz algo errado, você morre. Isto é especialmente verdadeiro no KABUKI.Outro fator que poderia fazer parecer que há mais influência no KARATE-DO da filosofia Zen que do Shinto, é que o Zen Budismo tem específicas formas físicas e ações que devem ser usadas na meditação, mas Shinto não tem muitas formas externas, formas Universais. O Shinto é baseado na família e na veneração dos ancestrais, e a forma dos rituais no Shinto não segue um formato específico. Então, segue-se logicamente que se alguém quer explicar uma forma particular, este irá a uma religião ou filosofia mais próxima, como Zen Budismo, por exemplo, que possui formas discerníveis prontas. Como pode alguém explicar um sistema formal em termos de outro sistema se este não possui forma ou formato? Assim, parece natural que se tenha ligado as explicações das filosofias das artes marciais ao redor do Zen Budismo mais que do Shinto. Mas se os alunos estudarem com muito carinho e especialmente os princípios do NOH KABUKI e SHI-NO-YU (cerimônia do chá), eles virão a entender que HEIJO-SHIN KORO MICHI, a filosofia do caminho marcial, é que o Zen Budismo não é a base da filosofia marcial.

24. HASSEL - Os ocidentais são capazes de entender e sentir o YAMATO DAMACHI (o espírito de luta do Japão) descrito como de significante valor no caminho do KARATE-DO? Em outras palavras, é necessário para os ocidentais entender o YAMATO DAMACHI para entender o KARATE-DO?

NAKAYAMA - Yamato é um velho nome que nós usamos para o Japão antes de ser chamado NIPPON. YAMATO DAMACHI significa coração Japonês (NIPPON NO KOKORO) ou espírito Japonês, e cada país tem seu próprio coração, seu próprio e particular espírito. Poderemos falar, portanto sobre América no DAMACHI ou América no KOKORO. O particular espírito ou coração do Japão está centrado ao redor do samurai e sua devoção para com seu senhor, ou daimyo. No topo da estrutura estão o Imperador, daí vem o Shogun, o daimyo e o samurai. Este é um sistema linear no qual o samurai dá tudo de si para o seu senhor, que por sua vez serve ao Shogun, que por sua vez serve ao Imperador. O espírito deste sistema de auto-sacrifício e de abnegação da parte do samurai, primeiro para o bem de seu daimyo, e por último para o bem de seu Imperador e seu país.O espírito da América pode ser um pouco diferente, mas pode se manifestar apropriadamente e de igual forma em tempos de crise. Durante a guerra, por exemplo, o povo americano praticou o auto sacrifício e a abnegação para o bem de seu país. E eles tiveram um intenso espírito de unidade e juntos repeliram o inimigo. Cada país tem sua própria versão de seu espírito e as pessoas em seus países morreriam pelo bem geral. Isto é uma forma de lealdade e amor por seu país.Entretanto, cada sociedade é diferente, e cada uma tem sua própria versão de e lealdade e orgulho. Algo de sacrifício para seu senhor, para seu presidente, para o primeiro ministro, e assim por diante. Nestes termos que YAMATO DAMACHI refere-se especificamente ao espírito do Japão, não é necessário para não japoneses entender e sentir isto para compreender e sentir a essência do BUDO. BUDO NO KOKORO, o espírito do BUDO, essencialmente o mesmo que YAMATO DAMACHI, mas este coração e espírito não estão limitados somente ao espírito Japonês. O que quer dizer, este é um espírito universal que será interpretado e reforçado pelo povo em várias culturas de acordo com sua própria história cultural e necessidade. Assim, se uma pessoa estuda os princípios do BUDO – os profundos princípios filosóficos – ele irá adquirir o espírito do BUDO de acordo com o espírito de seu próprio país. Em outras palavras, eu não vejo razão em falar sobre BUDO para YAMATO DAMACHI Especificamente. Uma pessoa que está treinando no espírito BUDO de auto-sacrifício e abnegação irá adquirir grande conhecimento e benefícios, centrando-se ao redor de sua própria cultura e seu próprio país. O desenvolvimento do coração ou espírito é um crescimento natural no treinamento do BUDO.

25. HASSEL - Como fazer a estratégia de luta de SEN NO SEN e GO NO SEN conforme o relato do famoso princípio do Mestre Funakoshi KARATE NI SENTI NASHI não há primeiro ataque no KARATE)?

NAKAYAMA - Em meus livros, BEST KARATE, volumes 3 e 4, apresentei as técnicas de Mr. Iida como um bom exemplo de GO-NO-SEN, e as técnicas de Mr. Oishi como o melhor exemplo de SEN-NO-SEN. E o que estes termos exatamente querem dizer – técnicas de combate KARATE NI SENTI NASHI, por outro lado, nada tem a ver com execução de técnicas. Antes de uma declaração de ação para seu espírito ou uma forma de agir, uma advertência para controlar-se e não lutar.KARATE NI SENTI NASHI quer dizer literalmente que não há o primeiro ataque no KARATE. Mas isto não quer dizer simplesmente que o karateka não fará o movimento inicial para iniciar o combate. Mestre Funakoshi repetidamente nos dizia que também era estritamente proibido o uso desnecessário das técnicas de KARATE. Este espírito está incorporado nos KATAS, que também quer dizer que o karateka não deve nunca agir de maneira que possa criar uma atmosfera de confusão, e evitar lugares onde o perigo possa existir. Se um estudante freqüenta um bar onde brigas ocorrem regularmente e ele é subitamente solicitado a usar suas técnicas de defesa-pessoal, então ele não entendeu o significado de KARATE NI SENTI NASCHI. De verdade, ELE iniciou a briga porque ele sabia que a confusão era comum, e poderia ter evitado o conflito totalmente se ele simplesmente não fosse lá.KARATE NI SENTI NASCHI é um desejo para harmonizar as pessoas, No KATA KANKU DAI, este desejo de harmonia está simbolizado em seu primeiro movimento, como não há em nenhum outro KATA e que não demonstra diretamente nem ataquem nem defesa. As mãos estão erguidas e unidas acima da cabeça, às palmas para fora, e o karateka olha para o céu através do buraco formado pelos seus dedos e o polegar. Este movimento expressa identificação com a natureza, tranqüilidade de mente e corpo, e desejo de harmonia. O karateka que entende isto terá um coração modesto, uma atitude gentil, e um desejo de harmonia.No lado técnico, GO-NO-SEN significa que o ataque está vindo, você pode ver isto, e você tentará o contra ataque. SEN-NO-SEN quer dizer que você não dará ao oponente uma chance; você o envolverá de contínuos ataques. Mas estes termos referem-se aos estados psicológicos inerentes em situação de luta. Por exemplo, quando um gato se esconde ou se arma para matar um rato e o faz, o gato está, com efeito, praticando sen-no-sen. Ele não dá chances ao rato para nada. Mas sen-no-sen não se refere especificamente a uma técnica. Isto significa de fato que o gato não dá chances ao rato de fazer nada. GO-NO-SEN não teria significado algum para o gato a menos que ele esteja sendo atacado por um cachorro de 100 pounds. Eu usei esta analogia para mostrar que nenhuma estratégia é melhor que a outra. A estratégia empregada depende da situação e da aplicação psicológica individual. Se uma pessoa é excepcionalmente habilidosa em SEN-NO-SEN, e seu oponente está excepcionalmente preparado em GO-NO-SEN, impossível dizer quem vai vencer. As estratégias são de igual importância e eficiência, dependendo do indivíduo e da circunstância.Uma outra coisa importante a dizer no KARATE-DO, em adição a “Não há primeiro ataque no KARATE”, “Não há kamae (postura) no KARATE”. Este último dito se aplica diretamente para a atitude necessária nos treinamentos ou lutas atuais. O que isto quer dizer que o estudante não deve retesar o corpo e torna-lo rígido; deve-se estar sempre relaxada e alerta. No Japão, nós dizemos que devemos ser flexíveis como o bambu, que se curva e bate para trás quando o vento bate; aquele que é duro quebra-se com o vento como uma árvore oca e rígida.Por outro lado, relaxamento não quer dizer falta de atenção. Muitas vezes eu digo aos estudantes que há postura e não há postura. O que eu quero dizer é que há uma postura mental, mas não há postura física. No mais alto grau de desenvolvimento, penso, o karateka deverá ter uma não postura para tudo – não postura para a mente, e não postura para o corpo.Isto é muito difícil de entender, mas essencial sua aquisição de maneira ordenada para a maestria do KARATE-DO. Estes conceitos foram sumarizados no 17° século pelo monge zen, Takuan Munenori. O que Takuan disse para Yagyu, essencialmente, foi que se você põe sua mente nos movimentos de seu adversário, sua mente ficará presa nos movimento de seu oponente. Da mesma forma, se a mente está fixa na espada de seu adversário, ou em sua própria espada, ou em como cortar seu adversário, ou preocupado se for cortado, se ficar totalmente absorvido em qualquer coisa que prenda a atenção, então a derrota será inevitável. A solução de Takuan para o problema foi que a mente não ficasse em lugar algum – que fique espalhada através de todo o corpo, sem se concentrar em parte alguma. Por aí, ele disse, a mente estará à disposição em qualquer parte em que a situação necessite de imediata atenção. Se os braços precisarem se mover, a mente se moverá também: se as pernas necessitarem se mover, a mente mover-se-á também.O que ele está dizendo, com efeito, que se a mente está livre (ou em lugar algum), ela estará em todos os lugares.Esta filosofia vem diretamente de encontro aos objetivos do zen de não ter apego a nada. O “KARA” de KARATE vem do Mahayana Budismo, e também pronunciado KU, que, traduzido para o português, com o significado de vazio (vácuo) ou nada. Este significado original era “estar carente” ou “estar necessitando” (ou também “estar abandonando” ou “se esvaziando”), para chamar o indivíduo a escapar das regras e diferenças entre bom e mau, realidade e ilusão. Isto, de acordo com o Mahayana Budismo, fortalece a ética individual no que diz respeito a se uma pessoa não está presa a nada, ela naturalmente escolherá o bem sobre o mal.Eu sei que isto é difícil, mas a essência disto é para deixar a mente ir, e agir naturalmente. Quando uma pessoa se senta pela primeira vez na direção de um carro, por exemplo, uma grande atenção deve ser data aos detalhes: “Este é o acelerador, este o breque. Isto o faz andar, isto o faz parar”, e assim por diante. Depois de um tempo, entretanto, nós não precisamos nos preocupar com estas coisas a nível consciente. Nós simplesmente entramos no carro e vamos, e quando queremos nós o paramos, nós naturalmente pomos o pé no pedal do breque.Este é o mesmo processo que usamos no KARATE-DO. Quando nós começamos os treinamentos, nós respondemos naturalmente, e voamos no adversário. Como nós estudamos postura e técnica, nós criamos estratégias e movimentos, e aprendemos planos para nos defendermos e contra-atacarmos. Mas isto nos tira fora da espontaneidade, e nossas mentes se fixam em posturas específicas, técnicas e estratégias.Depois de muitos anos de treinamento, nós retornamos para nosso estado natural – transcendendo técnicas e posturas e estratégias, - e nós novamente respondemos sem pensar. Naturalmente, depois de muitas anos de treinamento nós seremos capazes de responder muito mais eficazmente e eficientemente.O tempo requerido para alcançar uma mente espontânea a qual por sua vez está em nenhum lugar e em todos os lugares uma longevidade, não importa quanto você viva.

26. HASSEL- Como, então o GO-NO-SEM do KARATE se diferencia do conceito bujutsu de SATSUI E KANJIRU?

NAKAYAMA- SATSUI O KANJIRU literalmente quer dizer “estar num estado de neutralização.”, e isto se dirige para uma situação na qual um samurai se esconde, esperando por um inimigo passar. Mas isto não simplesmente com o significado de esperando o inimigo aparecer, isto é mais uma questão de sensibilidade de quando o inimigo está por perto, e matá-lo antes que a luta possa ocorrer. Isto implica que aquele que está escondido não pode ver o inimigo, mas pode perceber ou sentir quando o inimigo está perto e matá-lo antes da luta começar. Se um samurai que está passando está praticando GO-NO-SEM, ele deve também sentir ou perceber quando o ataque está vindo e defender-se.

27. HASSEL- O famoso artista marcial, Yamada Jirokichi, um Mestre de KENDO, disse que as disciplinas modernas do BUDO como KARATE-DO e JUDO estão produzindo experts com um muito estreito conhecimento, e limitada série de habilidades. Ele diz que eles treinam somente uma arma ou somente com técnicas de mãos vazias, como no KARATE-DO, e que os modernos experts dos dias modernos não estão ao nível dos experts de antigamente. Se isto é verdade, porque o SHOTOKAN KARATE-DO não ensina seus estudantes a usar as armas tradicionais para alargas suas bases de conhecimentos e habilidades?

NAKAYAMA- Eu penso que está crítica faz perder o propósito do treinamento do BUDO como oposição para o propósito do treinamento do bujutsu.O estudo do bujutsu nos tempos feudais encorajava o guerreiro para se tornar o mais proficiente possível no maior número possível de armas. Isto era um acesso fácil para os guerreiros que estavam frequentemente lutando em batalhas e frente a frente com inimigos em situações regulares. Mas o propósito do BUDO não é adquirir um profundo conhecimento com o propósito de lutar, mais que isto, o propósito do BUDO para ganhar um muito, muito profundo conhecimento de sua arte como método para melhorar seu próprio caráter e ver mais claramente e profundamente a natureza de sua própria existência. Mestre Funakoshi, naturalmente, estudou muitas armas como o sai, bo e nunchaku em Okinawa, mas quando ele mudou o KARATE-JUTSU para KARATE-DO, ele seguiu o exemplo de outras formas do BUDO. Que ele interpretou a existência de armas e técnicas, e ele escolhe aquelas técnicas que são fundamentais para o sistema do BUDO e aquelas, se estudadas muito profunda e intensamente, poderiam levar o estudante para o profundo entendimento do eficiente movimento do corpo, defesa pessoal e assim por diante.Se o propósito do BUDO ir mais profundamente para dentro da vida, então esta aproximação faz sentido. Se você pensa sobre isto logicamente, há simplesmente pouco tempo em nossa vida para se tornar mestre em um grande número de armas ou sistemas ou diferentes artes, é possível se trabalhar bem em um grande número de diferentes coisas, mas impossível tornar-se mestre em todas elas. Nós nos concentramos nas técnicas do KARATE-DO e tentamos verdadeiramente nos tornarmos mestres delas.Isto é similar para o caminho da medicina ensinado para os doutores hoje. Um médico pode ser um bom prático em várias áreas, mas não pode ser um mestre em todas. Ele não pode se especializar em muitos aspectos da medicina. Aqueles que querem se especializar fincam suas bases primeiro, e então gastam muitos anos na escola estudando intensamente um particular campo como ortopedia, oftalmologia ou cardiologia. Eles se tornam especialistas em seu campo, e têm vastamente maior conhecimento sobre seu campo do que um médico geral. No BUDO, a idéia é a mesma. Nos queremos ter um conhecimento geral, básicas fundamentações sobre o movimento do corpo e defesa pessoal, e então nos especializamos em uma arte particular.Sua questão tem importância, é fundamental que as pessoas entendam a diferença entre bujutsu e BUDO. No Japão pré-Tokugawa as artes bujutsu eram estudadas amplamente pelos samurais, então, na época Tokugawa, as artes foram separadas tornando-se distintas, artes individuais, com a espada, lança, e ninjutsu, com o propósito de adentrar mais profundamente dentro destas artes para pesquisar suas características com perfeição, e para individualmente estudar as artes e eleva-las para o mais alto nível de desenvolvimento. A mesma coisa aconteceu em Okinawa, onde os primeiros mestres de “mãos Chinesas” (TODE) estudaram muitas coisas, de socos e chutes até arremesso de faca, então eles separaram as artes e muitos estudaram um tipo enquanto outros se especializaram em outros.O outro ponto importante é que as idéias fundamentais da maioria das formas de BUDO são as mesmas. Assim, Mestre Funakoshi tinha estudado o uso de armas, e eu também, como um assunto a mais, e os movimentos e técnicas do SHOTOKAN KARATE-DO são baseadas em movimentos aproximados aos usados pelas armas – bo, sai, lança e ao outras, então, se alguém estuda e adquire a maestria das técnicas do KARATE-DO, ele será capaz de com melhores condições, facilmente pegar as técnicas destas armas. E eu quero enfatizar que não há nada errado em ficar praticando e explorando os conhecimentos destas técnicas ou outras artes marciais, mas é essencial nunca perder de vista os propósitos do treinamento do BUDO, é melhor, creio eu, concentrar-se em tentar a maestria de uma arte por completo, e isto demanda uma vida de seriedade e árduo trabalho.

28. HASSEL- Nós sabemos que no KARATE SHOTOKAN há 15 KATAS básicos – 5 HEIAN, 3 TEKKI, BASSAI-DAI, KANKU-DAI, JION, JUTTE, EMPI, HAGETSU e GANKAKU – mas os estudantes da JKA praticam um outro conjunto de outros KATAS, também. E em outras escolas de SHOTOKAN, muitos dos estudantes praticam o TAIKYOKU e TEN-NO-KATA. O Sr. Poderia nos contar de onde vieram estes outros KATAS e porque somos levados a praticá-los?

NAKAYAMA- A origem precisa de muitos destes KATAS estão perdidas nos mistérios da história. No entanto, para ter um exemplo, o KATA que nós chamamos de KANKU-DAI era primeiramente chamado KUSHANKU e nós o praticamos exatamente da maneira como Mestre Funakoshi o interpretou. Mas ele deriva de uma forma originalmente chamada KOSHUKON, e se credita este KATA aos ensinamentos de um grupo de chineses a muitos Okinawanos. Muitas, muitas pessoas aprenderam este KATA e então foram tomando caminhos diferentes, desenvolveram e estudaram suas próprias formas. Antes de tudo, eles mudaram as formas básicas do KATA para corresponder melhor ao seu estilo particular ou sua estrutura corporal individual ou necessidades particulares.Consequentemente existe, e são agora, muitas formas diferentes de KATA, KOSHUKON. O mesmo é verdade para o BASSAI-DAÍ. Há muitas versões de BASSAI quanto há no KOSHUKON. O famoso mestre Matsumura, era notável por sua prática e desenvolvimento do BASSAI, e muitos aprenderam o KATA dele. Novamente, estes indivíduos em muitos casos mudaram o KATA para se acertar à suas próprias necessidades, e hoje o número de diferentes versões de BASSAI são provavelmente centenas. Mas Mestre Funakoshi mudou a forma do KATA naquelas partes onde sentiu que poderia ser mais eficiente, e nós praticamos esta forma de KATA, então o KATA que chamamos de KANKU-SHO e BASSAI-SHO são simplesmente conhecidas variações do KATA original, KANKU e BASSAI.A forma que eles vieram a ser praticados entre os alunos de Mestre Funakoshi é realmente um assunto de grande interesse ou significância. Isto é uma questão de natureza humana. Muitos destes antigos estudantes, líder entre eles estava o filho de Mestre Funakoshi, Yoshitaka, de tempos em tempos, praticaria muitas das versões que ele tinha aprendido em algum lugar, e os jovens estudantes ficavam fascinados. Nós imitávamos nossos seniores e lhes perguntávamos se poderiam nos ensinar estas formas diferentes. Eles poderiam nos ensinar, mas sempre nos diriam, “Não há nada de errado com a prática de outras formas, mas lembre-se que vocês devem sempre se concentrar no domínio das 15 formas básicas. Elas têm tudo de que vocês necessitam para o total conhecimento do KARATE, e não devem negligenciá-las.”.Um KATA que foi desenvolvido e introduzido por Yoshitaka Funakoshi, por exemplo, foi o SOCHIN, SOCHIN era sua especialidade, e nós o aprendemos dele, mas não é um dos 15 KATAS essenciais.Mestre Funakoshi provavelmente considerava nosso desejo para aprender estes outros KATAS como exuberância juvenil, mas não há prejuízo em adquirir idéias de diferentes KATAS, proveitoso, mas não essencial segundo Mestre Funakoshi. Muitos deste KATAS vieram para dentro do sistema JKA porque Mestre Funakoshi levou-me ao redor do Japão para visitar e retribuir a gentileza de convites de outros velhos mestres em Osaka, Kyoto, Okuyama, e Hiroshima. Nós deveríamos trocar idéias com estes mestres, e eles estavam naturalmente, ansiosos para aprender os KATAS de Mestre Funakoshi. Houve uma vez, eu me lembro, quando íamos visitar o fundador do SHITO RYU KARATE-DO, Henwa Mabuni. Bem, Mestre Funakoshi já havia estudado os estilos de KARATE GOJU e SHITO e tinha incorporado os elementos básicos destes estilos dentro do SHOTOKAN. O KATA HEGETSU, por exemplo, é essencialmente um KATA do estilo GOJU. Se alguém pratica o HANGETSU, torna-se fácil exercitar o KATA GOJU TENSHO e SANCHIN, GANKAKU e EMPI, por outro lado são essencialmente do estilo SHORIN. Mas Mestre Funakoshi nunca parou seus estudos de outras formas de KARATE, e quando nós visitamos Mestre Mabuni, Mestre Funakoshi disse-me para aprender GOJUSHIHO e NIJUSHIHO até nós poderíamos estudá-los mais cuidadosamente. Então Kenwa Mabuni ensinou-me estes KATAS. Assim como um natural resultado de nossos estudos destes KATAS, o KATA eventualmente mudou suas formas para conforme os movimentos do KARATE SHOTOKAN, e são agora praticados por muitos de nossos membros.Mas a coisa mais importante que gostaria de dizer sobre tudo isto é que me considero um homem felizardo por estar consciente de tudo isto. Eu fui muito afortunado por treinar sob os cuidados do Mestre Funakoshi! Sua genialidade vinha de seu profundo saber e de seu julgar. Ele literalmente criou o KARATE SHOTOKAN de elementos de todos os diferentes estilos de KARATE existentes. SHOTOKAN contém elementos tanto do GOJU-RYU e SHITO-RYU, e se uma pessoa devota seus estudos para aprender os 15 KATAS de Mestre Funakoshi, ele será capaz de facilmente compreender a essência de muitos outros estilos de KARATE. Mestre Funakoshi estava olhando para o futuro quando criou o SHOTOKAN – olhando para o dia em que o KARATE seria um só – e nós sempre estaremos em débito para com ele por seu trabalho.

29. HASSEL- Sensei, o Sr. Disse que Mestre Funakoshi ensinou a seus estudantes HEIAN, TEKKI, então BASSAI e KANKU, e então mudava para outro KATA?

NAKAYAMA- Sim. O primeiro KATA aprendido era sempre o HEIAN SHODAN.

30. HASSEL- O Sr. Poderia explicar, então de onde vem o KATA praticado por muitas outras escolas de SHOTOKAN – TAIKYOKU-NO-KATA e TEM-NO-KATA – qual sua origem?

NAKAYAMA- Mestre Funakoshi nunca nos ensinou estas formas. Eles foram criados como métodos básicos de treinamento por Yoshitaka Funakoshi e Genchin Hironishi, mas eles nunca forma ensinados pelo Mestre Funakoshi. Os princípios destas formas não se ajustam aos princípios do KATA. Eles não são KATA, eles são métodos básicos de treinamento. Mas eles nunca foram ensinados pelo Mestre Funakoshi.O propósito destas formas era preparar um método básico de treinamento para ser usado antes dos estudantes aprenderem o KATA HEIAN. Mas tanto antes quanto depois de minha viagem para a China, eu treinei com Mestre Funakoshi virtualmente todos os dias, e ele nunca mencionou TAIKYOKU ou TEM-NO-KATA.Se isto é uma questão de interesse eu gostaria de apontar para o texto oficial do Mestre, KARATE-DO KYOHAN. Se ele quisesse que nós soubéssemos estas formas, porque ele não os colocou no KARATE-DO KYOHAN?

31. HASSEL- Sensei, estas formas aparecem na versão inglesa do KARATE-DO KYOHAN.

NAKAYAMA- Realmente? Eu nunca lia a versão inglesa, mas eu posso lhe dizer que eles positivamente não estão na versão original japonesa.

32. HASSEL- Sensei, muitos destes últimos 20 anos têm sido dedicados para o desenvolvimento do esporte KARATE e hoje há torneios em todos os lugares, virtualmente o tempo todo. O futuro do KARATE-DO, em sua opinião, gira em torno do conceito de esporte KARATE e seu contínuo desenvolvimento?

NAKAYAMA- O KARATE alcançou seu presente alto nível de desenvolvimento porque seus praticantes têm seguido exatamente os princípios de Mestre Funakoshi. A coisa mais importante tem sido, e continuará a ser, a prática vigorosa, saudável e forte, um KARATE fundamentalmente com o propósito da educação física, de defesa pessoal, e a disciplina espiritual. O treinamento do KARATE para o desenvolvimento do indivíduo – emocionalmente, fisicamente, e espiritualmente. O torneio de KARATE existe para divulgar o KARATE mais amplamente para o público em geral. O esporte é uma boa maneira para se fazer isto. Prova ao público que nós não somos um punhado de matadores maldosos e imperfeitos, e ainda mostra a eles que qualquer um pode participar no KARATE, e, se eles desejam, competem com segurança.Agora se nós concentramos todo o desenvolvimento do KARATE ao redor do esporte, nós perderemos nossa essência como uma arte marcial, e obviamente, não quero que isto aconteça. Quero que o KARATE continue seu desenvolvimento através das mesmas idéias e com os mesmos métodos que nós tivemos no passado.Antes dos estudantes competirem eles deveriam trabalhar arduamente e consistentemente para adquirir uma forte fundamentação das bases e um profundo conhecimento dos princípios espirituais do KARATE.Na minha época, veja você, nós não tínhamos torneios ou competições de espécie alguma. Nossa única competição era com a gente mesmo, e este era o caminho que deveríamos seguir. Nós nunca treinávamos para conseguir um ponto em um torneio. Nosso treinamento era essencialmente orientado para o makiwara, e gastávamos horas e horas aprendendo como usá-lo. Nós deveríamos começar batendo umas poucas vezes e gradualmente se desenvolvendo para o instante em que poderíamos golpear em valores de 1000 vezes sem danos ou injúrias. Nós geralmente fazíamos um aquecimento de aula socando o makiwara 500 ou 1000 vezes. Nosso único interesse naqueles dias era o desenvolvimento de técnicas fortes, e acredito que é como deveria ser. Um sparring ensinará aos estudantes tempo e distância, mas não há nada como o makiwara para desenvolver um corpo forte e resistente. Sempre encorajo todos os estudantes a forjar seus próprios músculos e talhá-los no makiwara todo o dia.

33. HASSEL- Com esta filosofia como base, como, então o KARATE ESPORTE veio ocupar um lugar de tal importância no KARATE moderno?

NAKAYAMA- Como mostrei anteriormente, no início dos meus estudos eu e muitos de outros jovens estudantes queríamos alguma forma de combate porque já tínhamos um prévio treinamento no KENDO e JUDO. Nós não estávamos satisfeitos com KATA o tempo todo. Mesmo ainda que relutante, Mestre Funakoshi gradualmente começou a nos introduzir no 5 passos (GOHON-KUMITE), 1 passo (IPPON-KUMITE), e finalmente no combate livre. Eu não acho que ele especialmente gostava de fazer isto, porque ele era muito severo no ponto que o KARATE ”não era uma bárbara arte de combate”. De outro lado, ele compreendeu que a nova geração queria ter alguma coisa a mais, e ele também queria o KARATE ocupando uma posição igual ao JUDO e o KENDO.Em 1935, vários clubes de escolas em todo o Japão estavam num estado que chamamos de KOKANGEIKO (troca de cortesias e práticas). Estas trocas foram pensadas em termos de práticas de KATA e 1 passo, com ataques pré-arranjados e defesas que geralmente acabavam em disputas. Eu vi nariz e mandíbulas quebradas, dentes arrancados e muitas orelhas partidas.Eu estava dividido entre a crença que o KARATE fosse qualquer coisa que pareça confronto. Com efeito, nosso torneio em 1957 foi o primeiro campeonato de KARATE do mundo.Meu grande interesse naquela época era assegurar que o KARATE, se déssemos um aspecto esportivo, não perdesse sua essência como arte. Portanto trabalhei muito projetando a competição de KATA, e norteei as regas, nas regras da patinação e da ginástica. Minha esperança era preservar a essência do KARATE-DO como uma arte de defesa-pessoal e abnegação, e para prevenir “a excitação de confrontar” que provém da transformação do KARATE em mero esporte.

34. HASSEL- Qual, então, sua opinião do moderno, FULL-CONTACT KARATE?

NAKAYAMA- O FUL-CONTACT KARATE na América e Europa certamente tem um lugar no mundo do KARATE, mas ele não é KARATE-DO.DO significa “caminho” ou “trilha”, e isto significa que a arte é um veículo para o aperfeiçoamento do caráter humano. O que é mais importante para entender que esta busca do melhor caráter, não uma meta temporária ou transitória. Ele é um longo processo de vida que deve ser buscado todos os dias através dos treinamentos.O esporte desenvolve os contendores numa linha estreita. O que significa, eles treinam muito a parte física até se tornarem fortes, e então competem. Como eles competem, eles se tornam cada vez mais fortes, e se tornam campeões. Mas depois de um certo número de anos, o corpo começa seu declínio, e os contendores já não podem competir eficientemente. Uma pessoa progride firmemente através de um ideal limitado o qual é alcançado no auge da juventude, e então a idade traz consigo um declínio vertical. KARATE-DO, por outro lado, não tem semelhante limitação de ideal como de conquistar competições, e o progresso humano na arte é como escalar uma série de degraus ou caminhar num desfiladeiro. Com a mente e o corpo crescem juntos, o estudante move continuamente para frente e para cima, um passo de cada vez. Assim quando o corpo declina, há ainda outro passo para adiante na busca da perfeição do caráter. Até o dia de sua morte, o processo é limitado, porque ninguém é perfeito, mas nós podemos todos nos tornar um pouco melhor e continuarmos tentando.FULL-CONTACT KARATE é como Boxing que é baseado todo ele na força – o mais forte vence. Ao mesmo tempo em que não há nada de errado com isto, e certamente não há nada de errado com o contato, isto é muito importante, acredito, desenvolver o espírito humano através do controle das técnicas. Este é um dos pilares da competição do KARATE-DO. Para que se execute uma veloz e vigorosa técnica e a paremos com perfeito controle e precisão, exige-se total controle da mente. No esporte, a ênfase total controle da mente. No esporte, a ênfase está num corpo forte: no KARATE-DO a ênfase está na mente. Todas as coisas começam e acabam na mente, e isto dá ao Karateka qualidades que ele pode levar no seu dia a dia e usa-a para seu benefício. Este controle também capacita o Karateka a controlar seus golpes com toda sua força se necessário. Numa situação de defesa pessoal, o Karateka inteiramente treinado poderá sempre encontrar a distância correta, e o correto uso da força será liberado no alvo.

35. HASSEL- O senhor acha que o KARATE poderá ser Olímpico?

NAKAYAMA: Não me oponho ao KARATE se tornar Olímpico, mas tenho sérios assuntos sobre as conseqüências disto. Considere o que aconteceu para o JUDO quando se tornou esporte Olímpico. Mesmo mantendo suas estruturas como uma arte marcial, o JUDO mudou para se adaptar à estrutura das Olimpíadas. A Kodokan perdeu o controle da arte, e os estudantes começaram a treinar exclusivamente para adquirir a destreza competitiva que os tornaria capazes de competir numa Olimpíada. Isto tem provocado um efeito devastador no JUDO do Japão, e seus líderes estão agora num período de árdua auto-examinação. Eles estão frente a um real dilema tentando trazer de volta o JUDO para suas origens como arte marcial que pode ser praticada por qualquer um – jovem ou velho, homem, mulher ou criança. O aspecto esportivo se tornou um ato de sobrepujar outros de grande parte de judokas, e isto não está de acordo com os princípios de Jigoro Kano (o fundador do JUDO).Assim, acredito que se o KARATE entrar para as Olimpíadas, será bom providenciar para que o KARATE não perca sua essência como uma arte marcial – um caminho de vida que pode ser praticado por qualquer pessoa. Se puder acontecer assim, tudo estará certo. Mas tenho sérias considerações sobre isto, e certamente não penso que ganhar o reconhecimento Olímpico seja nossa menta principal.

36. HASSEL- Sensei, justo na JKA hoje vemos competidores usando protetores em suas mãos. Isto não está levando um tanto quanto para longe dos conceitos originais do KARATE como arte marcial e mudando a arte para um esporte?

NAKAYAMA- Atualmente, penso que isto poderá ajudar a delinear mais claramente a diferença entre esporte KARATE e bases, o KARATE fundamental. Realisticamente, se nós formos ter confrontos esportivos, então nós devemos fazer todo o possível para que seja com segurança. E há pouca dúvida que o KARATE vá crescer no futuro, e provavelmente um dia se torne um esporte Olímpico. Quando isto acontecer, nós deveremos estar preparados para mostrar ao Comitê Olímpico que nós temos proteções contra injúrias. Leves protetores de mão são um passo nesta direção, e não penso que eles mudem significantemente a face do KARATE como arte marcial. Eles são simplesmente um invento para a prática segura do esporte competição.Como via de regra, eles não são geralmente usados na JKA excepcionalmente em confrontos de equipes em determinados torneios.

37. HASSEL - Qual sua esperança para o KARATE para daqui a 10 anos?

NAKAYAMA - Espero que daqui a 10 anos, as pessoas entendam que KARATE é uma arte marcial e que eles ainda o pratiquem em suas bases verdadeiras, como educação física, como defesa pessoal, e como um método de desenvolvimento espiritual. Particularmente na área do esporte, espero que os contendores não o treinem simplesmente para ganhar um ponto. Espero ainda que eles se lembrem das bases do KARATE como um meio de vida e treinem o básico e busquem o IKKEN HISATSU – para o oponente com um golpe. Espero que eles pratiquem para ter um golpe forte e um chute forte. Se eles continuarem a treinar neste sentido, eles serão capazes de controlar suas técnicas. Se praticarem simplesmente para conseguir pontos, entretanto, nunca serão capazes de controlar suas técnicas ou a eles próprios. Esse tipo de treinamento os levará para muitos prejuízos.No futuro o KARATE será como foi no passado. Isto é, estudantes que treinam seriamente sob os cuidados de um bom instrutor primeiro irão adquirir boa saúde dos exercícios físicos. Este treinamento os levará apara fortes técnicas básicas e boa habilidade na defesa pessoa. Depois que estes dois fatores tiverem sido obtidos, então não haverá nada de errado em competir para testar-se com outros – técnica contra técnica, espírito contra espírito. Treinando desta forma leva-se para uma boa competição ou torneio no qual os contendores exibem um KARATE real, verdadeiro.Assim, quando digo que o KARATE possui três aspectos, digo que isto é aplicável como educação física, como defesa pessoa e como um novo estilo de arte marcial – esporte. Subjacente a todos estes aspectos as bases fundamentais do KARATE servindo o indivíduo para o desenvolvimento espiritual. Todas as modernas artes marciais, como JUDO, por exemplo, têm esta conduta, também originalmente, quando as técnicas de KARATE foram primeiro desenvolvidas, o raciocínio era muito simples nós estamos frente a frente, e então ou você me mata ou eu vou te matar. Estas artes nasceram em épocas de guerra. Nos tempos modernos, entretanto, nós não estamos face às mesmas situações como aquelas que primeiro usamos para autoproteção.O desenvolvimento do BUDO em oposição ao bujutsu recai sobre o princípio do forte desenvolvimento espiritual e na firmeza do caráter. Este é o real valor do BUDO para a existência humana. A coisa mais importante para as futuras gerações terem em mente é que o KARATE serve para desenvolver uma filosofia, uma prática de vida. Se isto for primeiro desenvolvido nos contendores, não haverá problema com as competições esportivas. Nós devemos simplesmente ter em mente nossos propósitos fundamentais.

38. HASSEL - Virtualmente todos os instrutores da JKA no Ocidente, todos Japoneses e Americanos, dizem a mesma coisa que o Sr. Está dizendo sobre a importância de estudar o KARATE-DO como um modo de vida e desenvolvimento espiritual, mas é muitas vezes difícil de compreender este profundo desenvolvimento continuando no dojo. Em outras palavras, nós falamos sobre desenvolvimento espiritual, mas parece ter lugar uma espantosa ênfase no esporte. Vinte anos atrás, por exemplo, havia muito pouca ênfase no combate livre para competição, e uma grande ênfase para o IPPON-KUMITE e o JYU-IPPON-KUMITE. O Sr. Pensa que estamos nos movendo na direção certa neste momento, ou estamos nos afastando dos ideais do treinamento do KARATE como o Sr. Os compreendeu?

NAKAYAMA - Eu penso que este é um tempo de extrema dificuldade para o KARATE-DO e para aqueles que estão tentando ensina-lo corretamente. Nós estamos no ponto principal na história do desenvolvimento da arte e, de uma forma ou de outra, penso que as coisas estão progredindo de uma forma correta. O que devemos entender é que, do ponto de vista da história, não há muitos anos atrás o KARATE era praticado somente em completo segredo. Não penso que era muito melhor para a arte do que treinar somente para a competição possa ser. O ponto é que os tempos mudaram, as circunstâncias mudaram, e as pessoas se ajustam às suas artes para estes tempos e circunstâncias.O que nós precisamos, acredito, é um equilíbrio em todas as coisas que fazemos. O esporte KARATE é uma inovação, e requer muito mais tempo antes que possamos assimilá-lo completamente e nos ajustar para isto.Penso que os instrutores na JKA, tanto no Japão quanto na América, estão fazendo um bom trabalho estudando os aspectos esportivos da arte e estão transmitindo-o da forma correta. O que precisamos é de tempo. No momento certo, tanto quanto mais estivermos ligados aos princípios fundamentais do Mestre Funakoshi, nós encontraremos o equilíbrio entre o esporte competição e o treinamento básico.

39. HASSEL - A maioria dos instrutores certamente concordarão que este é um tempo difícil para ensinar KARATE-DO. Qual o conselho específico que o Sr. pode lhes dar para ajuda-los a realizar suas tarefas eficientemente?

NAKAYAMA - Posso lhes dizer, não mais que, manter-se treinando diligentemente em sua arte e manter sua mente focada nos princípios do Mestre Funakoshi de um KARATE como um caminho de vida. Se eles fizerem isto, terão sucesso. Francamente, tanto quanto mais os instrutores processem desta forma, não tenho dúvidas sobre o futuro do KARATE-DO.

40. HASSEL - O Sr. Disse que os tempos estão mudando, e que nós devemos procurar um balança entre todos os aspectos da arte. Isto significa, então, que os instrutores deveriam ensinar os preceitos básicos do KUMITE como IKKEN HISATSU (parar o oponente com um único golpe) separadamente do KUMITE para competição? Em outras palavras, há diferença entre combater no dojo no treinamento diária e combater em competição?

NAKAYAMA - Não, absolutamente não. No sentido de HEIJO-SHIN KORO MICHI, que expliquei anteriormente, o Karateka deve treinar diariamente e estar preparado o tempo todo para fazer aquilo que for necessário. Ele deve estar calmo e atento, enquanto ele treina no dojô, fazendo seu desjejum, ou competindo no SHIAI. Se nós treinamos seriamente no dojo, aprendendo e aplicando os princípios básicos, então nós estaremos prontos para qualquer coisa que aconteça, o tempo todo.O correto treinamento sob as diretrizes dos princípios do KARATE torna o Karateka apto a andar fora do dojo e defender-se se necessário, ou sair do dojo para uma competição de SHIAI. Se os princípios básicos estão corretos, não fará diferença o que o Karateka estiver fazendo. Os princípios são os mesmos, e eles servem o Karateka bem o tempo todo, em qualquer circunstância. Eu sei que isto é difícil para compreender e muito mais difícil par ensinar, mas não deve haver separação das técnicas entre as categorias de defesa pessoal, esporte, e assim por diante. Considere que técnica é técnica, e se o Karateka está treinando adequadamente, ele será capaz de usar seus treinamentos para se defender e para competir. Se um estudante está treinado somente para competição, por exemplo, e ele é surpreendido enquanto caminha para o local de torneio, ele estará em sérios apuros. Não parece ridículo – um campeão de torneio que não pode se defender numa real situação? KARATE-DO serve para desenvolver o indivíduo como um todo, e este indivíduo que deve responder por qualquer situação que surja. Se ele pode somente responder em um torneio, há alguma coisa drasticamente errada com seu treinamento.

41. HASSEL - Finalmente, Sensei, se o Sr. permitisse um tempo para dizer somente mais uma coisa para as pessoas que estão treinando no KARATE da JKAS hoje, ambos alunos e instrutores, o que o Sr. Diria para eles?

NAKAYAMA - Eu lhes diria para meditar nas palavras de Anton Geesink, o holandês que derrotou os japoneses e venceu o Campeonato Mundial de Judô. Geesink enfrentou e venceu o maior competidor de JUDO Japonês, e ele sacudiu as próprias bases das artes marciais japonesas. Era impensável que um jovem Europeu pudesse habilidosamente e claramente destruir os mestres japoneses em sua própria arte. Mas foi exatamente o que ele fez.Eu me lembro que os líderes do JUDO e de muitas outras artes marciais no Japão ficaram num tremendo alvoroço, e fizeram um elaborado e detalhado plano para estudar os “segredos” de competição de Geesink. Ultimamente, eles arranjaram para um jornalista japonês uma entrevista profunda com Geesink para tentar descobrir os métodos de treinamento que este homem tinha usado para derrotar o japonês. A resposta de Geesink foi talvez a mais importante declaração que eu tenha ouvido em todos os meus anos no KARATE-DO, e nunca vou me esquecer. Ele disse: “Os japoneses têm se dedicado para o estudo do JUDO competição. Eles têm dado extraordinários avanços para desenvolver contendores vencedores e times campeões. Eu, por outro lado, nunca treinei para competição em minha vida. Tudo o que tenho feito é treinar JUDO como uma filosofia de vida, exatamente como Dr. Kano disse. Enquanto os Japoneses estavam planejando estratégias competitivas, eu estava no dojo, praticando fundamentos e KATAS. Eu derrotei o Japonês porque EU SABIA JUDO MELHOR QUE O JAPONÊS. “O segredo é treinar todos os dias nos princípios. Isto o tornará invencível “.