terça-feira, 29 de setembro de 2015

A Escola!

Num verdadeiro Dojô de Karatê-Dô vivencia-se o tripé da Arte Marcial,  “corpo, mente e espírito” forjados entre si, inseparáveis e invioláveis, são estudados e trabalhados em unidade. Lá o estudante sério tem a obrigação moral de moldar-se, confrontando-se por inteiro nos inquestionáveis desafios do “ego inferior e mundano”. Assim o “Dô”,“Caminho” do Karatê de O’Sensei Funakoshi é e sempre será a razão pela qual se busca uma vida inteira para captar a quintessência do legado! Contudo, aqueles que por ventura dele se valham pelo ego, nele terão suas corrompidas consequências!

Prof. Sylvio Rechenberg

domingo, 20 de setembro de 2015

“O Espírito do Karatê“

"Muito se pode especular sobre como teria sido diferente a história do Karatê-Dô se a morte prematura de Yoshitaka Funakoshi não tivesse ocorrido. Egami comenta sobre isso em seu livro “O Espírito do Karatê“, onde relata sobre o triste estado do Karatê, existindo mais preocupação para ganhar campeonatos e aprender técnicas de combate do que em se aprofundar no Karatê como uma filosofia de vida.

Como dizem meus Sempai, o Karatê nunca teria se transformado nesta triste realidade de hoje em dia, sem a dispersão que aconteceu após a morte do mestre Funakoshi e sem a criação do karatê esporte."

Humberto Heyden’Sensei

Yoshitaka / Gigo Funakoshi  (1906-1945)

domingo, 13 de setembro de 2015

A ARTE DE NAVEGAR PELO RIO ( Traduzido do original )

Comentários explicativos de Humberto Heyden’Sensei sobre a sua visão das claras diferenças entre competição e arte.

Muitas vezes, argumenta-se que o karate esportivo e o Karatê-Dô não são a mesma coisa, enquanto muitos argumentam o contrário. Gostaria de mostrar a minha opinião:

Imagine duas pessoas que gostam de viajar de barco ao longo de um rio. Ambos usam o mesmo barco, geralmente o mesmo equipamento e realizam o mesmo caminho por centenas de quilômetros, chegando ao destino. Isto tem sido feito por anos.

Ambos amam a sua atividade, e como amam a sua atividade, começaram a ensinar outras pessoas, tornando-as participantes naquilo que gostam.

Porem, um se reuniu a um grupo de pessoas e organizou um torneio, propondo o mesmo ponto de partida e o mesmo objetivo, que inicialmente era a viagem. Em seguida, a sua atividade tornou-se um sucesso e agora realiza torneios a cada ano e em diferentes temporadas do ano.E tornando-se um instrutor famoso, a quantidade de fãs que tem gerado é enorme. Todo mundo querendo competir para se tornar o primeiro a chegar no “objetivo determinado”.

Como o rio é perigoso, significa para estas novas gerações de remadores que devem aprender uma série de técnicas que requerem vários anos de trabalho intenso e assim dominando-as poderão vencer os demais. Diz-se que dominar as técnicas representa o domínio do homem sobre si mesmo,” mas” o seu objetivo é vencer os outros e se tornar campeão. Basta dizer que a aceitação social que isso implica é que muitos torcem para vê-los ganhar, se não fosse assim, que sentido teria? Embora, para muitos, qualquer forma vale a pena.

Um aponta para a popularidade, o exibicionismo, a ostentação, a aclamação, a celebração, a vaidade, a superficialidade. O outro aponta para o sentimento, o recolhimento interior, a harmonia, a integração com a natureza e, em alguns, êxtase, misticismo, contato com o divino.

Mas as pessoas originais eram duas. O que aconteceu com o outro?

A outra pessoa que gostava de viajar de barco ao longo do rio, ainda o faz e como adora a sua atividade queria também envolver outras pessoas. Tornou-se um instrutor e ensina como o outro, os segredos da arte de conduzir o barco descendo o rio.

Tem ensinado como desfrutar descendo o rio, de senti-lo, de vivencia-lo, além de todos os segredos técnicos para que isso possa ser realizado com o menor risco possível. Mas não ensina a competir, nem mesmo por casualidade. Só ensina como se deve ir descendo o rio ao longo das centenas de quilômetros da jornada.

Tal como seu colega, conhece todos os segredos do rio e da arte para conduzir o barco rio abaixo. Só que seu objetivo não é uma meta ou um resultado. Seu objetivo é a viagem em si, e durante o processo os alunos aprendem muito sobre o rio, sobre barcos e sobre si mesmos, mas talvez, no fundo não aprendessem nada, só tenham vivido e desfrutado, e que com este processo descobriram um mundo dentro de si mesmos, e assim também sobre tudo o que os rodeia. Eles aprenderam sobre si mesmos e sobre seus amigos, aprenderam sobre flora e fauna, aprenderam a viver um pouco mais.

Agora, ambos com idade mais avançada, ainda ensinam a muitos seguidores. Mesmo que eles se utilizem de equipamento similar, usem o mesmo barco, os mesmos remos e do próprio rio, muitos que os veem pensam que ensinam e praticam a mesma coisa. Mas isto é porque usam o mesmo equipamento e o mesmo rio.

Mas a verdade é diferente, e é tão diferente que não existe qualquer ligação entre as duas atividades, obedecem à realidades interiores muito diferentes entre si.

Um caminho é prático e utilitário e se transforma num caminho externo que precisa de títulos, prêmios, troféus, medalhas, etc. O outro é um “Caminho” não utilitarista, é emocional, é a integração, é um “Caminho” interno que aponta para a sensibilidade do homem e sua capacidade de ir fundo em encontrar o mais simples.

Eles são absolutamente opostos.

Um aponta para a popularidade, o exibicionismo, a ostentação, a aclamação, a celebração, a vaidade, a superficialidade. O outro aponta para o sentimento, o recolhimento interior, a harmonia, a integração com a natureza e, em alguns, êxtase, misticismo, contato com o divino.
Se alguém tem a experiência, como pode ensinar competição?

Humberto Heyden’Sensei


Julho 1, 1997

sexta-feira, 4 de setembro de 2015