quarta-feira, 28 de novembro de 2012

KARATÊ-DÔ E O CRESCIMENTO INTERIOR

Nascemos vivemos e morremos, ciclo natural do desenvolvimento humano. O inesquecível primeiro dia de um KarateKa, é o dia em que o futuro aspirante a membro efetivo de uma organização milenar, se vê diante de um mundo totalmente intocável e inalcançável. Na sua visão de leigo aprendiz marcial, a ansiedade se manifesta instantaneamente. Com os olhos inconstantes, sem saber aonde olhar e o que pensar, sua mente irradia um mundo de dúvidas; perguntas sem respostas. É onde o primeiro momento de crescimento se manifesta. Poder; Conseguir e ser Capaz, são então suas primeiras experiências consigo mesmo. Aprender o que significa ser um KarateKa, é o que se traduz com o passar dos anos, no suor constante da fronte, em meio a fidelidade com a arte, com sua escola e com seu professor, no amadurecer do sentimento de humildade e justiça, revelados pela atitude sublime da educação e o respeito consigo mesmo e com o próximo. Ser um KarateKa, na verdade, representa assumir a responsabilidade de cultivar a essência do ser humano, no sentido de valorizar a vida cada vez mais no seu aspecto espiritual, em contato com o seu centro interior. São muitos os caminhos que trazem alguém para o Karatê-Dô; estímulos externos dos mais variados. A falta de informação, inicialmente se contesta com a necessidade de buscar algo mais numa prática marcial milenar tradicionalmente verdadeira e nobre. Numa arte que revela seus segredos com o amadurecimento da sua prática e com o enraizamento filosófico que a rege. É notório que hoje o mundo no qual convivemos se caracteriza cada vez mais pela competitividade e conseqüentemente busca sua realização nas coisas da matéria, adquirindo mais, querendo mais, acabando por tornar-se seu escravo. Logo se percebe que o peso na balança de valores, torna-se totalmente evidente no contexto material, fazendo com que haja um desequilíbrio interior e conseqüentemente a falta da grande paz. O Karatê-Dô resgata através da sua verdadeira prática marcial, muito mais do que apenas, simplesmente somar troféus e medalhas, ou títulos registrados em eventos. Da mesma forma, um aluno que hoje se inscreve numa academia séria de Karatê-Dô deve ser conscientizado e educado de acordo com o real significado da Arte Karatê-Dô. O espírito marcial deve permanecer fervorosamente inabalável durante toda a vida de um KarateKa, independente de conquistas metálicas criadas da matéria, ou de decisões conclusivas baseadas por regulamentos humanos. Mas deve ser construído em bases firmes e concretas, que o sustentarão por toda a vida, não importando a idade, mas sim seu empenho em lutar continuamente com o maior de todos os inimigos, o seu "EU" interior.

Prof. Sylvio Rechenberg

sábado, 17 de novembro de 2012

O legado perdido.

O objetivo das verdadeiras Artes Marciais a partir do século VI D.C. é centrado no contínuo auto aperfeiçoamento baseado no esforço, na disciplina rigorosa e na fervorosa determinação da superação de si mesmo, confrontando-se sempre, para chegar ao estado de evolução que satisfaça sua existência, considerando o tripé da vida humana, que é o corpo, a mente e o espírito inabalável.

Durante trinta anos no sacerdócio de professor, educador e mediador no extraordinário mundo do Karatê-Dô de Gichin Funakoshi, acompanho inúmeros iniciados no Caminho de O'Sensei. Constato que poucos, muito poucos mesmo, são "carregados" pelo ideal da sabedoria na busca, no confrontamento das limitações, na virtude da humildade e na valorização dos princípios fundamentais.

Percebe-se que a espantosa maioria dos iniciados, infelizmente é movida pelo ego, mesmo conscientes dos desígnios da Arte maior, porem "cegos" ao Caminho original. É muito mais fácil combater ao outro do que a si mesmo! A satisfação na derrota do semelhante é mais atrativa do que a ausência de conflito.

Lamentavelmente nos nossos dias, o que mais se vê, são treinadores se auto denominando professores, ensinando unicamente técnicas, táticas e estratégias de luta que por sua vez deveriam ser cuidadosamente transmitidas aos pupilos, progressivamente orientados com cautela, conforme os padrões universais deste legado construído ao longo dos séculos.

Os antigos mestres já sabiam da sua letal conseqüência, se mal empregada, transmitida para pessoas erradas, com caráter duvidoso e de má índole. Da destrutiva e crescente onda de violência que poderia se desenvolver a partir de tais atitudes ante éticas, imorais e irracionais, além de difamar, corromper e destruir o legado verdadeiro, que por interesses pessoais e prosperidade financeira, se auto afirmaria no mundo capitalista, oportuno para o caos em que vivemos.

Hoje, vemos pseudo faixas pretas, que por razões às avessas, sucumbem na inconseqüência casual dos modismos deste tempo de euforias.

Onde se constrói a guerra se conquista os "mortos".
Onde se constrói a paz se conquista a vida!

O "esforço e a construção" estão dentro de cada um de nós...
Assim, também estão a "fraqueza e a destruição"!


Prof. Sylvio Rechenberg