quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

O "Vazio" dentro do Taoismo.


Resumo do texto original:

A cultura chinesa é uma das mais antigas da Terra e a única das grandes civilizações da antiguidade que possui história contínua, desde 7.000 a.C. Descobertas arqueológicas como o "homem de Pequim" mostram que a área onde se iniciou a civilização da China é habitada já há 800.000 anos.

Infelizmente as maneiras como eles expressam esse conhecimento são diferentes das nossas, o que levou diversos especialistas ocidentais a menosprezarem este tesouro.

O Taoismo, não apenas é uma filosofia autóctone da China como tornou-se posteriormente a única religião nascida em solo chinês, já que o Budismo é indiano e o Confucionismo não é religião.

Dentro dos conceitos mais importantes da filosofia chinesa e do Taoismo em particular, um que se destaca é o “Vazio”. A importância do “Vazio” nunca foi subestimada pelos chineses, que afirmavam que tudo o que existe só possui essa realidade porque um espaço "Vazio" permitiu que existisse. O filósofo grego Demócrito (460 a.C.-370 a.C.) foi o primeiro ocidental a chamar a atenção para o “Vazio” ao afirmar que no Universo "há apenas átomos e "Vazio"". Os chineses foram além ao afirmarem que a própria existência do universo dependeu da existência de um "Vazio" original, chamado de “Vazio Primordial”.

Para nosso universo existir foi necessário que houvesse um "Vazio" que o pudesse conter, pois nada poderia existir sem um espaço para que existisse. Esse “Vazio primordial” é chamado em chinês de "Wuji" (無極, “Vazio supremo”), e faz parte dos conceitos cosmológicos chineses principais. É um termo muitas vezes utilizado para se definir o infinito, o que não tem limites, e também um estado de vacuidade absoluta, não representado apenas pela ausência de tudo, mas uma vacuidade que tende à transcendência já que é a matriz de tudo o que existe.

A existência depende inteiramente da não-existência que a precede.

Na vida cotidiana, em nossa escala normal, também o "Vazio" possui grande importância.
Assim, da existência vem o valor e da não-existência, a utilidade!

Lao-Tze nos mostra que um vaso pode ser feito de diversos materiais e possuir muitas decorações, mas é o "Vazio" em seu interior que o torna útil. Um vaso de ouro é muito mais valioso que um feito de barro, mas a utilidade dos dois é a mesma e depende inteiramente do "Vazio" interno.
Nos seres humanos também o "Vazio" é imprescindível. Não existiríamos sem o espaço "Vazio" que há na mulher, que chamamos “útero”. É ele que permite ao embrião crescer e tornar-se uma nova pessoa.

É comum que o "Vazio" é que dê substância e vida à pintura chinesa, podendo se tornar um rio, um lago, a névoa, dependendo da visão do artista, que se utiliza deste espaço em branco para expressar sua sensibilidade. Apesar de ser uma não-existência, o "Vazio" surge como algo quase tangível em um processo de cognição espacial sem igual.

Nas Artes Marciais e técnicas terapêuticas chinesas como o “Qi gong”, o movimento começa a partir de uma postura em pé, com os braços pendendo naturalmente ao lado do corpo, relaxada, com a mente livre de pensamentos e o olhar focado no infinito. É o estado de “Wuji”, do qual partem os movimentos.

Devemos procurar nos familiarizar com o "Vazio" em nossas vidas! O Vazio de ruído, o Vazio de pessoas em volta, o Vazio de pensamentos tumultuados, o Vazio de celulares e redes sociais. Somente a partir do “Vazio” podemos começar a ouvir o “Tao”.

Texto original:
http://taoismo.org/modules/smartsection/item.php?itemid=55