domingo, 8 de julho de 2012

Marciais ou marginais?


Alguém que se compromete em ensinar, transmitir conhecimento, conscientizar sobre alguma coisa, tem uma responsabilidade impar, em assumir para si a ética e a extrema fidelidade com o que esta sendo proposto aos respectivos pretendentes a estas informações.

O produto que se almeja conquistar é a formação e a ampliação de um segmento da população, conhecedora do que é falso e do que é verdadeiro com relação a determinado assunto.

Minha intenção em fazer este comentário inicial se deve ao fato de acreditar fielmente nos princípios propostos pelo sacerdócio de educador e pela concordância absoluta do ideal prescrito e enfatizado pelo fundador do Karatê-Dô, Gichin Funakoshi O’Sensei!

Na maioria das vezes se vê “academias”, oferecendo aulas de “lutas”, mencionadas como “artes marciais”,  para qualquer pessoa, inclusive crianças e adolescentes, que por sinal, nos dias atuais, são as mais visadas por este tipo de mercado. Pessoas que sem nenhuma noção do que estão por aprender, se submetem a uma instrução pseudo-pedagógica onde os “instrutores”, lançam formulas mirabolantes de “vencer” disputas em confrontos, ditos esportivos, sem considerar o que este tipo de ação pode fomentar mais adiante, considerando o fascínio e ao mesmo tempo a fraqueza humana pela “ação” destrutiva...

Educar, uma palavra chave para a solução de problemas e principalmente para a inter-relação social e o convívio em sociedade.

O papel das autenticas Artes Marciais sempre foi e sempre será o de propor uma forma de auto defesa que permita sociabilizar, viver em harmonia, conhecer a si mesmo para respeitar aos demais, mas acima de tudo, assegurar a paz e conter o conflito!

O mundo passa por um caos de identidade, onde a ganância estipula o universo ilimitado do “ego”, onde a globalização ergue sua bandeira do momento.

Ser mais, ser o melhor, o principal, o maioral, este é o ditado da mídia frente a massa sedenta de inovação e prestigio preconizado pelo modismo. Contudo a educação como referencia básica de ordem e de progresso consciente, não esta sendo observada.

Isto se evidencia cada vez mais nos resultados negativos, pela perda dos valores, dos conceitos da moral e dos bons costumes, nos vários quesitos da vida, dita “moderna”.

A cada dia se constata direta e indiretamente o estimulo da manifestação violenta do ser humano e a falta de educação das pessoas,  pela televisão, pelos jornais e pela mídia em geral, pois é este tipo de acontecimento que traz audiência, ao ibope pretensioso, e assim, alimentando a sub-cultura e a distorção do foco verdadeiro que deveria contribuir para a “Formação do Ser”!

Em alguns canais televisivos se divulgam acontecimentos bizarros, onde os locutores evidenciam como “artes marciais” aquilo que ali infelizmente presenciam. Lamentável visão de um futuro cada vez mais pobre, carregado das demonstrações vexatórias de um tempo presente, sem pudor, sem escrúpulos, sem o mínimo de consideração dos verdadeiros preceitos e dos valorosos ensinamentos dos grandes mestres do passado, aos quais se deve  honra e gloria pelo legado construtivo para o bem e para a dignidade humana.

Isto tudo faz refletir sobre o que se quer e o que se espera no contexto de uma sociedade mais humana, igualitária, saudável e segura para se viver!

Infelizmente estas gerações que ali se espelham, frente às danosas evidencias negativas da influencia deste caos, geram os lucros, o poder, o controle absoluto das massas e a predisposição ao fracasso e a decadência das artes marciais.

Pior é verificar que a imagem do que um dia já foi refinado, esculpido e lapidado pelos artífices marciais do oriente, esta a mercê da sorte maldita de um sistema decadente que por sua vez quer achar soluções para o problema crescente da violência no país!

O fato se deve não somente aos desvios de conduta ética dos oportunistas, mas a  triste constatação do uso indevido da informação no que tange aos meios de comunicação sobre este assunto, e com isso envergonhar uma causa nobre, que a história aponta nos incontáveis exemplos de sabedoria e sacrifícios que os precursores nos deixaram, e da real intenção das Artes Marciais na educação de um povo!

Colherão seus frutos...

Prof. Sylvio Rechenberg