sábado, 28 de outubro de 2017

O “Caminho” da Honorável Arte de O-Sensei’Funakoshi!

Atenção: Para uma correta compreensão leia o texto completo com calma e reflita.

Todas as criaturas viventes têm suas características próprias, suas particularidades defensivas agregadas a um instinto de sobrevivência incorporado ao seu DNA. E considerando o homem como um membro comunitário e um ser integrante na sociedade, a "defesa pessoal" também é uma necessidade comum para todos. Ter a oportunidade básica fundamental de nos defendermos de situações onde a nossa vida é exposta a um perigo iminente ou mesmo a uma ameaça a nossa integridade é uma prioridade sempre atual!

A saber, às várias formas de conflitos, tanto os externos como os internos que por sinal estão cada vez mais em evidencia nos dias de hoje!

Porem o ser humano tem uma coisa que o destaca frente a todas as demais criaturas sobre a terra, a sua racionalidade, o seu livre arbítrio, a sua capacidade de decidir entre o certo e o errado, a sua capacidade de raciocinar mediante as adversidades que o afligem ao longo da sua vida, a se comportar corretamente em qualquer lugar.

Um dom divino exclusivo do ser humano, a nossa inteligência nos permite fazer uma leitura racional do que pode acontecer caso agíssemos desta ou daquela maneira em relação a determinadas circunstancias que por ventura viessem a acontecer. Assim sendo, certamente o leitor já faz uma relação com a maneira de agir e de se comportar mediante as adversidades do nosso dia a dia. E é exatamente isso que nos faz sermos diferentes, especiais e superiores as demais criaturas. Se não fosse assim seriamos como os animais, meramente irracionais e primitivamente entregues ao acaso e a toda sorte de problemas.

No entanto independentemente de como agimos, mesmo assim existem as situações nas quais somos envolvidos, mesmo adotando todas as precauções de segurança e as devidas providencias necessárias para evitar tais ocorrências, mesmo assim, somos pegos de surpresa e então vitimados às suas consequências e na maioria das vezes causadas por criaturas da nossa própria espécie.

Porem existe algo muito além do óbvio na dita "defesa pessoal popular” que estamos acostumados a trabalhar incansavelmente no Dôjo conforme a padronização da escola tradicional de origem, algo que precisa ser compreendido e, portanto considerado antes de tudo por todos nós que trilhamos o conceituado “Caminho”, o “Dô”, conforme a doutrina original a partir do seu fundador.

Tal compreensão nos permite lançar um olhar bem mais profundo na efetivação de todo o contexto que abrange a essência do “Caminho do Karatê de O-Sensei’Funakoshi”.

Então do que trata este “Caminho”?

Enquanto seres “irracionais” (os animais) matam pela fome, já os seres humanos podem ferir, mau tratar, zombar e se divertir as custas dos outros, prejudicarem a si mesmos por bel prazer e até capazes de matar para obter vantagem, não raro, podem agir com violência e se tornarem indiferentes à qualquer tipo de razão, cultivando a soberba no coração e se sentindo motivados por essa inconsequência. Envaidecidos, muitos se sentem realizados e atraídos pela “emoção destrutiva” e ficam felizes enquanto buscam a autossatisfação alimentada unicamente pelo seu próprio “ego” mundano, e se utilizam desta “primitiva fraqueza humana” para todo tipo de “agressão” em prol de seu próprio beneficio causando o maleficio alheio.

Uma clara manifestação do maior de todos os inimigos e que está dentro de cada um de nós, faz parte da nossa vida diária; e é disso que trata o “Dô”(Caminho); o “ego” dominante e controlador é um problema real e atual em evidencia, uma questão comportamental, uma tendência da modernidade, muito comum no Ocidente, mas que cresce no mundo inteiro, instigado pela mídia sensacionalista que se aproveita disso para alcançar os seus objetivos populistas, se isentando de qualquer responsabilidade das consequências de tais estímulos;  e o descaso obviamente do próprio sistema governamental em “todos os sentidos”.

Portanto se não trabalharmos com uma disciplina voltada principalmente na formação de um caráter virtuoso, de manter os bons costumes, a moralidade, a dignidade e em ter uma “espiritualidade” sempre presente em nossas decisões e ações, seremos facilmente dominados e vencidos pelo nosso próprio “ego” primitivo! Pois a nossa fragilidade a partir do “ego” dominador é a maior razão para a nossa infelicidade e assim afetando a nossa saúde, a nossa segurança e a dos que nos rodeiam, a nossa consciência espiritual e a visão distorcida de mundo que nos tentam incutir a todo custo todos os dias!

Vivemos a mercê de um sistema muito longe de ser o ideal e por isso mesmo o nosso “ego” viciado se fortalece com a inoperância das “leis”, principalmente no Ocidente, que por sua vez em sua maioria, são meras formalidades políticas e de interesses afins, oriundos de uma sociedade contaminada pelo “ter” e a total falta de “valores”; além de uma espiritualidade fragilizada e sobre tudo e fundamentalmente a falta do temor a Deus!

Devemos nos policiar continuamente deste distúrbio nocivo e causador de conflitos pessoais de todo tipo, reflexo de uma ante cultura e uma educação familiar equivocada, desregrada, permissiva, descontrolada e irresponsável onde a liberdade esta a mercê de um caos institucional e onde os “Deveres” ficam bem aquém dos direitos, gerando uma miscigenação de ações danosas para a sociedade, corrompendo a ordem pública e abrindo as portas para a violência urbana desacerbada.

Aprender a reconhecer esta fraqueza humana que carregamos conosco é fundamental para que possamos combater com todas as nossas “forças” este “conflito interior” extremamente operante em muitos momentos da nossa vida diária. É necessário que possamos ter uma profunda consciência de nós mesmos, e desenvolvermos a capacidade de superar-nos diante das tribulações e das provações do cotidiano.

Fatos que há milênios muitos sábios do Oriente já haviam advertido e por isso mesmo, motivados a criar e desenvolver extraordinários mecanismos de atuação prática e direta que agissem como norteadores e que possibilitassem uma conexão entre o corpo, a mente e o espírito em unidade para o bem comum, e assim obtendo consequentemente inúmeros benefícios construtivos e de utilização prática diária na vida de todas as pessoas.

Estes sábios visionários do antigo Oriente atentaram tanto nas formas de treinamento sistemático como nos métodos de formação severamente disciplinadores para que através destes mecanismos doutrinários de trabalho físico, mental e espiritual baseados na preservação e valorização da vida e sua consequente proteção, se possa construir uma sociedade mais pacífica, menos materialista e mais sensível as grandes e verdadeiras prioridades da humanidade enquanto vida evolutiva, considerando o “Ser” em conformidade com a natureza e em busca do equilíbrio, da harmonia e de uma paz duradoura.

Então, quando no Ocidente se fala em “Karatê-Dô” logo se compara esta pratica a uma simples forma de luta para aprender como se defender de um vagabundo qualquer ou mesmo onde um tenta ser melhor do que o outro apenas para provar quem é o vencedor, como acontece nos esportes de competição. Uma triste e lamentável realidade no mundo de hoje!

Isso não é e jamais foi o propósito derradeiro do fundador ao inspirar sua Honorável Arte! É o tipo da informação distorcida pela mídia, incorretamente interpretada, mas constantemente manipulada pelos interesses daqueles que lucram com este “tipo de negócio”, onde o que conta é a quantidade de pessoas atraídas pelo imediatismo barato e contagiante da disputa e a falsa ilusão de poder pela violência.

No início o que um “leigo desinformado” procura não é o que as "verdadeiras" artes Orientais querem transmitir, porem com o tempo, o que um estudante sério irá aprender durante esse processo de formação, crescimento, realização e transformação interior, caso persista e se mantenha firme no “Caminho” sem fraquejar, sem se contaminar, sem se corromper, este aprendizado jamais deixará de atuar, levará consigo para o resto de sua vida, não como adornos de tolas lembranças e conquistas do ”ego”, mas como uma ferramenta incomparável de benefícios que lhe será muito útil e onde o amor pela vida promoverá uma paz tão real, autentica e acalentadora em seu coração que nada nem ninguém poderão destruir, pois se tornou parte da sua “natureza pessoal”, e segue adiante com a dignidade que merece numa evolução construtiva do ser humano como criatura “Divinal” e assim com um espírito indestrutível, eternamente inspirador e pacifico!  Este é o Karatê-Dô de O-Sensei!!

Prof. Sylvio Rechenberg


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Doutrinamento!

Se todos soubessem e verdadeiramente compreendessem o propósito da prática regular da Honorável Arte de O-Sensei´Funakoshi certamente muitos pseudo praticantes rangeriam os dentes, afetaria diretamente o seu interesse em praticar, pois a Honorável Arte de O-Sensei’Funakoshi não contempla as reais intenções ego centradas na competição, não sustenta em confrontar os outros e não instiga em aprender simplesmente para “lutar” com os outros.  Porem se a Arte for corretamente “ensinada” milhões de outras pessoas despertarão para sua grandeza, para o tesouro escondido que a Honorável Arte agrega; o auto aperfeiçoamento construtivo, a consciência corporal integral, a dinâmica sensorial, os valores, as virtudes e aos conceitos de vida e de paz que beneficiam não somente a elas mesmas, mas ao vasto universo que a elas conspira!

Prof. Sylvio Rechenberg

domingo, 8 de outubro de 2017

"Karatê para Todos"

Parte do texto extraído do livro de O-Sensei “O meu modo de vida” (pag. 88)

"...Muitas vezes digo a meus alunos uma coisa que acham confusa. Digo-lhes: “Vocês devem tornar-se fracos, não fortes.” Logo querem saber o que quero dizer com isso, pois uma das razões que os levaram a escolher o Karatê-Dô é a possibilidade de se tornarem fortes. Não há necessidade de treinamento para se tornar fraco, dizem eles. Respondo então que o que estou dizendo é de fato difícil de compreender. “Quero que encontrem a resposta dentro de vocês mesmos”, digo-lhes. “E prometo-lhes que vai chegar o momento em que vão compreender realmente o que quero dizer.” Estou convencido de que esse tempo chegará. Estou convencido de que se os jovens praticarem Karatê com todo seu coração e toda sua alma, no fim chegarão a uma compreensão de minhas palavras. Aquele que está consciente de suas próprias fraquezas será senhor de si mesmo em qualquer situação; somente uma pessoa verdadeiramente fraca é capaz de coragem verdadeira. Naturalmente, um praticante verdadeiro deve aperfeiçoar sua técnica através do treinamento, mas nunca deve esquecer que somente através do treinamento será capaz de reconhecer suas próprias fraquezas."

Gichin Funakoshi’O-Sensei