domingo, 29 de novembro de 2015

Estudar Karatê-Dô não é confrontar, mas confrontar-se!

Porque existem pessoas querendo lutar contra outras pessoas?
Lutar sem legitima razão, simplesmente para derrotar o outro?
Derrotar por quê? Porque uma vida se coloca perante outra, visando “conflito” por puro prazer?
Esporte provocando e alienando discórdia? Que benefícios reais justificam tal ato? Em troca de medalhas, troféus, títulos ou tolices do gênero? Nada provam além de um jogo que exclui!
Que exemplo formativo se obtém aos leigos aspirantes ao “caos”?
E aos jovens que se espelham na pura violência conforme o modismo das massas manipuladas pela mídia tendenciosa e completamente mal informada, apoiando a decadência mascarada de “arte marcial”?
Milhões se dedicam a salvar, educar, valorizar, ou simplesmente cuidar, enquanto outros tantos em destruir ao invés de edificar!
O corpo é um bem "precioso" emprestado para um espírito!
Uma obra prima, divina, composto por um universo perfeito, singular, insubstituível, inigualável.
Milhões fazem desta “propriedade” passageira, uma ferramenta construtiva.
Enquanto ferramenta, alguns mantêm vigiada sua consciência, pois se do corpo a virtude se ocupar, será duradoura a recompensa.
Mas se a fraqueza do ego for mais forte que a virtuosa sabedoria, então de nada valerá qualquer tipo de esforço, pois tudo é vaidade.
Enquanto criança, mantem inocente a consciência, que logo se corrompe pelos modismos, culturas e os equívocos humanos de toda sorte.
Pela baixa estima, muitos ocupam seu corpo com coisas do ego e até se transformam por ele, causando sequelas irreversíveis, irreparáveis para si e às vezes aos outros.
A verdadeira razão de lutar não esta na disputa primitiva por uma condição na satisfação do ego, mas para que a vida se manifeste por inteiro, com dignidade e harmonia, sem absolutamente nada mais além de uma agradável sensação de paz, que por sua vez somente a consciência pura consegue decifrar. Sem precisar competir ou comparar!
Tal estado não tem discórdia, nem inveja, nem temor, nem falsidade, não tem rancor, nem maldade, nem cobiça, nem ao menos ilusão, mas tem tudo que somente um “coração” é capaz de sentir, a autentica gratidão sem segundas intenções ou interesses!
Gratidão por compreender que somos todos iguais e preciosos perante “Deus” e que cada um de nós, como um todo, tem a responsabilidade de atentar e lutar incansavelmente pela transformação construtiva do “Ser” humano ao invés de mergulhar na irracionalidade nociva do ego mundano, tipicamente exposta num clima de confronto de ocasião, como numa competição de Karatê!  
Quando O’Sensei Gichin Funakoshi acrescentou a palavra “Dô” “Caminho”, a sua Honorável Arte passaria a transformar valores, princípios e costumes enraizados profundamente no passado da história, e desta maneira beneficiar milhões de pessoas em todo o mundo, que se valham ainda hoje dessa ”Via”.
E foi com um coração bondoso e repleto de responsabilidade pelo futuro das novas gerações é que idealizou e fundou sua obra nos moldes de um caráter pacifico, mas disciplinado e inspirado expressamente na retidão de conduta, o caráter!  
Em meio às fraquezas do homem em pleno terceiro milênio, ainda prevalece à vontade de ser mais e melhor do que o semelhante em confrontos físicos diretos, ainda existe a necessidade de ferir de alguma forma para satisfação da primitiva condição de poder, onde existe um vencedor, um perdedor e “aloprados” colaboradores!
Um lamentável retrocesso nas Artes Marciais do Oriente!
Os antigos mestres fundadores das escolas no passado de tudo fizeram ao contribuir para apaziguar o instinto de agressividade e a tendência natural ao caos e o conflito entre as pessoas, através de métodos e sistemas sabiamente elaborados e criteriosamente desenvolvidos para serem utilizados como ferramentas virtuosas na promoção da Paz e da harmonia em sociedade, a favor do homem e em conformidade com a natureza divina. Jamais por intermédio de qualquer tipo de competição ou entretenimento, muito pelo contrário!
Como pode o equilíbrio do Oriente ser  tão barbaramente contaminado pelo Ocidente? Como pode o Ocidente ter tanta necessidade de se autodestruir ao invés de construir? Com toda certeza não se trata de Oriente e Ocidente, mas unicamente de "pessoas" que ali se encontram de posse das circunstancias apropriadas, para então se valerem das oportunidades de se popularizar e enriquecerem as custas de um legado cultural e histórico! Coisa que naquele tempo, em 1940 e novamente em 1941, O’Sensei Funakoshi  já visionava e sabiamente orientava sobre o fato, proibindo todo e qualquer ato que assim se caracterizava!

Prof. Sylvio Rechenberg