terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Masatoshi Nakayama'Sensei

Resumos e compilação :

""Dô" significa “Caminho”, e isto significa que a arte é um veículo para o aperfeiçoamento do caráter humano! O que é mais importante para entender que esta busca do melhor caráter, não é uma meta temporária ou transitória. Ele é um longo processo de vida que deve ser buscado todos os dias através dos treinamentos. O esporte desenvolve os contendores numa linha estreita. O que significa, eles treinam muito a parte física até se tornarem fortes, e então competem. Como eles competem, eles se tornam cada vez mais fortes, e se tornam campeões. Mas depois de um certo número de anos, o corpo começa seu declínio, e os contendores já não podem competir eficientemente. Uma pessoa progride firmemente através de um ideal limitado o qual é alcançado no auge da juventude, e então a idade traz consigo um declínio vertical. Karatê-Dô, por outro lado, não tem semelhante limitação de ideal como de conquistar competições, e o progresso humano na arte é como escalar uma série de degraus ou caminhar num desfiladeiro. Com a mente e o corpo crescendo juntos, o estudante se move continuamente para frente e para cima, um passo de cada vez. Assim quando o corpo declina, há ainda outro passo adiante na busca da perfeição do caráter! Até o dia de sua morte, o processo é limitado, porque ninguém é perfeito, mas nós podemos todos nos tornar um pouco melhor e continuarmos tentando."

"...Agora, se nós concentramos todo o desenvolvimento do Karatê ao redor do esporte, nós perderemos nossa essência como uma arte marcial, e obviamente, não quero que isto aconteça! Quero que o Karatê continue seu desenvolvimento através das mesmas ideias e com os mesmos métodos que nós tivemos no passado! Antes dos estudantes competirem eles deveriam trabalhar arduamente e consistentemente para adquirir uma forte fundamentação das bases e um profundo conhecimento dos princípios espirituais do Karatê! Na minha época, veja você, nós não tínhamos torneios ou competições de espécie alguma. Nossa única competição era com a gente mesmo, e este era o caminho que deveríamos seguir. Nós nunca treinávamos para conseguir um ponto em um torneio." 

"...Muitos indivíduos têm iniciado mudanças, mas suas atitudes são erradas e inaceitáveis. Muitos, por exemplo, têm criado uma noção errada que competição é tudo, e só treinam com o propósito de vencer a competição. Isto está absolutamente errado! O Karatê-Dô de Funakoshi'O-Sensei se baseia no desenvolvimento de fortes bases técnicas primeiro, através do Kihon e Kata, e usa o Kumite para testar as técnicas uns com os outros. Nenhuma outra ideia é tida como parte deste princípio! Veja, antes de Funakoshi'O-Sensei falecer, eu comecei a pesquisar a ideia de desenvolver torneios, ou – Karatê esporte -, mas quando eu perguntei a Funakoshi'O-Sensei sua opinião, ele se recusou a comentar! Ele estava preocupado, veja você, que se os conceitos de torneio se tornassem muito populares, então os estudantes poderiam abandonar os princípios básicos e praticar somente para as competições. ...Ele queria claramente entendido, que a coisa mais importante seria sempre o treinamento básico! Por isso que enquanto tenho sido o Instrutor da Japan Karatê Association, o treinamento tem sido sempre centrado ao redor dos princípios básicos de Funakoshi'O-Sensei, Kihon, Kata e Kumite!"

"Espero que daqui a dez anos, as pessoas entendam que Karatê é uma arte marcial e que eles ainda o pratiquem em suas bases verdadeiras, como educação física, como defesa pessoal, e como um método de desenvolvimento espiritual! Particularmente na área do esporte, espero que os contendores não o treinem simplesmente para ganhar um ponto! Espero ainda que eles se lembrem das bases do Karatê como um meio de vida e treinem o básico e busquem o (Ikken Hisatsu) – o oponente com um só golpe! Espero que eles pratiquem para ter um golpe forte e um chute forte. Se eles continuarem a treinar neste sentido, eles serão capazes de controlar suas técnicas! Se praticarem simplesmente para conseguir pontos, entretanto, nunca serão capazes de controlar suas técnicas ou a eles próprios! Esse tipo de treinamento os levará para muitos prejuízos! No futuro o Karatê será como foi no passado! Isto é, estudantes que treinam seriamente sob os cuidados de um bom instrutor primeiro irão adquirir boa saúde dos exercícios físicos. Este treinamento os levará para fortes técnicas básicas e boa habilidade na defesa pessoa. Depois que estes dois fatores tiverem sido obtidos, então não haverá nada de errado em competir para testar-se com outros – técnica contra técnica, espírito contra espírito. ...Assim, quando digo que o Karatê possui três aspectos, digo que isto é aplicável como educação física, como defesa pessoa e como um novo estilo de arte marcial – esporte. Subjacente a todos estes aspectos as bases fundamentais do Karatê servindo o indivíduo para o desenvolvimento espiritual. Todas as modernas artes marciais, como Judô, por exemplo, têm esta conduta, também originalmente, quando as técnicas de Karatê foram primeiro desenvolvidas, o raciocínio era muito simples nós estamos frente a frente, e então ou você me mata ou eu vou te matar. Estas artes nasceram em épocas de guerra. Nos tempos modernos, entretanto, nós não estamos face às mesmas situações como aquelas que primeiro usamos para autoproteção.O desenvolvimento do BUDÔ em oposição ao Bujutsu recai sobre o princípio do forte desenvolvimento espiritual e na firmeza do caráter! Este é o real valor do BUDÔ para a existência humana! A coisa mais importante para as futuras gerações terem em mente é que o Karatê serve para desenvolver uma filosofia, uma prática de vida! Se isto for primeiro desenvolvido nos contendores, não haverá problema com as competições esportivas. Nós devemos simplesmente ter em mente nossos propósitos fundamentais!"

"Não me oponho ao Karatê se tornar Olímpico, mas tenho sérios assuntos sobre as consequências disto. Considere o que aconteceu para o Judô quando se tornou esporte Olímpico. Mesmo mantendo suas estruturas como uma arte marcial, o Judô mudou para se adaptar à estrutura das Olimpíadas. A Kodokan perdeu o controle da arte, e os estudantes começaram a treinar exclusivamente para adquirir a destreza competitiva que os tornaria capazes de competir numa Olimpíada. Isto tem provocado um efeito devastador no Judô do Japão, e seus líderes estão agora num período de árdua auto-examinação. Eles estão frente a um real dilema tentando trazer de volta o Judô para suas origens como arte marcial que pode ser praticada por qualquer um – jovem ou velho, homem, mulher ou criança. O aspecto esportivo se tornou um ato de sobrepujar os outros, de grande parte dos judokas, e isto não está de acordo com os princípios de Jigoro Kano’Sensei (o fundador do Judô)! Assim, acredito que se o Karatê entrar para as Olimpíadas, será bom providenciar para que o Karatê não perca sua essência como uma arte marcial – um “Caminho” de vida que pode ser praticado por qualquer pessoa! Se puder acontecer assim, tudo estará certo. Mas tenho sérias considerações sobre isto, e certamente não penso que ganhar o reconhecimento Olímpico seja nossa meta principal!"

"Quando eu for para o céu, eu espero que O-Sensei’Funakoshi não me bata por introduzir o Karatê esportivo"!

sábado, 18 de fevereiro de 2017

“Desígnios ”

O Karatê-Dô de O-Sensei’Funakoshi foi criado a partir de seus estudos no vivenciamento  pessoal com os seus principais professores, Azato’Sensei e Itosu’Sensei, além também de Matsumura’Sensei;  e desenvolvido por ele, adequando-o e por vezes simplificando-o, principalmente baseado numa formação nos princípios Taoistas e Zen Budistas. Sua nobre intenção com a Honorável Arte, claramente exposta em seus livros, era a de tornar possível a qualquer cidadão comum, não importando a idade ou condição física, para dela se valer e pratica-la com constância durante a vida inteira. Em momento algum de sua trajetória vivencial ele, O-Sensei’Funakoshi, jamais recebeu qualquer tipo de orientação, indicação ou algum tipo de referencia dos seus professores para uma prática desportiva, competitiva, ou de características confrontantes, muito pelo contrário. A própria ideologia, a filosofia e sua formação moral, cultural e espiritual, jamais permitiriam qualquer transgressão aos princípios doutrinários, muito menos com intuitos ego centrados, pois transformariam a sua Honorável Arte numa simples prática lúdica de natureza competitiva e assim desvirtuando e contrariando sua real finalidade formativa construtiva. Isso seria impensável e inaceitável para ele, envergonhando e manchando para sempre o seu caráter, pois não era esse o seu propósito em qualquer nível de interpretação possível, considerando a sua expectativa do legado para as futuras gerações. Infelizmente por fim e em especial, logo a partir de sua morte, seus nobres ideais fracassaram neste sentido, embora norteada para a contenção do conflito o (Budo), e para o auto aperfeiçoamento do “Ser” indivisível, a sua “Arte” lamentavelmente seguiu por outro caminho. O-Sensei já advertira para isso em 1940 proibindo a pratica do Jyu Kumite (de forma livre) que visava confrontos para ver quem era o melhor; reforçando o seu pedido novamente em 1941 afirmando que expulsaria do seu Dojo quem infringisse sua determinação, pois o espírito de competição contraria totalmente a essência do verdadeiro “Budô” em (conter o conflito) e que a competição induz a um espírito de violência! Portanto, se naquela época, em algumas universidades japonesas já havia manifestações contrárias a sua ideologia doutrinária, que dirá então apresentando sua Honorável Arte para o resto do mundo.  Infelizmente aos olhos do ocidente, por mais que se faça ou se diga o que em verdade deve ser compreendido, aceito e praticado, a intenção de um ideal maior, neste caso, cobrou um preço alto demais, gerando consequências desastrosas e praticamente irreversíveis. Tal ideologia filosófica formativa foge do padrão institucionalizado de outras culturas e consequentemente é mal interpretada e transformada em um simples desporto, divergindo completamente da sua legitimidade original. Sem falar que isto implica numa possibilidade comercial, promocional e de rápida aceitação social, ainda mais quando é capaz de envolver e aguçar o “ego”, atiçando justamente a fraqueza humana pela disputa, pelo conflito e pela pura satisfação pessoal, atraindo assim milhões de pessoas com este tipo de perfil. Logo, tal atividade é rapidamente aceita e assimilada pelo ocidente, ainda que equivocadamente. E por óbvia dedução do acaso, contaminando também o oriente, em particular, as novas gerações de entusiastas com pouca ou nenhuma conscientização espiritual de formação e total desinteresse pelas tradições, pelos seus antepassados e pela sua sagrada sabedoria milenar. Contudo, existem exceções, “células doutrinárias do Karatê-Dô de O-Sensei’Funakoshi”, pequenos grupos, de forte resistência e oposição para tais “mudanças distorcidas” nesta “moderna globalização de interesses”. E já naquele tempo, um ano antes de falecer, tamanha era sua tristeza, que no dia 13 de Outubro de 1956 finalizava o prefácio da segunda edição de sua histórica obra literária “Karatê-Dô Kyohan” e revelava angustiado o seu descontentamento e um profundo desgosto e evidente repudio ao lamentável estado que já naquela época sua Honorável Arte tinha se transformado, no “quase irreconhecível estado espiritual a que chegou o mundo do Karatê atual” escrevia o mestre em seu mais famoso livro! E mesmo assim, contrariando ao desígnio de seu próprio fundador, dois meses após a sua morte ocorrida em (26/04/57), logo em junho daquele mesmo ano foi realizado em Tóquio a primeira competição pública de Karatê no Japão.

Prof. Sylvio Rechenberg 


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Castelo de Shuri visto do céu. (首里城)

O Castelo de Shuri, foi mandado construir em 1509 pelo Rei Sho-Shin, que proibiu pela primeira vez a posse de armas aos habitantes da ilha de Okinawa.

Em 1921 no grande hall deste mesmo Castelo, no dia 06/Março o príncipe herdeiro Hirohito assiste a uma demonstração de To-de (Okinawa-te) liderada por O-Sensei’Gichin Funakoshi.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O valor de uma aula de Karatê-Dô!

Aprender sobre a Honorável Arte antes de mais nada requer muita humildade, disciplina e constante perseverança! Se você não valoriza cada uma destas virtudes e também não tem interesse em acolhê-las em sua vida então infelizmente você está fadado(a) ao fracasso em aprendê-la da maneira correta, em realmente compreender e incorporar o seu real objetivo!
Ao iniciar os estudos nesta gradativa e construtiva jornada vivencial, certamente não se consegue imaginar o seu poder e a sua abrangência na vida diária sob todos os aspectos!
Aqui não se criam malandros, preguiçosos, presunçosos, soberbos, gananciosos, hostis, ou pessoas de qualquer desvio de conduta comportamental nociva para a sociedade! 
Karatê-Dô foi criado em beneficio do “Ser”, para uma harmonia de caráter, para um equilíbrio interior e assim uma exteriorização pacifica e vitalícia do “Ser” para com o universo!
Aprende-se a lutar em defesa da vida, do espírito, da ilimitada capacidade de se autoconstruir e de sentir-se útil, feliz e em paz consigo mesmo!
Mas isso somente é possível abdicando aos vícios da destrutiva corrosão do “ego” mundano presente em nosso meio e nas inúmeras circunstancias impostas diante de nós!
Aprender sobre a Honorável Arte não se iguala a uma atividade física para ser mais do que o outro, não se iguala a uma atividade física para ganhar um corpo esbelto, não se iguala a uma atividade física de entretenimento, não é algo que se aprende para satisfazer a vaidade, ou para confrontar ao semelhante, ou simplesmente para “brincar” de luta numa disputa!
Karatê-Dô é uma "doutrina" prática formativa de valores e conceitos que servirão de um norte para todos aqueles que se comprometerem consigo mesmos pelo bem de suas vidas e da vida de todos os demais sem qualquer tipo de interesse matreiro ou condição ego centrado!
Portanto da próxima vez que você for honrar sua contribuição pelas lições que recebeu no Dojo, lembre-se, que além de um vasto conhecimento embasado e fundamentado numa cultura milenar, são aplicados direta e indiretamente no seu dia a dia! Portanto, o valor de uma única aula por si só tem o “preço” do sacrifício para se tornar uma pessoa cada vez melhor e desta forma demonstrar gratidão!

Prof. Sylvio Rechenberg