“... ele(O’Sensei) simplesmente não acreditava em chamar Karatê por um estilo. Era apenas Karatê para ele.”
domingo, 8 de junho de 2025
Atentai bem sobre esse texto publicado neste Blog Educativo em 2017.
“... ele(O’Sensei) simplesmente não acreditava em chamar Karatê por um estilo. Era apenas Karatê para ele.”
quarta-feira, 28 de maio de 2025
O Perigo do Orgulho ( por Gichin Funakoshi'O-Sensei)
Num início de noite, pouco depois de completar meu trigésimo aniversário, dirigia-me de Naha de volta para Shuri. A estrada estava solitária e ficou ainda mais solitária depois do Templo Sogenjí. À esquerda se estendia um cemitério, e nas proximidades localizava-se um grande reservatório de água onde nos dias há muito passados os guerreiros costumavam dar de beber a seus cavalos. Ao lado do reservatório encontrava-se uma área gramada com uma pequena plataforma de pedra no centro; os jovens de Okinawa vinham a esse lugar para testar sua força em confrontos de queda-de-braço.
Naquele anoitecer em particular, enquanto passava, vários jovens estavam entretidos no esporte. Como já observei anteriormente, a queda-de-braço de Okínawa é um pouco diferente daquela praticada no resto do Japão. Eu gostava muito do esporte e (devo confessar) não sentia falta de confiança. Parei e fiquei olhando por algum tempo.
De súbito, um deles gritou para mim, “Ei!, você! Venha cá e faça uma tentativa! A menos que tenha medo, naturalmente.” “Isso mesmo! “, acrescentou outro. “Não fique aí olhando. Isso não é educado!”
Eu não estava procurando encrenca mesmo; por isso disse, “Por favor, me desculpem, mas devo ir agora.” E retomei meu caminho. “Oh, não, você não vai!” E, com isso, dois deles correram na minha direção. “Fugindo?”, escarneceu um. “Você não tem boas maneiras?”, perguntou outro. Juntos, os dois me agarraram e arrastaram até a plataforma de pedra. Lá estava sentado um homem mais velho que entendi ser o juiz — e provavelmente o praticante de queda-de-braço mais forte do grupo.
Sem dúvida, eu poderia ter usado as habilidades que tinha adquirido e fugido sem dificuldade, mas decidi aderir ao esporte. Venci com facilidade o primeiro confronto, mantido com o jovem que parecia o mais fraco do grupo. O segundo jovem também foi uma vítima fácil. E o mesmo aconteceu com o terceiro, o quarto e o quinto. A essa altura, restavam apenas dois homens, um deles o juiz, e ambos pareciam oponentes fortes. “Bem”, disse o juiz, com um sinal de cabeça para o outro, “agora é sua vez. Está preparado para um embate com este estranho?” “Penso que não”, interferi. “Já tive o bastante, e tenho certeza de não poder vencer. Desculpem-me, por favor.” Mas eles eram insistentes. Meu adversário seguinte, com o cenho carregado, agarrou minha mão, de modo que não pude fazer outra coisa senão combater. Também esse confronto foi meu, e bem rapidamente. “Agora preciso ir mesmo”, eu disse. “Obrigado. Por favor, desculpem.” Aparentemente, dessa vez minhas desculpas foram aceitas.
Mas enquanto retomava o caminho para Shuri, tive uma sensação de que a caminhada não ficaria sem algum incidente. E estava certo, pois em pouco tempo ouvi sons atrás de mim. Por sorte minha, ao sair de casa cedo para ir a Naha, peguei um guarda-chuva, pois estivera chovendo. Agora que a chuva tinha parado, usava o guarda-chuva como bengala; decidi que serviria também como meio de defesa; assim, abri-o rapidamente e mantive-o protegendo a cabeça para prevenir um soco por trás.
Bem, vou encurtar a história. Embora houvesse sete ou oito no grupo, consegui esquivar-me de todos os golpes dirigidos contra mim, até que finalmente ouvi a voz do mais velho dizendo, “Quem é esse rapaz? Parece que ele conhece Karatê.” O ataque terminou. Os homens ficaram ao meu redor, olhando-me com raiva, mas não houve mais socos e nem tentativas de bater-me quando retomei a estrada.
Enquanto caminhava, ia recitando meus poemas favoritos, e ao mesmo tempo ficava atento a sons de movimentos furtivos, mas não ouvi nenhum. Quando cheguei a Shuri, estava cheio de remorso. Por que havia entrado no confronto da queda-de-braço? Teria sido por mera curiosidade? Mas a resposta verdadeira me veio à mente: era confiança excessiva em minha força. Numa palavra, era orgulho. Era uma violação do espírito do Karatê-Dō, e me sentia envergonhado. Mesmo ao contar a história agora, depois de transcorridos todos esses anos, ainda me sinto profundamente envergonhado.
Gichin Funakoshi'O-Sensei
domingo, 18 de maio de 2025
A fidelidade com o verdadeiro caminho da razão.
Dominar sequências de movimentos, conseguir chutar alto e veloz, conseguir fazer mil abdominais, mil flexões, dar conta de proezas atléticas, ser educado, disciplinado, ainda assim, apesar de admirável, todas essas coisas NÃO te transformam em um karateka!
O "caminho" do Karatê-Dō NÃO trata das virtudes de um atleta!
O "caminho" do Karatê-Dō trata de superar as fraquezas do ego, de lutar consigo mesmo para nunca desistir de "lutar", trata de sentir-se em paz consigo mesmo e com o mundo ao redor.
Para que haja essa paz, não pode haver conflito e, para que haja conflito, basta alimentar o teu ego!
Prof.Sylvio Rechenberg
quinta-feira, 8 de maio de 2025
O "Caminho Silencioso" (por D'Avila)
No silêncio do Dojō, antes do primeiro movimento, já começa o verdadeiro treino. Quando a voz se eleva para recitar os cinco princípios, não é apenas um ritual — é um pacto entre o corpo e o espírito, entre o guerreiro e o homem que escolheu crescer a cada queda.
Esforçar-se para a formação do caráter
Cada dia em que você veste o dōgi é uma escolha. A escolha de ser firme sem ser duro, de ser justo sem ser cego, de moldar a si mesmo como se molda o ferro — pelo calor do esforço e o frio da disciplina.
Fidelidade ao verdadeiro caminho da razão.
No Karatê-Dō, não há espaço para orgulho vazio. Há apenas o caminho — e ele exige honestidade. Com o outro. Com o mundo. Mas, sobretudo, com você mesmo.
Criar o intuito do esforço.
Você sabe o preço do retorno após a pausa. O suor que queima os músculos também aquece a alma. E a alma forjada no esforço nunca se quebra, apenas se curva — como o bambu que resiste ao vento.
Respeito acima de tudo.
A cada saudação, a cada rei, você aprende que a verdadeira força se curva. Não por submissão, mas por reverência. Ao oponente, ao sensei, à arte, e à dádiva de poder trilhar esse caminho com consciência.
Conter o espírito de agressão.
No cerne do Karatê-Dō, a mão que golpeia é a mesma que protege. Aprender a conter é mais difícil que aprender a atacar. Mas é aí que mora a essência: o controle absoluto, que só os fortes conhecem.
Jorge Luiz d'Avila
segunda-feira, 28 de abril de 2025
(Kara) o "vazio" do Karatê-Dō:
Além do óbvio, sem o uso de armas, o "Vazio" (Kara) representa uma constante busca por esvaziar o coração e a mente do egoísmo, da vaidade, da ambição, da prepotência, males que interferem no nosso dia a dia e que poluem o "foco" no correto auto aperfeiçoamento e na nossa paz interior.
O-Sensei'Funakoshi compara o praticante de Karatê-Dō a um (bambu verde), que por sua vez é "vazio" (Kara) por dentro, reto e com nó. Logo, sem nenhum interesse mundano, mantendo-se humilde, mas com retidão e disciplina nas suas ações.
O "vazio" é a verdadeira essência do Karatê-Dō, transcende as formas externas e técnicas, está enraizado num estado mental de constante clareza, permitindo assim agir com precisão:
... (A vacuidade, o vazio, jaz no coração de toda matéria e na verdade de toda a criação)...
... (Assim como um vale vazio pode ecoar o som, o praticante que se esvazia interiormente pode responder com eficácia às situações que enfrenta)...
(Gichin Funakoshi'O-Sensei)
sábado, 26 de abril de 2025
Vigília de Shoto 2025 (26 de abril)
Shoto era o pseudônimo que Funakoshi Gichin'O-Sensei usava para assinar os seus poemas. Amante das coisas simples e naturais, maravilhava-se, na sua juventude, com o ondular dos pinheiros batidos pelo vento marítimo nas vertentes dos montes onde se erguia o castelo de Shuri. Foi essa imagem da sua ilha natal de Okinawa que lhe inspirou o pseudônimo Shoto, o qual pode ser traduzido literalmente como "o pinheiro e o mar” e mais poeticamente como o "ondular dos pinheiros". Em 1935, os alunos mais antigos de Funakoshi'O-Sensei criaram uma fundação em honra do seu mestre, a qual tinha como primeiro objetivo reunir fundos para a construção de um Dojo. Em 1938, no dia em que, pela primeira vez depois das obras de construção estarem completamente prontas, o mestre franqueou o portão de entrada, virou-se para a direita para contemplar o belíssimo Dojo e deparou-se com uma inscrição escrita em caracteres brancos numa placa colocada sobre o alpendre de entrada - Shotokan. Essa expressão pode ser traduzida de uma forma simples por “Casa Shoto”, mas é provável que o sentir dos alunos na altura exigisse uma tradução mais formal – “o Paço de Shoto”. Na sua localização original, o Shotokan situava-se no bairro de Toshima, em Tóquio, um pouco ao norte da célebre Universidade de Waseda. Tendo sido o primeiro Dojo a ser erguido para a prática do Karatê-Dō no Japão e pertencendo ao homem que, 16 anos antes, em 1922, introduzira a sua prática na ilha central do Japão, compreende-se que se tenha tornado praticamente um local de culto para todos os karatekas dessa época e das gerações seguintes. Progressivamente, e por mera associação de ideias, os mestres primeiro, depois os alunos, passaram a ser conhecidos como os homens do Shotokan e o comitê originalmente criado em 1935 para a recolha de fundos para a construção do Dojo, que geriu depois a construção da obra, iniciada em 1936 e que, em julho de 1939, promoveu a sua inauguração formal perante as mais altas celebridades da época, passou a ser conhecido por Shotokai – expressão que pode ser traduzida simplesmente por “Associação (de amigos) de Shoto” ou, de modo mais formal, por “Fundação Funakoshi”. Esta associação era composta pelos alunos mais antigos de Funakoshi'O-Sensei – com destaque para o seu terceiro filho Funakoshi Yoshitaka, Saigo Kichinosuke, Obata Isao, Egami Shigeru e Hironishi Genshin. (C) Copyright: José Patrão, 2000 - 2003
A escola Shotokan de O-Sensei em 1936 ano da inauguração.domingo, 20 de abril de 2025
É Páscoa em 2025
Que a ressurreição do Senhor Jesus Cristo, o nosso Salvador, filho de Deus, o Criador de todas as coisas, possa renovar em todos nós a fé e a esperança na vida eterna!
Feliz Páscoa!
sexta-feira, 18 de abril de 2025
Quando "lutar" vale a pena!
Todo caminho que leva ao conflito cada vez mais se distancia da Paz e todo "caminho" que leva a "Paz" cada vez mais se distancia do "conflito". No Karatê-Dō aprende-se a lutar para "não lutar"!
Prof.Sylvio Rechenberg
terça-feira, 8 de abril de 2025
Carregamos conosco!
Todos os dias, podemos, se quisermos realmente, encontrar minutos "vazios", aqueles momentos em que não temos nada o que fazer. Esses minutos estão por aí ao nosso redor durante as várias horas do dia, é só aprender a observar a si mesmo e aproveitá-los.
Durante anos no Karatê-Dō, entre outras tantas coisas, estudamos, aprendemos e praticamos Kata.
Kata, quando atentamos, passa a ser o "norte", onde tudo o que praticamos tem relação com ele, é uma cartilha, por onde nos orientamos para que qualquer coisa que praticamos seja feita como um Kata, da forma correta, de acordo com esse código confiado a nós pelas antigas gerações que os cultivaram com sabedoria milenar.
O Kihon, que aprendemos antes mesmo de aprendermos algum Kata, já é por si só parte de um Kata, portanto é onde aprimoramos todos os aspectos que o compõem e que definem e amadurecem a intenção por trás de cada ação.
Então, quando estivermos naquele minuto do dia, em que temos a oportunidade de praticar, que o façamos, dando-lhe vida, vida ao movimento, ao Kata que carregamos para lá e para cá, onde quer que estejamos, independente de como nos encontramos. O Kata que estudamos, aprendemos e praticamos é para o nosso único e próprio benefício!
Prof. Sylvio Rechenberg
sexta-feira, 28 de março de 2025
O Kata “papagaio”!
Repetir uma frase sem, contudo, compreender e não vivenciar nem dentro e nem fora do Dōjo o que se está dizendo ao repeti-la, ou seja, repetir por conveniência, ou por hábito, ou porque faz parte da etiqueta, ou por mera formalidade, de nada vai adiantar, de nada vai acrescentar, não tem valor algum, é a mesma coisa que ensinar um papagaio a “falar”!
Então, mesmo que se pronuncie o (Dōjo-Kun) antes e depois
das aulas, ou que se leia o livro dos 20 Princípios fundamentais do Karatê-Dō de
O-Sensei, o (Niju-Kun), isso tudo não vai adiantar de nada para formar uma
compreenção correta da Honorável Arte e muito menos irá servir como modelo na
formação do caráter de um praticante, se ele continuar a agir como um leigo, como
uma pessoa comum, como alguém que não tem nada a ver com o Karatê-Dō, alguém
que só participa mas não se envolve, não assume a responsabilidade como
karateka, mas que "se julga ser"!
terça-feira, 18 de março de 2025
Do livro de O-Sensei’Funakoshi, (Karatê-Dō - Meu modo de vida). Parte II
Um relato de Genshin Hironishi’Sensei, (Presidente do Karatê-Dō Shoto-kai do Japão).
...Existem muitas histórias sobre este homem extraordinário, grande parte delas contada por ele mesmo nas páginas seguintes. Algumas talvez, a esta altura, pertençam já ao reino da lenda, enquanto outras não receberam a atenção de Funakoshi’O-Sensei por serem parte tão intima de seu modo de vida que sequer estava consciente delas. Ele jamais se desviou de seu modo de vida, “o modo do samurai”. Ao jovem japonês do mundo pós-guerra, quase tanto quanto ao leitor estrangeiro, Funakoshi’O-Sensei talvez pareça um tanto extravagante, mas ele estava apenas seguindo o código moral e ético de seus ancestrais, um código que existia muito antes que houvesse algo como uma história escrita em Okinawa. Ele conservava os tabus ancestrais.
Por exemplo, a cozinha era um território proibido para um homem de sua classe, e Funakoshi’O-Sensei, tanto quanto é do meu conhecimento, jamais entrou nela. E também nunca se dispôs a pronunciar os nomes de objetos tão mundanos como meias ou papel higiênico, visto que — mais uma vez segundo o código que seguia rigorosamente — essas palavras estavam associadas como que era considerado impróprio ou indecente.
Para nós que estudamos sob sua orientação, Funakoshi’O-Sensei era um mestre notável e muito reverenciado, mas temo que aos olhos de seu jovem neto Ichiró (agora coronel da Força Aérea de Auto-defesa) ele fosse apenas um velho teimoso. Lembro-me muito bem de uma ocasião em que Funakoshi’O-Sensei deparou com um par de meias jogado no chão. Gesticulando para Ichirõ, disse, “Guarde aquelas coisas!” “Não compreendo”, disse Ichitõ com um ar de absoluta inocência. “O que quer dizer com ‘aquelas coisas’?” “Sim”, disse Funakoshi’O-Sensei, “aquelas coisas, aquelas coisas!” “Aquelas coisas, aquelas coisas!”, arremedou Ichirõ. “Você não conhece a palavra para ‘aquelas coisas’?” “Eu disse para guardar aquelas coisas imediatamente! repetiu Funakoshi’O-Sensei, e Ichirõ foi obrigado a dar-se por vencido. Sua armadilha falhara; como o fizera durante toda a sua vida, seu avô ainda se recusava inflexivelmente a pronunciar a palavra “meias”.
No decorrer do livro, Funakoshi'O-Sensei descreve alguns de seus hábitos diários. Por exemplo, a primeira coisa que fazia ao se levantar pela manhã era escovar e pentear o cabelo, um processo que às vezes ocupava uma hora inteira. Ele costumava dizer que um samurai deve estar sempre limpo. Depois de tornar-se apresentável, voltava-se na direção do Palácio Imperial e inclinava-se profundamente; em seguida, voltava-se na direção de Okinawa e fazia inclinação semelhante. Só depois de concluir esses ritos todos é que tomava seu chá matinal.
...O-Sensei’Funakoshi
foi um exemplo magnífico de um homem de sua categoria nascido no começo do
período Meiji, e atualmente restam poucos homens no Japão dos quais se pode
dizer que observam um código semelhante. Sou muito agradecido por ter sido um
de seus discípulos e apenas posso lamentar que ele não se encontre mais entre
nós.
Genshin
Hironishi’Sensei (Foi Presidente do Karatê-Dō
Shōtō-kai do Japão e de total confiança de O-Sensei'Funakoshi)
sábado, 8 de março de 2025
Do livro de O-Sensei’Funakoshi, (Karatê-Dō - Meu modo de vida). Parte I
Um relato de Genshin Hironishi’Sensei, (Presidente do Karatê-Dō Shoto-kai do Japão)
“...A origem do Karatê-Dō permanece impenetravelmente oculta pelas névoas da lenda, mas pelo menos conhecemos este fato: ele se enraizou e é amplamente praticado em toda a Ásia, entre povos que professam credos tão distintos como o budismo, o islamismo, o hinduísmo, o bramanismo e o taoísmo.
No transcurso da história humana, artes de autodefesa específicas atraíram seus próprios seguidores em várias regiões da Ásia, mas existe uma semelhança subjacente básica entre todas elas. Por esta razão, de um modo ou de outro, o Karatê-Dō se relaciona com as outras artes de autodefesa orientais, embora (penso poder afirmar) seja ele, atualmente, a mais praticada de todas.
O
inter-relacionamento se evidencia de imediato quando comparamos o motivo por trás
da filosofia moderna com o da filosofia tradicional. A primeira tem suas raízes
lançadas na matemática; a última, no movimento físico e na técnica. Os
conceitos e ideias, as línguas e os modos de pensar orientais foram modelados,
até certo ponto, por sua conexão intima com as habilidades físicas. Mesmo
naquelas situações em que as palavras, e as ideias, passaram por mudanças de
sentido inevitáveis no decorrer da história humana, descobrimos que suas raízes
permanecem solidamente encravadas em técnicas físicas.
Há um ditado budista que, como muitas outras máximas do budismo, é manifestamente autocontraditório, mas, para o karateka, confere um significado especial à sua prática técnica. Traduzido, o ditado reza, ‘Movimento é não-movimento, não-movimento é movimento. Esta é uma tese que, mesmo no Japão contemporâneo, é aceita pelos educadores e, devido à sua familiaridade, a máxima pode ser até mesmo abreviada e utilizada adjetivalmente em nossa língua.
Um japonês que busque ativamente a auto iluminação dirá que está “treinando sua barriga” (hara wo neru). Embora a expressão possa ter implicações amplas, sua origem se encontra na necessidade óbvia de enrijecer os músculos do estômago, um pré-requisito para a prática do Karatê-Dō, que é, afinal de contas, uma técnica de combate. Levando os músculos do estômago a um estado de perfeição, o karateka é capaz de controlar não somente os movimentos de suas mãos e pés, mas também sua respiração.
O Karatê-Dō deve ser quase tão antigo quanto o homem, que desde seus primeiros dias se viu obrigado a enfrentar, desarmado, as forças hostis da natureza, animais selvagens e inimigos entre seus semelhantes humanos. Ele logo aprendeu, criatura insignificante que é, que em seu relacionamento com as forças naturais a acomodação era mais sensata que a luta.
Entretanto, onde havia um equilíbrio
maior, nas hostilidades inevitáveis com os seus semelhantes, ele foi obrigado a
desenvolver técnicas que lhe permitissem defender a si mesmo e, esperançosamente,
derrotar o inimigo. Para que isso acontecesse, aprendeu que tinha de ter um
corpo saudável e forte. Assim, as técnicas que começou a desenvolver — as
técnicas que por fim foram incorporadas ao Karatê-Dō são uma feroz arte de
combate, mas são também elementos da absolutamente importante arte da
autodefesa.
No Japão, o termo sumô aparece na antologia poética mais antiga do pais, o Man‘yõshú. O sumô daquele tempo (século oitavo) integrava não somente as técnicas que encontramos no sumô atual, mas também as do judô e do Karatê-Dō; este último teve um desenvolvimento maior devido ao incentivo do budismo, visto que os monges o utilizavam como um meio de percorrer o caminho rumo à auto iluminação. Nos séculos sétimo e oitavo, budistas japoneses viajaram para as cortes de Sui e T’ang, onde aprenderam a versão chinesa da arte, trazendo para o Japão alguns de seus aperfeiçoamentos.
Durante muitos anos, aqui no Japão, o Karatê-Dō continuou confinado nos largos muros dos templos, de modo particular dos do budismo zen; aparentemente, não era praticado por outras pessoas até que os samurais começaram a treinar no recinto dos templos e assim ficaram sabendo da existência da arte. Como o conhecemos atualmente, o Karatê-Dō foi aperfeiçoado, nos últimos cinquenta anos, por Gichin Funakoshi’O-Sensei.”...
Fim da primeira parte.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
O ver e o enxergar!
Muitas vezes olhamos para o céu e vemos as nuvens pairando ao redor e por cima de nós, algumas densas outras nem tanto, mas que de dia escondem o sol e de noite a lua e a vastidão de estrelas definindo a formosura da criação!
Assim é o mundo interior que carregamos dentro de nós,
muitas vezes olhamos para o “nosso” mundo e o vemos assim, as vezes denso e
outras vezes nem tanto, mas que não nos permite enxergar o que nos faz brilhar,
que nos faz “respirar” e que nos permite superar problemas que nem sonhamos
suportar, mas que podemos enfrentar.
O-Sensei’Funakoshi através de um Kata, que resume todos os
outros, o qual denominou “a criação” (Taikyoku), já nos mostrava que as mais
variadas formas, (Kata), que existem para aprender e praticar, se traduzem em
um simples, mas poderoso Kata, é onde tudo está, não pela aparência, mas pela consciência
de a partir de lá manifestar todos os demais.
Então, quando o “mundo” parecer triste e sem cor, saiba que
ali também existe, muito além do que se vê, uma infinidade de formas, de
oportunidades e de capacidades de se fazer acontecer!
terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
O que é Budō?
*O texto a seguir está publicado em nosso blog. (em 2009 / 2016 / 2019).
(Comentado pelo amigo pessoal de O-Sensei’Gichin Funakoshi,
O-Sensei'Morihei Ueshiba fundador do Aikido).
ATENÇÃO: Leia e releia até compreender!
Este é o real significado do "Caminho = Dō" que O'Sensei Funakoshi tanto insistiu para que fosse compreendido e incorporado em seu amado Karatê-Dō a partir de meados de 1929!
sábado, 8 de fevereiro de 2025
O teu Kata ainda é o mesmo de algum tempo atrás?
Deveria estar melhor...
Se parar para pensar, um segundo já se foi, pois antes mesmo de saber
do presente, o segundo já é ausente e impossível de recuperar...
Assim é o teu Kata, se não o praticas todos os dias e
aproveitas a oportunidade que se manifesta a você de dar vida ao movimento,
esse tempo escapará e se perderá para sempre.
E se no momento seguinte você também não permitir se expressar, talvez por preguiça, desanimo, uma indisposição qualquer, ou até esquecimento ou falta de tempo, então meu amigo é porque realmente você ainda não está preparado para dele merecer o que ele tem para oferecer ao teu mundo real.
É mais uma chance perdida na tua história e menos outra
chance de construir a tua memória.
Um “karateka” só merece tal denominação se o fato de fazer
um Kata já se tornou parte da sua natureza, do seu comportamento, do seu modo
de pensar e agir em conformidade e harmonia com a Honorável Arte que um dia escolheu
praticar!
O teu Kata ainda é o mesmo de algum tempo atrás?
Deveria estar melhor...
terça-feira, 28 de janeiro de 2025
Respeito acima de tudo é comprometer-se!
Você que se julga karateka, que
segue o “caminho” do Karatê-Dō, que concorda que um Dōjo não é uma academia, que
em um Dōjo, o teu “comportamento” é a principal razão da prática e que a
prática está relacionada com a tua maneira de “ser”, preste muita atenção como
o “caminho” trata as seguintes situações abaixo:
*EU - O quimono está molhado me
impedindo de praticar!
“o caminho” - E na rua você
precisará de quimono?
*EU -
Me pediram pra faltar, não consegui negar!
“o caminho” - Só alguém que não
pratica iria te desviar, cuidado!
*EU - É feriado estou livre de
praticar!
“o caminho” - Você quer dizer, (livre para praticar) não é
mesmo?
*EU - Hoje tem festa, não posso
praticar!
“o caminho” - Para você, festa vem primeiro?
*EU - Marquei “compromisso” nesse
horário, sempre os cumpro!
“o caminho” - Entendi, compromisso é coisa (séria), principalmente
aqui!
*EU - Estou esgotado, não vou
aguentar, não quero passar vergonha!
“o caminho” - Cuidado, na rua esgotado ou não, lá se pode passar da
vida para a morte!
*EU - Ainda estou dolorido, sem
condições, não consigo acompanhar!
“o caminho” - E se for pra salvar a sua vida ou de quem você
ama de que maneira você agiria?
*EU - Estou desanimado, isso me
impossibilita de praticar!
“o caminho” - Na rua o teu desanimo sempre anima o ladrão!
*EU - Combinei com uma visita no
horário da aula, preciso faltar!
“o caminho” - Na rua uma certa "visita" nunca combina nada e você
terá que enfrentar!
*EU - Marquei consulta no horário
da aula, sem chance de praticar!
“o caminho” - Sempre é bom consultar um bom médico para valorizar
a saúde e parar de faltar!
*EU - Meu braço está sem
condições de praticar!
“o caminho” - Mas, e o outro?
*EU - A aula vai me “matar”,
impossível de praticar!
“o caminho” - Melhor enfrentar uma aula do que um agressor de
verdade!
*EU - O tempo está insuportável,
vou faltar!
“o caminho” - Alguns se acomodam, outros fazem do "limão" uma
limonada!
*EU - Estou atrasado meia hora,
não vou praticar!
“o caminho” - Praticar mesmo que um minuto é melhor do que
não praticar!
*EU - Não gosto das cobranças, vou
desistir!
“o caminho” - Quanto mais sou cobrado, mais preciso
melhorar!
Prof.Sylvio Rechenberg
sábado, 18 de janeiro de 2025
Karatê-Dō e os seus pré-requisitos!
Humildade: submeter-se, aceitar limites, ser respeitador!
- Você se incomoda quando recebe
um golpe descontrolado?
Lembre-se: A vida nos dá muitos
golpes, por todos os lados!
- A humildade não existe com o
ego, aniquile-o!
Paciência: saber esperar, cultivar a prudência, disposição
ilimitada e continuada!
- Você se incomoda em repetir,
repetir e repetir mil vezes repetir até a exaustão?
Lembre-se: As rotinas fazem parte
da vida que todos os dias teremos que enfrentar!
- A paciência é a maior das virtudes, cultive-a!
Comprometimento: doar-se, entregar-se integralmente, assumir responsabilidades!
- Você faz e age como sabe que
deve fazer e agir sendo praticante de Karatê-Dō?
Lembre-se: A saúde, a família, o trabalho
e o Karatê-Dō exigem atenção!
- O comprometimento gera o
sucesso!
Fidelidade: ser incorruptível, blindar-se do ego, incorporar-se,
enraizar-se!
- Você se deixa induzir,
influenciar, coagir pelas coisas que te rodeiam?
Lembre-se: Na vida existem milhões
de inimigos!
- Enquanto um caráter é virtuoso o
outro é duvidoso!
Perseverança: constância permanente no “Caminho”, ter bom ânimo,
jamais desistir!
- Você sente vontade de desistir
quando percebe a própria fraqueza?
Lembre-se: Respiramos da mesma
maneira desde o dia em que nascemos!
- Enquanto existir vida existe a esperança,
persevere e nunca desista da "luta"!
Disciplina: ter autocontrole, esforçar-se nas virtudes, confrontar-se!
- Você se sente motivado na
fraqueza ou a fraqueza desmotiva o teu sentir?
Lembre-se: A vida no corpo de uma
criança luta todos os dias para amadurecer!
- O espírito está num corpo que a
mente pode ajudar a transformar!
Dedicação: honrar o seu “tempo exclusivo” para a prática efetiva da
Arte!
- Você cultiva o teu Karatê-Dō
com verdade, sinceridade e amor?
Lembre-se: A vida é emprestada para
nós todos os dias, mesmo em nós, não é nossa, mesmo assim, precisamos zelar por
ela incondicionalmente!
- Sem uma ação dedicada em "construir" o que se pode concluir?
Prof.Sylvio Rechenberg
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
Ser "Faixa Preta"! (Texto resumido)
Por reverendo Kensho Furuya - Aikikai (In Memorian):
...., acho que os falsos conceitos em geral sobre “o que é
uma faixa preta” devem ser esclarecidos tanto quanto possível. Este não é um
assunto muito popular para ser discutido da forma como o farei. Sem dúvida,
advirto meus alunos a não fazer essa pergunta em primeiro lugar. A resposta não
é aquela que eles querem ouvir.
...Quando você compreende que a faixa preta não é tão
importante quanto à prática em si, provavelmente está se aproximando do nível
de faixa preta. Quando você compreende que não importa quanto tempo ou quão
duro você treine, há uma vida inteira de estudo e prática à sua frente até a
morte, você provavelmente está chegando perto da faixa preta.
Seja qual for o nível que você obtenha, se você achar que
“merece” uma faixa preta ou se achar que você agora “é bom o bastante” para ser
um faixa preta, você está fora do caminho e, sem dúvida, muito distante para alcançá-la. Treine duro, seja humilde, não se exiba diante do seu mestre ou de
outros alunos, não reclame de nenhum encargo e dê o seu melhor em tudo. Este é
o significado de ser um faixa preta.
...Aquilo que vestem ao redor da cintura não passa de uma
peça de comércio comprada por uns poucos dólares em alguma loja de artigos para
artes marciais.
A verdadeira faixa preta, usada por um verdadeiro possuidor
de uma faixa preta, é a faixa branca do principiante, tingida de preto pela cor
do seu sangue e do seu suor.
O primeiro nível de faixa preta é chamado em japonês de
shodan, palavra que significa literalmente “primeiro nível”. O ideógrafo para
Sho (primeiro) é muito interessante. Ele é formado de dois radicais que
significam “roupa” e “faca”. Para fazer uma peça de vestuário é preciso primeiro
cortar o molde no tecido. O padrão determina o estilo e aparência do produto
final. Se o padrão está fora de proporções ou contém erros, as roupas terão má
aparência e não vestirão bem. Do mesmo modo, seu treinamento inicial para
atingir a faixa preta é muito importante; ele determina como você se
desenvolverá como faixa preta.
...Existe uma famosa estória sobre Yagyu Matajuro, que foi
um filho da famosa família Yagyu de espadachins do Japão feudal, no século
XVII. Ele foi expulso de casa por sua falta de talento e potencial, e tornou-se
discípulo do mestre espadachim Tsukahara Bokuden, com a esperança de atingir a
maestria na espada e reaver sua posição no clã Yagyu. Em sua entrevista
inicial, Matajuro perguntou a Bokuden, “Quanto tempo levará para que eu me
torne um mestre na espada?” Bokuden respondeu, “Oh, cerca de cinco anos se você
treinar com afinco.” “Se eu treinar duas vezes mais duro, quanto tempo levará?”
tornou Matajuro. “Nesse caso, dez anos”, respondeu Bokuden.
O que você deve focar, se você não está concentrado em obter
sua faixa preta? É mais fácil dizer do que fazer, mas você deve focar sua
energia na prática. Porém, pensar, “Eu vou me concentrar em meu treinamento
para obter uma faixa preta”, é simplesmente brincar com jogos mentais que ao final
conduzirão você ao desapontamento.
...Você deve perceber também que embora você domine todos os
pré-requisitos, o número correto de técnicas, todas as formas requeridas, e
tenha o número apropriado de horas de treinamento, você pode não se qualificar para
a faixa preta.
Alcançar faixa preta não é uma questão quantitativa que pode
ser medida ou pesada. Sua faixa preta tem a ver com você como pessoa. Como você
se conduz dentro e fora do Dōjo, sua atitude com seu professor e seus colegas
estudantes, seus objetivos na vida, como você enfrenta os obstáculos que lhe
aparecem, e como você persevera em seu treinamento, são todas importantes
condições para a faixa preta. Ao mesmo tempo, você se torna um modelo para
outros estudantes e eventualmente atinge o status de professor ou instrutor
assistente.
...Pense sobre perder a faixa preta, e não em ganhá-la.
Sawaki Kodo , um mestre Zen, freqüentemente dizia: “Ganhar é sofrimento; perder
é iluminação.” Se alguém perguntar a diferença entre praticantes de hoje e do passado,
eu responderia que os praticantes do passado viam o treinamento como “perda”.
Eles abandonavam tudo por sua arte e sua prática. Famílias, trabalho,
segurança, fama, dinheiro, para desenvolverem-se a si próprios. Hoje, eles
apenas pensam em ganhar. “Eu quero isto, eu quero aquilo.” Nós queremos
praticar artes marciais, mas também queremos dinheiro, fama, telefones
celulares e tudo que qualquer um possa ter.
Quando o estudante olha seu treinamento do ponto de vista da
perda em vez do ganho, ele se aproxima do espírito da maestria, e
verdadeiramente torna-se valoroso como faixa preta. Só quando você finalmente
desiste de seus pensamentos sobre exames e faixas, fama, dinheiro e a própria
maestria na arte, você alcança que o mais importante é sua prática.
...Estudar arte marcial é estudar você mesmo - seu
verdadeiro “Eu”. Isto nada tem a ver com graduações. Um grande mestre Zen disse
uma vez: “Estudar o Eu é esquecer o Eu. Esquecer o Eu é compreender todas as
coisas”.
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