"Os que seguirem o Karatê
desenvolverão coragem e resistência. Quem treinar de forma verdadeira e
compreender realmente o “Dô” do Karatê, nunca é facilmente arrastado para um
combate".
“Dô” tem um sentido superior no
nosso treino e na nossa própria disciplina, não se trata apenas de nos
tornarmos fortes e eficazes na aplicação das técnicas da nossa Arte Marcial,
mas, acima de tudo, de nos desenvolvermos física e espiritualmente enquanto
pessoas.
Falo sobretudo para aqueles que
praticam uma Arte Marcial e cujo nome está indissociavelmente ligado ao “Dô” de
que falava o mestre Funakoshi (Karatê-Dô). Para estes uma Arte Marcial é
baseada em princípios milenares de “ honra e de respeito “. E esses princípios
começam e acabam na relação do mestre com o seu discípulo. Uma relação cujos
laços são mais estreitos do que os próprios vínculos de família e que
transcendem a raça e a nacionalidade.
Será que sempre que nos
recolhemos na posição de “Seiza”, compreendemos e nos identificamos realmente,
com esses princípios de honra, respeito e etiqueta; será que aceitamos
verdadeiramente o rígido código de honra, que a partir do nosso interior, devia
orientar a nossa conduta de vida?
No esforço de tornar as Artes Marciais
populares e acessíveis a muita gente, estas estão se transformando numa
indústria, comprometendo princípios fundamentais que nunca deveriam ser
comprometidos. A nossa “Arte” que nos apresenta em reverência ao “Dô” que tanto
desejamos compreender e alcançar, não foi concebida para dar dinheiro. Não é um
negócio, é uma relação física e espiritual entre professor e aluno. É uma forma
de fazer passar a sabedoria à nova geração, de fazer passar a cultura e a
técnica para a geração seguinte. E isso nada tem a ver com dinheiro e com o
lucro. Tem a ver, talvez, com os tempos que vivemos. Estes tempos em que o
Mosteiro de Shaolin recebe anualmente a visita de mais de um milhão de turistas
e onde os monges vendem T-shirts estampadas com a figura de Bodhidharma.
Armando P.