quarta-feira, 18 de junho de 2025

Para que é esse Kata?

Você que pensa que "dominou" um Kata e o pratica por saber que será cobrado em algum momento e, portanto, o executa para não esquecer da sua "forma", da sua feitura, saiba então que você está completamente equivocado com esse tipo de atitude! 

Você está preocupado em não esquecer, em não passar vergonha quando for cobrado para executá-lo, você está preocupado de que na hora de uma sabatina talvez não consiga lembrá-lo.

Mas não se pratica Kata para isso!

A menos é claro, que você esteja começando a manter os primeiros contatos com essa "forma" (Kata) e se apropriando de como essa "forma" deve ser executada, ou de como é formada essa "forma", para que ela seja corretamente praticada.

Para aprender corretamente um Kata o tempo de uma vida ainda não será o suficiente, principalmente se você o pratica somente quando está no Dôjo!

Então, se você frequentasse o Dôjo regularmente três vezes por semana e executasse esse mesmo Kata uma vez em cada aula, no final de um ano de prática, você teria executado 156 vezes esse único Kata.

Então, repetindo 156 vezes uma sequência de movimentos que visam a "autodefesa", você garante que ao final desse ano você estará preparado para aplicar parte desses movimentos nas vias de fato em um conflito físico real?

Se você praticar as técnicas que compõem esse Kata, isoladamente, inúmeras vezes em cada aula no Dôjo, talvez no final de um ano, algumas dessas técnicas tenham uma certa eficiência, se forem aplicadas corretamente, mas mesmo assim ainda não estarão absorvidas, ainda não estarão incorporadas a um estado de ação e reação instintivos necessários para uma situação de conflito real.

E isso sem contar com o teu calejamento para suportar impactos nas partes do corpo que serão utilizadas para atacar e defender ao executar essas técnicas, quanto no teu condicionamento físico geral de resistência para suportar socos e ponta pés, bem como se manter assim o tempo que for necessário. 
   
Portanto, num confronto real, a emoção do medo, o estresse, a ansiedade, farão você paralisar, farão você esquecer tudo o que aprendeu, farão você agir descoordenadamente, involuntariamente e desesperadamente para tentar sair vivo daquela situação. 
  
Então, considerando o Kata como uma ferramenta capaz de qualificar ações dinâmicas marciais que devem ser incorporadas, compreendidas e aplicadas, não contra um, mas contra vários adversários, certamente esse objetivo ainda estará muito longe de ser alcançado.

Logo, a questão então não é praticar para não esquecer, mas praticar para sobreviver em uma eventual situação de conflito físico real.
 
Somente assim esse Kata se tornará parte de você, onde você poderá se valer das suas reais finalidades, pelas quais foi criado e passado de geração em geração para ser assim praticado e incorporado ao instinto de sobrevivência que está presente em cada um de nós!

Prof.Sylvio Rechenberg