"LUTAR" para “ganhar” de alguém!
Mas ganhar de quem “verdadeiramente”?
De alguém que também quer “LUTAR” para “ganhar” de alguém,
logo, competirão entre si!
No entanto, o “Karatê” JAMAIS foi criado para
competir! Mas, foi criado pela
necessidade de sobreviver, para resistir, para poder se defender de todo tipo
de conflitos, externos e internos, que coloquem em risco a própria vida e ou a vida
das outras pessoas.
E consequentemente, no Karatê-Dō não se "LUTA" para “ganhar”, mas
se "LUTA" para “se manter vivo”!
Compreender isso muda tudo!
A “LUTA” é o último estágio de aprendizagem num Dōjo de Karatê-Dō,
considerando os seus três aspectos de formação: KIHON, KATA E KUMITE, e ainda assim,
o KUMITE é subdividido em várias etapas de estudo e aprimoramento, mas sempre
levando em consideração, como premissa, de “LUTAR” para “se manter vivo”!
Contudo, para compreender isso é preciso ter a "maturidade
necessária", tanto como indivíduo com relação ao mundo, como também como
estudante com relação a um Dōjo de Karatê-Dō!
Mas, a lamentável realidade desses tempos modernos mostra uma
tendência equivocada e completamente desvirtuada dos ensinamentos das antigas
gerações de karatekas!
O-Sensei’Funakoshi já advertia sobre isso!
Então vejamos:
Na competição, o foco não é a sobrevivência, o foco é a ânsia
de ganhar e de poder se exibir frente aos demais, mostrar que se é melhor que o
outro, e assim dar “recompensa” ao ego, maquilando a estima!
Justamente o que deve ser combatido e eliminado da prática
do Karatê-Dō!
E se não houvesse plateia não teria tanta “graça” em “LUTAR”,
afinal de contas, não teria ninguém para enaltecer o tal feito, não haveriam
elogios, não haveriam bajulações, não haveria como mostrar aos outros algum
“resultado” deste tipo de confronto não é mesmo?
Logo, para que "LUTAR" sem a necessidade da sobrevivência?
A resposta é simples, "LUTAR" para se testar!
DESDE QUE:
O ato de "LUTAR" carregue consigo, uma total sinceridade e
honestidade, um estado de espírito completamente desprovido do ego, sem querer
se vangloriar, sem se esnobar, sem se enaltecer, sem querer se destacar, sem se
admirar, sem se considerar superior ao outro, sem desconsiderar o outro, sem menosprezar
o outro, sem subjugar o outro, sem querer se promover as custas do outro e sem
sentir-se feliz e realizado por ter derrotado outra pessoa numa “LUTA”!
Então, provido com esse estado de “vazio interior”, “LUTAR”
para se testar realmente, porém, sem nenhuma
pretensão na vontade do ego, mas, “LUTAR” movido unicamente pela razão e jamais
pela emoção, evidenciando um caráter virtuoso, esforçando-se com sinceridade e
transparência absoluta, promovendo sobre tudo o respeito pela vida, pelo
próximo, e conter-se do espírito de “agressão”, e dessa forma, se auto
aperfeiçoar continuadamente em todos esses aspectos!
Então eu pergunto:
Numa fase onde os valores estão sendo construídos,
desenvolvidos e enraizando, tanto dentro como fora do Dōjo, portanto,
despertando uma visão de mundo, da sociedade e do próximo, o que se pode
esperar do comportamento de “praticantes” ensinados
e incentivados, durante os seus anos de
formação já fazendo-os “LUTAR” entre si, visando um confronto pessoal pela disputa,
com “LUTAS” evidenciando o “melhor”?
E pior ainda, fazendo uma projeção de futuro, o que se pode esperar
numa situação real de “conflito” ao longo da vida, onde esses mesmos “praticantes”
que se apaixonaram pelos seus “feitos”, encorajados e instigadas pelos
modismos, agora terão que colocar em evidencia as suas virtudes e as suas reais
capacidades de ação, supostamente trabalhadas corretamente num Dōjo de Karatê-Dō?
Prof.Sylvio Rechenberg