sábado, 18 de março de 2023

"LUTAR"

"LUTAR" para “ganhar” de alguém!

Mas ganhar de quem “verdadeiramente”?

De alguém que também quer “LUTAR” para “ganhar” de alguém, logo, competirão entre si!

No entanto, o “Karatê” JAMAIS foi criado para competir!  Mas, foi criado pela necessidade de sobreviver, para resistir, para poder se defender de todo tipo de conflitos, externos e internos, que coloquem em risco a própria vida e ou a vida das outras pessoas.

E consequentemente, no Karatê-Dō não se "LUTA" para “ganhar”, mas se "LUTA" para “se manter vivo”!

Compreender isso muda tudo!

A “LUTA” é o último estágio de aprendizagem num Dōjo de Karatê-Dō, considerando os seus três aspectos de formação: KIHON, KATA E KUMITE, e ainda assim, o KUMITE é subdividido em várias etapas de estudo e aprimoramento, mas sempre levando em consideração, como premissa, de “LUTAR” para “se manter vivo”!

Contudo, para compreender isso é preciso ter a "maturidade necessária", tanto como indivíduo com relação ao mundo, como também como estudante com relação a um Dōjo de Karatê-Dō!   

Mas, a lamentável realidade desses tempos modernos mostra uma tendência equivocada e completamente desvirtuada dos ensinamentos das antigas gerações de karatekas!

O-Sensei’Funakoshi já advertia sobre isso!

Então vejamos:   

Na competição, o foco não é a sobrevivência, o foco é a ânsia de ganhar e de poder se exibir frente aos demais, mostrar que se é melhor que o outro, e assim dar “recompensa” ao ego, maquilando a estima!

Justamente o que deve ser combatido e eliminado da prática do Karatê-Dō!

E se não houvesse plateia não teria tanta “graça” em “LUTAR”, afinal de contas, não teria ninguém para enaltecer o tal feito, não haveriam elogios, não haveriam bajulações, não haveria como mostrar aos outros algum “resultado” deste tipo de confronto não é mesmo?

Logo, para que "LUTAR" sem a necessidade da sobrevivência?

A resposta é simples, "LUTAR" para se testar!

DESDE QUE:

O ato de "LUTAR" carregue consigo, uma total sinceridade e honestidade, um estado de espírito completamente desprovido do ego, sem querer se vangloriar, sem se esnobar, sem se enaltecer, sem querer se destacar, sem se admirar, sem se considerar superior ao outro, sem desconsiderar o outro, sem menosprezar o outro, sem subjugar o outro, sem querer se promover as custas do outro e sem sentir-se feliz e realizado por ter derrotado outra pessoa numa “LUTA”!

Então, provido com esse estado de “vazio interior”, “LUTAR” para se testar realmente, porém,  sem nenhuma pretensão na vontade do ego, mas, “LUTAR” movido unicamente pela razão e jamais pela emoção, evidenciando um caráter virtuoso, esforçando-se com sinceridade e transparência absoluta, promovendo sobre tudo o respeito pela vida, pelo próximo, e conter-se do espírito de “agressão”, e dessa forma, se auto aperfeiçoar continuadamente em todos esses aspectos!

Então eu pergunto:

Numa fase onde os valores estão sendo construídos, desenvolvidos e enraizando, tanto dentro como fora do Dōjo, portanto, despertando uma visão de mundo, da sociedade e do próximo, o que se pode esperar do comportamento de “praticantes” ensinados e incentivados, durante os seus anos de formação já fazendo-os  “LUTAR” entre si, visando um confronto pessoal pela disputa, com “LUTAS” evidenciando o “melhor”?

E pior ainda, fazendo uma projeção de futuro, o que se pode esperar numa situação real de “conflito” ao longo da vida, onde esses mesmos “praticantes” que se apaixonaram pelos seus “feitos”, encorajados e instigadas pelos modismos, agora terão que colocar em evidencia as suas virtudes e as suas reais capacidades de ação, supostamente trabalhadas corretamente  num Dōjo de Karatê-Dō?

Prof.Sylvio Rechenberg