Atenção: Para uma correta compreensão leia o texto completo
com calma e reflita.
Todas as criaturas viventes têm
suas características próprias, suas particularidades defensivas agregadas a um
instinto de sobrevivência incorporado ao seu DNA. E considerando o homem como
um membro comunitário e um ser integrante na sociedade, a "defesa pessoal"
também é uma necessidade comum para todos. Ter a oportunidade básica
fundamental de nos defendermos de situações onde a nossa vida é exposta a um
perigo iminente ou mesmo a uma ameaça a nossa integridade é uma prioridade
sempre atual!
A saber, às várias formas de
conflitos, tanto os externos como os internos que por sinal estão cada vez mais
em evidencia nos dias de hoje!
Porem o ser humano tem uma coisa
que o destaca frente a todas as demais criaturas sobre a terra, a sua
racionalidade, o seu livre arbítrio, a sua capacidade de decidir entre o certo
e o errado, a sua capacidade de raciocinar mediante as adversidades que o
afligem ao longo da sua vida, a se comportar corretamente em qualquer lugar.
Um dom divino exclusivo do ser
humano, a nossa inteligência nos permite fazer uma leitura racional do que pode
acontecer caso agíssemos desta ou daquela maneira em relação a determinadas
circunstancias que por ventura viessem a acontecer. Assim sendo, certamente o leitor
já faz uma relação com a maneira de agir e de se comportar mediante as
adversidades do nosso dia a dia. E é exatamente isso que nos faz sermos
diferentes, especiais e superiores as demais criaturas. Se não fosse assim
seriamos como os animais, meramente irracionais e primitivamente entregues ao
acaso e a toda sorte de problemas.
No entanto independentemente de
como agimos, mesmo assim existem as situações nas quais somos envolvidos, mesmo
adotando todas as precauções de segurança e as devidas providencias necessárias
para evitar tais ocorrências, mesmo assim, somos pegos de surpresa e então
vitimados às suas consequências e na maioria das vezes causadas por criaturas
da nossa própria espécie.
Porem existe algo muito além do
óbvio na dita "defesa pessoal popular” que estamos acostumados a trabalhar
incansavelmente no Dôjo conforme a padronização da escola tradicional de origem,
algo que precisa ser compreendido e, portanto considerado antes de tudo por
todos nós que trilhamos o conceituado “Caminho”, o “Dô”, conforme a doutrina
original a partir do seu fundador.
Tal compreensão nos permite lançar um olhar
bem mais profundo na efetivação de todo o contexto que abrange a essência do
“Caminho do Karatê de O-Sensei’Funakoshi”.
Então do que trata este
“Caminho”?
Enquanto seres “irracionais” (os
animais) matam pela fome, já os seres humanos podem ferir, mau tratar, zombar e
se divertir as custas dos outros, prejudicarem a si mesmos por bel prazer e até
capazes de matar para obter vantagem, não raro, podem agir com violência e se
tornarem indiferentes à qualquer tipo de razão, cultivando a soberba no coração
e se sentindo motivados por essa inconsequência. Envaidecidos, muitos se sentem
realizados e atraídos pela “emoção destrutiva” e ficam felizes enquanto buscam a
autossatisfação alimentada unicamente pelo seu próprio “ego” mundano, e se
utilizam desta “primitiva fraqueza humana” para todo tipo de “agressão” em prol
de seu próprio beneficio causando o maleficio alheio.
Uma clara manifestação do
maior de todos os inimigos e que está dentro de cada um de nós, faz parte
da nossa vida diária; e é disso que trata o “Dô”(Caminho); o “ego” dominante e controlador
é um problema real e atual em evidencia, uma questão comportamental, uma
tendência da modernidade, muito comum no Ocidente, mas que cresce no mundo
inteiro, instigado pela mídia sensacionalista que se aproveita disso para
alcançar os seus objetivos populistas, se isentando de qualquer
responsabilidade das consequências de tais estímulos; e o descaso obviamente do próprio sistema
governamental em “todos os sentidos”.
Portanto se não trabalharmos com uma
disciplina voltada principalmente na formação de um caráter virtuoso, de manter
os bons costumes, a moralidade, a dignidade e em ter uma “espiritualidade”
sempre presente em nossas decisões e ações, seremos facilmente dominados e
vencidos pelo nosso próprio “ego” primitivo! Pois a nossa fragilidade a
partir do “ego” dominador é a maior razão para a nossa infelicidade e assim afetando
a nossa saúde, a nossa segurança e a dos que nos rodeiam, a nossa consciência
espiritual e a visão distorcida de mundo que nos tentam incutir a todo custo
todos os dias!
Vivemos a mercê de um sistema muito
longe de ser o ideal e por isso mesmo o nosso “ego” viciado se fortalece com a
inoperância das “leis”, principalmente no Ocidente, que por sua vez em sua maioria, são meras
formalidades políticas e de interesses afins, oriundos de uma sociedade
contaminada pelo “ter” e a total falta de “valores”; além de uma
espiritualidade fragilizada e sobre tudo e fundamentalmente a falta do temor a
Deus!
Devemos nos policiar
continuamente deste distúrbio nocivo e causador de conflitos pessoais de todo
tipo, reflexo de uma ante cultura e uma educação familiar equivocada,
desregrada, permissiva, descontrolada e irresponsável onde a liberdade esta a
mercê de um caos institucional e onde os “Deveres” ficam bem aquém dos
direitos, gerando uma miscigenação de ações danosas para a sociedade,
corrompendo a ordem pública e abrindo as portas para a violência urbana
desacerbada.
Aprender a reconhecer esta fraqueza
humana que carregamos conosco é fundamental para que possamos combater com
todas as nossas “forças” este “conflito interior” extremamente operante em muitos
momentos da nossa vida diária. É necessário que possamos ter uma profunda consciência
de nós mesmos, e desenvolvermos a capacidade de superar-nos diante das tribulações
e das provações do cotidiano.
Fatos que há milênios muitos
sábios do Oriente já haviam advertido e por isso mesmo, motivados a criar e
desenvolver extraordinários mecanismos de atuação prática e direta que agissem
como norteadores e que possibilitassem uma conexão entre o corpo, a mente e o
espírito em unidade para o bem comum, e assim obtendo consequentemente inúmeros
benefícios construtivos e de utilização prática diária na vida de todas as
pessoas.
Estes sábios visionários do
antigo Oriente atentaram tanto nas formas de treinamento sistemático como nos
métodos de formação severamente disciplinadores para que através destes
mecanismos doutrinários de trabalho físico, mental e espiritual baseados na
preservação e valorização da vida e sua consequente proteção, se possa construir
uma sociedade mais pacífica, menos materialista e mais sensível as grandes e
verdadeiras prioridades da humanidade enquanto vida evolutiva, considerando o
“Ser” em conformidade com a natureza e em busca do equilíbrio, da harmonia e de
uma paz duradoura.
Então, quando no Ocidente se fala
em “Karatê-Dô” logo se compara esta pratica a uma simples forma de luta para
aprender como se defender de um vagabundo qualquer ou mesmo onde um tenta ser
melhor do que o outro apenas para provar quem é o vencedor, como acontece nos
esportes de competição. Uma triste e lamentável realidade no mundo de hoje!
Isso não é e jamais foi o
propósito derradeiro do fundador ao inspirar sua Honorável Arte! É o tipo da
informação distorcida pela mídia, incorretamente interpretada, mas
constantemente manipulada pelos interesses daqueles que lucram com este “tipo
de negócio”, onde o que conta é a quantidade de pessoas atraídas pelo
imediatismo barato e contagiante da disputa e a falsa ilusão de poder pela
violência.
No início o que um “leigo
desinformado” procura não é o que as "verdadeiras" artes Orientais
querem transmitir, porem com o tempo, o que um estudante sério irá aprender
durante esse processo de formação, crescimento, realização e transformação
interior, caso persista e se mantenha firme no “Caminho” sem fraquejar, sem se
contaminar, sem se corromper, este aprendizado jamais deixará de atuar, levará
consigo para o resto de sua vida, não como adornos de tolas lembranças e
conquistas do ”ego”, mas como uma ferramenta incomparável de benefícios que lhe
será muito útil e onde o amor pela vida promoverá uma paz tão real, autentica e
acalentadora em seu coração que nada nem ninguém poderão destruir, pois se
tornou parte da sua “natureza pessoal”, e segue adiante com a dignidade que
merece numa evolução construtiva do ser humano como criatura “Divinal” e assim
com um espírito indestrutível, eternamente inspirador e pacifico! Este é o Karatê-Dô de O-Sensei!!
Prof. Sylvio Rechenberg
Prof. Sylvio Rechenberg