Relato resumido:
...Por exemplo, até noite adentro, ela se afadigava no
trabalho de tecer um pano local chamado kasuri, pelo qual receberia seis centavos por
peça.
Com o nascer do sol, já estava de pé. Caminhava então, quase dois quilômetros até
chegar a uma pequena área de terra onde cultivava as verduras para a casa. ...
...Eu tinha a curiosidade de saber quando ela encontrava
tempo para dormir, mas não me lembro uma única vez de ouvir uma queixa sequer de sua
parte.
E também jamais sugeriu que eu devesse passar meu tempo de modo mais
proveitoso do que o de praticar Karatê em cada momento livre que tinha. Bem pelo contrário,
encorajava-me a continuar, e ela mesma passou a interessar-se, muitas vezes observando
minhas sessões de prática.
E quando se sentia muito cansada, diferentemente da maioria
das outras mulheres, não se deitava e pedia que um dos filhos
massageasse seus ombros e braços.
Oh, não, não minha mulher! O que fazia para aliviar seu
corpo exausto era sair e praticar Kata’s, e no devido tempo ela se tornou tão
hábil que seus movimentos se assemelhavam aos de um praticante experiente.
...Apenas vendo-me praticar, e ocasionalmente exercitando-se
sozinha, ela havia chegado a uma compreensão plena da arte.
...A maioria de nossos vizinhos era constituída de pequenos comerciantes
ou de puxadores de jinriquixá....
De qualquer modo, nossos vizinhos muitas
vezes ficavam briguentos depois de beber. Nessas ocasiões, geralmente era minha
mulher que intercedia e promovia a paz. Ela quase sempre chegava a um resultado favorável mesmo depois
que a briga havia degenerado em agressão física - tarefa que não era fácil nem
para um homem forte.
E claro que ela não usava violência em seu papel de mediadora;
contava totalmente com seus poderes de persuasão. Assim, minha mulher, admirada em
casa por sua diligência e economia, era conhecida na vizinhança como uma karateka e
mediadora habilidosa.
Obs.: O texto na íntegra se encontra na página 35 do livro (Karatê-Dō
o meu modo de vida) de O-Sensei’Gichin Funakoshi.