Texto extraído do livro, (O meu Modo de vida), de O-Sensei’Funakoshi.
“...Com o
nascer do sol, já estava de pé. Caminhava, então, quase dois quilômetros até
chegar a uma pequena área de terra onde cultivava as verduras para a casa. Às
vezes eu a acompanhava, mas naquele tempo considerava-se mais do que inadequado
ver-se um professor trabalhar nos campos ao lado da mulher. Assim, não podia ir
com ela muitas vezes, e quando ia, usava um chapéu grande, de abas largas, para
não ser reconhecido.
Eu tinha a curiosidade de saber quando ela encontrava tempo para dormir, mas não me lembro uma única vez de ouvir uma queixa sequer de sua parte. E também jamais sugeriu que eu devesse passar meu tempo de modo mais proveitoso do que o de praticar Karatê em cada momento livre que tinha. Bem pelo contrário, encorajava-me a continuar, e ela mesma passou a interessar-se, muitas vezes observando minhas sessões de prática. E quando se sentia muito cansada, diferentemente da maioria das outras mulheres, não se deitava e pedia que um dos filhos massageasse seus ombros e braços. Oh, não, não minha mulher! O que fazia para aliviar seu corpo exausto era sair e praticar Kata’s, e no devido tempo ela se tornou tão hábil que seus movimentos se assemelhavam aos de um praticante experiente.
Quando eu
não praticava sob os olhares agudos de Azato’Sensei ou Itosu’Sensei, exercitava-me
sozinho em nosso pátio. Alguns jovens da vizinhança, que me haviam observado,
vieram a mim certo dia e me pediram para ensinar-lhes karatê; fiquei muito
feliz em fazer isso, naturalmente. Às vezes, porém, me atrasava na escola, e
nessas ocasiões, ao retornar para casa, encontrava os jovens praticando
sozinhos e minha mulher incentivando-os e corrigindo-os quando faziam alguma
coisa errada. Apenas vendo-me praticar, e ocasionalmente exercitando-se
sozinha, ela havia chegado a uma compreensão plena da arte.”
Gichin Funakoshi’O-Sensei