Sempre que eu pratico Kata, uma
das histórias favoritas de meu professor vem à minha mente!
Um dia um aluno de arco e flecha
estava praticando no Dojo e de repente ele pensou:
“Vou eliminar o primeiro
movimento, o de esticar a mão para cima antes de puxar o arco e então atiro as
flechas o mais rápido que eu puder. E como agora o Sensei não está presente no
Dojo, ele não poderá cobrar que eu realize todos os movimentos como ele sempre
faz. Ele é muito exigente com relação à execução completa no Kata! Estou feliz
que ele não esteja aqui nesse momento, afinal Kata não é tão importante assim
”.
Então o estudante pegou duas
flechas e as atirou o mais rápido que pôde, eliminando o primeiro movimento do
Kata. O estudante acertou o alvo e ficou muito satisfeito consigo mesmo. Como ele
estava se vangloriando do feito, seu Sensei, que estava na biblioteca logo ao
lado do Dojo, entrou e advertiu o seu aluno por eliminar o primeiro movimento.
O Sensei, um mestre Zen, já sabia o que o aluno tinha feito mesmo sem estar no
Dojo!
Então seu Sensei disse para ele:
“A prática deve ser mantida a mesma em todos os momentos, mesmo que
ninguém esteja assistindo ou supervisionando! É preciso praticar para si mesmo!
Você não está praticando para mim ou para a sociedade, você está praticando
para si mesmo - para o seu auto aperfeiçoamento e conscientização, se você
eliminar ou adicionar movimentos ao Kata, você está enganando a si mesmo, não a
mim!
Muitos estudantes de Karatê não
sabem que a eliminação ou adição de movimentos a um Kata original mostra total desrespeito
ao “ryu” (escola ou estilo) que eles estão estudando! Se tais estudantes
estão insatisfeitos com a sua escola (ryu), eles devem sair!
A culpa pela “mutilação” do Kata
existente e a criação de novos é de dois tipos de indivíduos. Ambos os tipos,
no entanto, são os produtos da era *ocupacional do Japão, Okinawa e Coréia (*durante e pós segunda grande guerra).
Por um lado, existe o tipo de
indivíduo que alcançou um grau de proficiência nos aspectos mecânicos da arte. E
retornando do Oriente, ele abre sua própria escola no mundo Ocidental. Ou ele
não aprendeu seus Kata corretamente o suficiente, ou então ele se esqueceu
deles e seus Kata são bastante improvisados.
Por outro lado, há o tipo que
aprendeu com o primeiro tipo e que posteriormente abre sua própria escola. Esse
indivíduo depois de ganhar alguns “campeonatos de kumite” cria o seu próprio Kata
com base em sua “fantasia” de que ele é um grande professor, um verdadeiro grande
mestre. Para ele Kata nada mais é que uma “dança” ou uma formalidade. Porem nada
está mais longe da verdade, mas lamentavelmente dentro daquele “reino de sua experiência” e
consciência isso é tudo o que conta ou o que importa para ele.
“Hito-kata san-nen” de Yasutsune
Azato’Sensei, significa
“três anos para um Kata”!
Mas muitas pessoas diriam: “Que absurdo, três anos
para um Kata, porque eu poço aprender e fazer um Kata em questão de semanas.”
Empiricamente,
os mestres sabiam que a realização de um Kata requer sangue, suor e lágrimas!
Eles sabiam que não podiam produzir uma “maravilha em 90 dias”! Todas as experiências demonstram para o fato de que isso exige uma fé determinante,
tenacidade e muito trabalho, para conseguir dominar realmente um Kata! Então três
anos é como um tempo mínimo para dominar um Kata e para produzir no estudante uma
consciência real do que isso significava!
O Kata é Karatê e Karatê é o Kata! A
compreensão adequada de um Kata ajuda a encher a taça da vida com água limpa,
não água suja! Sem a orientação do professor e a pratica correta do Kata, o
aluno não consegue distinguir entre água limpa e água suja! O Kata ensina
habilidades de luta e de vida ao mesmo tempo! O objetivo do Kata é tornar o
indivíduo “Um” com o universo! Como ele sintoniza com o Kata, ele está, no final,
em sintonia com ele mesmo!
(texto sintetizado)
Shigeru
Egami'Sensei entre 1936/37 (Taikyoku
shodan)