quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Budō (Uma arte para a vida!)

"Segundo Gichin Funakoshi’O-Sensei, situando-se o combate de Karatê entre a vida e a morte, não podemos treinar seriamente senão através das formas de combate convencionais, através das quais cada um se esforça por ultrapassar os seus limites."

Admitindo que a vida é luta, duas perspectivas se pode colocar:

Podemos pensar nela como uma luta pelo pódio onde é preciso subir, custe o que custar, vencendo para isso os nossos semelhantes vistos como competidores.

Ou podemos vê-la como uma luta pela “Vida” que se pode percorrer em harmonia e respeito pelos outros, parando o conflito (Budō) e sabendo usar a nossa força e a do nosso semelhante com benefícios mútuos!

José Patrão’Sensei

domingo, 18 de fevereiro de 2018

O coração do Karatê-Dō!

" O mestre’Funakoshi era solicitado frequentemente pelos exemplos descritos na sua requintada caligrafia, e uma das expressões que costumava escrever e apresentar aos outros era: "Não vá contra a natureza". Essas palavras, que têm um significado profundo, transmitem uma máxima para ser estritamente observada.

É difícil definir a natureza em palavras. O sol, a lua e as estrelas são parte da natureza, assim como o homem, a própria existência e o movimento de todas as coisas. As flores que florescem na primavera e as folhas que caem no outono são fenômenos naturais, assim como o nascimento de um homem, seu crescimento e envelhecimento, e sua morte. Terra, água, fogo, vento, neve e chuva são partes da natureza, da qual temos muito a aprender. Mas não importa o quanto o homem se opõe a natureza, ele não tem a menor chance de ganhar.

Em nossos movimentos físicos, existem aqueles que são naturais e outros que não são. Através da prática, podemos aprender a diferenciar entre os dois e também aprender a adquirir movimentos naturais. Nós também devemos aprender o poder que a natureza nos dotou e como usá-lo, pois um homem tem uma grande força oculta de que ele não conhece. O exemplo das proezas prodigiosas de força e resistência exibidas durante períodos de estresse, como nos incêndios e inundações, vem à mente. Esses são às vezes descritos como "super-humanos", mas será isso realmente o caso? Embora a pessoa que realizou tal façanha não tenha consciência de que ela possuía tal poder, acredito que tais poderes são a doação da natureza e podem ser desenvolvidos por alguém que treina com seriedade e com perseverança.

Gostaria de colocar uma questão muito crucial: se em vez de se opor aos movimentos do seu oponente, você se harmonizar com ele de forma natural, o que aconteceria? Você descobrirá que você e ele se tornaram como um, e que, quando ele se move para atacar, seu corpo se moverá naturalmente para evitar o golpe. E quando você se tornar capaz disso, você descobrirá um mundo completamente diferente que você não sabia que existia. Quando você é como “um” com seu oponente e se move naturalmente com ele sem oposição, então não existe como um atacar primeiro. O significado de “Karate ni sente nashi” (* "Não existe primeiro ataque no Karatê") não pode ser entendido até que você alcance esse estado. (*sobre o espírito de agressão!)

Através da cortesia, você terá uma atitude humilde com relação ao seu oponente em treinamento e irá agradecê-lo. Sem essa atitude, não pode haver treinamento no sentido verdadeiro. Mas se o seu objetivo é bater seu oponente sem sentido, você não pode atingir esse estado. No treinamento e na prática reais, a raiva, o ódio e o medo estão completamente ausentes. É importante saber que não se pode abrigar intenção homicida, nem inimizade, nem oposição, nem resistência, contra o oponente. Quando você alcança este estado, você se tornará “um” com seu oponente e você poderá se mover naturalmente de acordo com seus movimentos. Isto, então, é o objetivo, fisicamente e espiritualmente de treinar e praticar o Karatê. Mas é um estado que apenas pode ser alcançado através de uma prática extenuante. "

Shigeru Egami’Sensei

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

O "Vazio" dentro do Taoismo.


Resumo do texto original:

A cultura chinesa é uma das mais antigas da Terra e a única das grandes civilizações da antiguidade que possui história contínua, desde 7.000 a.C. Descobertas arqueológicas como o "homem de Pequim" mostram que a área onde se iniciou a civilização da China é habitada já há 800.000 anos.

Infelizmente as maneiras como eles expressam esse conhecimento são diferentes das nossas, o que levou diversos especialistas ocidentais a menosprezarem este tesouro.

O Taoismo, não apenas é uma filosofia autóctone da China como tornou-se posteriormente a única religião nascida em solo chinês, já que o Budismo é indiano e o Confucionismo não é religião.

Dentro dos conceitos mais importantes da filosofia chinesa e do Taoismo em particular, um que se destaca é o “Vazio”. A importância do “Vazio” nunca foi subestimada pelos chineses, que afirmavam que tudo o que existe só possui essa realidade porque um espaço "Vazio" permitiu que existisse. O filósofo grego Demócrito (460 a.C.-370 a.C.) foi o primeiro ocidental a chamar a atenção para o “Vazio” ao afirmar que no Universo "há apenas átomos e "Vazio"". Os chineses foram além ao afirmarem que a própria existência do universo dependeu da existência de um "Vazio" original, chamado de “Vazio Primordial”.

Para nosso universo existir foi necessário que houvesse um "Vazio" que o pudesse conter, pois nada poderia existir sem um espaço para que existisse. Esse “Vazio primordial” é chamado em chinês de "Wuji" (無極, “Vazio supremo”), e faz parte dos conceitos cosmológicos chineses principais. É um termo muitas vezes utilizado para se definir o infinito, o que não tem limites, e também um estado de vacuidade absoluta, não representado apenas pela ausência de tudo, mas uma vacuidade que tende à transcendência já que é a matriz de tudo o que existe.

A existência depende inteiramente da não-existência que a precede.

Na vida cotidiana, em nossa escala normal, também o "Vazio" possui grande importância.
Assim, da existência vem o valor e da não-existência, a utilidade!

Lao-Tze nos mostra que um vaso pode ser feito de diversos materiais e possuir muitas decorações, mas é o "Vazio" em seu interior que o torna útil. Um vaso de ouro é muito mais valioso que um feito de barro, mas a utilidade dos dois é a mesma e depende inteiramente do "Vazio" interno.
Nos seres humanos também o "Vazio" é imprescindível. Não existiríamos sem o espaço "Vazio" que há na mulher, que chamamos “útero”. É ele que permite ao embrião crescer e tornar-se uma nova pessoa.

É comum que o "Vazio" é que dê substância e vida à pintura chinesa, podendo se tornar um rio, um lago, a névoa, dependendo da visão do artista, que se utiliza deste espaço em branco para expressar sua sensibilidade. Apesar de ser uma não-existência, o "Vazio" surge como algo quase tangível em um processo de cognição espacial sem igual.

Nas Artes Marciais e técnicas terapêuticas chinesas como o “Qi gong”, o movimento começa a partir de uma postura em pé, com os braços pendendo naturalmente ao lado do corpo, relaxada, com a mente livre de pensamentos e o olhar focado no infinito. É o estado de “Wuji”, do qual partem os movimentos.

Devemos procurar nos familiarizar com o "Vazio" em nossas vidas! O Vazio de ruído, o Vazio de pessoas em volta, o Vazio de pensamentos tumultuados, o Vazio de celulares e redes sociais. Somente a partir do “Vazio” podemos começar a ouvir o “Tao”.

Texto original:
http://taoismo.org/modules/smartsection/item.php?itemid=55