sexta-feira, 25 de julho de 2014

Budô (a prática correta)

Um dos aspectos mais importantes na prática de qualquer arte do Budô são as repetições de técnicas ou combinações. Mas estas não devem realizar-se de qualquer maneira, por exemplo,  quando alguém repete muitas vezes uma determinada técnica ou movimento, como 500 – 1000 ou 10.000 repetições de TSUKI deve dirigir sua atenção para dentro de si e sentir suas sensações,  pois com certeza, só dois ou três dos Tsuki foram corretos (velocidade, potência, assentamento), em resumo, “eficazes”. E só estas duas ou três repetições são as importantes, as que devemos recordar. Por isso temos de estar muito receptivos e assim poder sentir o momento em que nos “saiu bem”, olhar para dentro e gravar esta sensação na mente e no corpo.
 
Depois temos de perguntar-nos por que motivo, nesse momento, fizemos melhor que outras vezes, então este é o salto do quantitativo (quantidade) para o qualitativo (qualidade), isto é o verdadeiramente importante no processo de aprendizado, como passar de um nível a outro. Na próxima vez que praticares essa ou outra técnica, deves tentar lembrar-te dessas sensações, para que em sucessivas ocasiões, as técnicas sejam realizadas com a mesma sensação. Assim, talvez com apenas 100 repetições, já duas ou três são bem feitas e a cada vez se avança mais rapidamente e podes transferir as sensações corretas e boas a um maior número de técnicas.
 
Este é um dos segredos para avançar, não é suficiente realizar durante 30, 40 ou 50 anos sempre o mesmo treino milhares de repetições sem perceber ou sentir o que está acontecendo dentro do nosso corpo, sem melhorar a qualidade das nossas técnicas e confiando exclusivamente nas repetições. Isto não é suficiente, é preciso buscar qual foi à técnica correta, como esta técnica foi sentida por nós e trabalhar com essa sensação.
 
Na prática correta do Budô é preciso percorrer um caminho muito longo, no qual eu próprio cheguei a muitas coisas, enquanto que de outras sinto que estou perto, intuindo-as, mas ainda não cheguei. Por este motivo, qualquer pessoa pode avançar em Budô, desde que sempre siga o caminho correto para passar de um nível ao seguinte. Isto é realmente o que marca a diferença entre uns e outros praticantes, pois o que realmente é importante, não são os anos de prática, mas sim a prática correta durante esses anos. Esta é a única maneira de progredir na direção de um Karatê-Dô mais avançado.

Taiji Kase ’Sensei
 

sábado, 19 de julho de 2014

Lição do chá!


domingo, 13 de julho de 2014

A "Pena e a Espada".

Em seu primeiro livro “Ryukyu kenpo karate”, um acordo nos propósitos e prática da honorável Arte, Gichin Funakoshi O’Sensei na introdução daquele livro ele dizia: "...a pena e a espada são inseparáveis como duas rodas de uma carroça".

*No texto abaixo se encontra um claro entendimento desta sábia afirmação. (leia até o final).


Budo: A Santa Responsabilidade
Há muito tempo dizem que a caneta e a espada são como as duas rodas de uma carroça e as duas asas de um pássaro. Assim, eles pertencem a um conceito de virtude universal, e portanto, eles são inseparáveis.
Nakae Toju, estudioso confucionista no início do século 17, afirmou que a caneta é o meio pelo qual as pessoas se governam pacificamente, e por apreciarem cinco principais virtudes: a benevolência, o dever, a lealdade, a piedade filial e de amor. A espada, por outro lado, é o meio pelo qual as pessoas defendem e restauram tais virtudes consagradas pela caneta.
Por isso, a espada é também o meio para manter uma sociedade pacífica.
Logo, a virtude marcial enfatiza fundamentalmente a realização dos objetivos nobres da sociedade pacífica e harmoniosa.
A caneta e a espada são fundamentalmente do mesmo conceito e dependem um do outro. É inegável que em algum momento na história humana a caneta caiu e a espada foi mal utilizada, mas também é verdade que não podemos controlar a nós mesmos nem administrar a nossa casa, a menos, que a caneta e a espada sejam como uma entidade indivisível e se tornem a verdadeira base da virtude.
A origem das nações é de muito longe fundamentada na história. Podemos encontrar na sua fundação, grandes ideais como a liberdade, a paz, a fraternidade e a justiça que a política democrática moderna pretendia realizar.
É indispensável e vital manter a espada e a caneta como virtude inseparável para a criação de uma sociedade mais pacífica.
Espero sinceramente que as pessoas, que buscam o “Budo”, irão desenvolver e cultivar o caráter, e assim contribuir muito para a sua educação moral e a de seu país. Eu acredito muito fortemente no conceito da caneta e da espada, e o conceito lendário do guerreiro samurai.
Fundamentado por amor as antigas artes guerreiras, e nos atributos personificados do guerreiro clássico, tem havido uma tendência no “Budo”  moderno para desencorajar todos os pensamentos da era feudal, e desconsiderar o conhecimento que recebemos destes guerreiros, o conhecimento que foi aprendido, frequentemente à custa de suas vidas.
Estes comentários, claro, são ridículos, simplesmente porque tais acontecimentos fazem parte da história japonesa e são fatos comprovados. Esse conhecimento, que foi passado para nós por gerações é um dever sagrado. Acredito que o conhecimento tão amorosamente preservado por estudiosos, não poderia ter sido possível sem esses  antigos guerreiros.
A atribuição que aspiramos, e que todos buscamos, é o mais alto nível de competências, na maioria das vezes manifestada nos indivíduos sob grande pressão.
O guerreiro feudal estava sob esse tipo de pressão, e aqueles que foram motivados pelo maior dos ideais vieram a ser capazes de aplicar esses ideais nas lutas da vida e da morte. Lealdade, verdade, honra, cortesia e respeito devotados ao serviço de seu senhor, e, frequentemente, se auto sacrificando para o bem comum, ou por um nobre ideal.
A coragem é a calma aceitação do medo e na possível morte. Para aceitar o medo com calma e fazer o que deve ser feito apesar do medo, é necessário uma qualidade que só vem para a sua plena revelação quando se está diante de lesão ou morte terrível, seja para si ou para seus entes queridos. Eu valorizo e admiro o conhecimento, e as lições que foram passadas para nós a partir daqueles que, quando confrontados com crises terríveis, superaram o seu medo e fizeram o que era certo, apesar das consequências para si mesmos.
Cortesia e coragem como um estilo de vida, facilita  e possibilita a elevação da consciência espiritual em uma sociedade, e diminui o que é o medo.
Nós não vemos o poder adquirido através das habilidades guerreiras como um poder pessoal para ser usado em nosso próprio interesse. A tendência para o auto engrandecimento muito comum em grande parte  das "artes marciais" modernas são contrárias aos ideais do "Bushido".
O poder e a capacidade adquirida através das artes guerreiras é um dever sagrado para ser usado apenas para determinados fins e não para desejo pessoal.
A espada não é admirada por sua capacidade de trazer a morte, mas por causa de sua capacidade de dar a vida; este ideal é chamado de 'Katsujin-Ken.
A espada que derruba os que fazem o mal, por sua vez, dá vida a aqueles a quem o mal transforma em vítima.
A necessidade de guerreiros e espírito de guerreiro é tão grande agora como era para nossos ancestrais. "Giri"(Dever), com o conceito implícito de “serviço” foi uma particularidade central na vida do guerreiro clássico.
O guerreiro que treina sua mente e seu corpo na arte do combate de modo correto, estará preparado para o “serviço” quando o “dever” o chamar, com o melhor de sua capacidade.
Eu sinto que a desordem na sociedade moderna sobre a verdade, a justiça e os valores sociais, obriga e torna necessário que todos assumam sua responsabilidade pessoal em função da ordem e do bom funcionamento desta sociedade, contudo, se desistir dessa responsabilidade, pagará um alto preço por isso.
"Liberdade significa responsabilidade, é por isso que os homens a temem". (George Bernard Shaw)
Um simples ato de coragem pode fazer a diferença na vida de alguém que seria vítima de violência e medo. Saber que alguém se importa o suficiente para estar disposto a proteger e defender é um conforto para os inocentes e impede o implacável.
“Quando o seu pensamento se eleva acima da preocupação para o seu próprio bem-estar, a sabedoria que é independente do pensamento aparece”.
por Alfred Bates (resumido)