terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Shotokai

O nome "Shotokai" significa "associação de Shoto", sendo Shoto o pseudónimo de Gichin Funakoshi.


O Shotokai foi oficialmente formado pela família Funakoshi, para tratar dos preparativos para o funeral de Gichin Funakoshi. Era composto pelos seus alunos mais antigos, a quem ele confiou a continuidade do desenvolvimento do seu Karatê-Dô Shotokan.

Como conseqüência de disputas políticas e pessoais posteriores à morte de O’Sensei, o grupo Shotokai manteve-se unido e ensinou e desenvolveu o Karatê-Dô, tal como Gichin Funakoshi queria.

Disto resultou que o Shotokai não aderiu ao desenvolvimento da arte para o desporto ou a competição que ocorreu nas últimas décadas. Ao invés, permaneceram fiéis aos ensinamentos originais do Karatê-Dô, como fora desejo de O’Sensei.


Como membros fundadores mais importantes do Shotokai, temos Shigeru Egami, diretor técnico do Shotokan Dojo, e Genshin Hironishi, presidente do Shotokai.


Por esta altura, o Mestre Harada estava a introduzir o Karatê-Dô Shotokan no Brasil. Devido à sua ligação próxima com todos os três mestres atrás mencionados, tornou-se, naturalmente, membro do Shotokai a partir de então. Em 1965 o Mestre Harada criou a KDS para poder ensinar Karatê-Dô Shotokan ortodoxo, tal como o tinha desenvolvido, sem influências políticas ou técnicas de outros grupos.


Os métodos de treino são entusiasmastes e inovadores, e concentram-se na aprendizagem da forma, movimento, timing e distância corretos, na utilização do corpo como um todo e no desenvolvimento da condição física correta. O nosso estilo de Karatê-Dô poderá ajudá-lo(a) a descontrair-se e a ganhar uma maior consciência corporal e daquilo que o(a) rodeia. Estas idéias, quando corretamente aplicadas, permitem que pessoas de ambos os sexos e de qualquer compleição física pratiquem Karatê-Dô e retirem benefícios físicos, bem como uma grande satisfação em treinar.




O texto aqui citado foi retirado do site oficial da KDS, em http://www.karatedoshotokai.com/whatis/

domingo, 27 de novembro de 2011

A escola de O'Sensei

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Karatê-Dô (entrevista)



sábado, 29 de outubro de 2011

O homem da "Via" ( por O'Sensei )

“Quando um homem normal passa no exame para o 1°Dan, perfila-se com orgulho diante do júri e corre para dar a notícia à família.

Quando passa para o 2°Dan, sobe ao ponto mais alto que pode alcançar e a todos proclama a distinção que acabara de obter.

Quando passa para o 3°Dan, corre para o carro e põe-se a espalhar por toda a cidade, festejando o acontecimento...

De maneira diferente procede o homem da “Via”!


Ao 1°Dan inclina a cabeça, em sinal de reconhecimento;
Ao 2°Dan inclina-a ainda mais, em sinal de humildade;
Ao receber diploma de 3°Dan baixa a cabeça até ao chão, confuso, e sai discretamente, a tal ponto mede agora a distância que o separa da verdadeira perfeição!"


Gichin Funakoshi'O-Sensei

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Yasutsune Azato - “Hito Kata San Nen” ( Um Kata em três anos )

Azato (Yasutsune)’Sensei: *1828 Shuri, Okinawa, †1906 Okinawa.

Na época em que Funakoshi’O-Sensei, ainda com onze anos de idade, frequentando a escola primária, conheceu um menino de quem ficou muito amigo, esse garoto era filho de Yasutsune Azato’Sensei, um dos maiores especialistas de Okinawa na arte do “Te” ( na época ainda conhecido por "Tode" ou "Okinawa-te" ), membro de uma família das mais respeitadas, além disso, considerado o herdeiro de Sokon Matsumura’Sensei. Azato’Sensei foi exímio, tal como o seu mestre, na esgrima da escola Jigen-ryu, na equitação e no tiro ao arco a cavalo. Azato’Sensei era um "Tonochi" (senhor de pequeno feudo).Funakoshi’O-Sensei, conta sobre um conselho de seu mestre, Azato’Sensei: “ Se o adversário não o assustar, se permanecer calmo e se procurar a brecha inevitável na defesa (…), a vitória não é tão difícil”. Logo, Funakoshi’O-Sensei começou a tomar suas primeiras lições. Azato’Sensei ensinou apenas, "em privado", um número muito reduzido de alunos, dentre os quais se destacava Gichin Funakoshi’O-Sensei. Como na época ainda, a prática de artes marciais do antigo reino, não eram muito bem vistas na região, os treinos eram realizados à noite, no quintal da casa de Azato’Sensei. O treinamento era muito rigoroso. Azato’Sensei tinha uma filosofia de treinamento que se chamava “hito Kata san nen”, ou seja, ( um Kata em três anos ). Funakoshi’O-Sensei estudava cada Kata a fundo e, só então quando autorizado pelo seu mestre, seguia para o próximo! Enquanto praticava no quintal de Azato’Sensei, junto com alguns outros alunos, outro reconhecido mestre de “Tode”, Anko Itosu’Sensei, muito amigo de Azato’Sensei, aparecia e observava o treinamento dos Kata, quando aproveitava para fazer comentários sobre suas técnicas. Era uma rotina dura que terminava sempre de madrugada sob a disciplina rígida de Azato’Sensei, do qual o melhor elogio se limitava a uma única palavra: "Bom"!. Após os treinos, já quase ao amanhecer, Azato’Sensei falava sobre a essência do “Tode” ( Okinawa-Te). Uma das falas de Anko Azato’Sensei era: “ A finalidade das artes marciais não é apenas construir um corpo forte e saudável, mas educar sua mente e forjar igualmente o espírito. As artes marciais procuram construir o corpo, melhorar seu caráter e encontrar a harmonia interior. Não podem garanti-lo. ”

sábado, 17 de setembro de 2011

" Energia Vital " (O sobrenatural)





No Oriente fala-se de um tipo de energia que está presente em tudo em nossa volta, ela influencia desde o mais simples ser ou coisa, até os planetas. Esta força cósmica, que é relacionada à essência do Universo, envolve todas as entidades que nele existem e dá vida, pois ela não fica estagnada em um lugar específico, mas se movimenta, e como um rio, sempre é renovada. Ela possui muitos nomes, na China chama-se Ch'i, no Japão, Ki e na Índia, Prana.

O oriental vê nosso mundo com olhos diferentes do ocidental, deixando de lado uma visão racional, ele procura se relacionar com as coisas em volta, e sabe que tudo faz parte de um grande conjunto. Com este posicionamento, quando ele contempla um jardim de flores ou uma bela paisagem, sabe que a mesma energia que fez estas belas obras existe em seu interior e assim consegue dar mais valor a suas capacidades. Quando uma pessoa têm este ponto de vista, ela se relaciona melhor com tudo em volta e traz mais harmonia para sua vida, pois sabe que faz parte de uma grande entidade maravilhosa.

Nos oceanos ocorrem correntes de água, cada uma possui características distintas, uma é quente e rápida, já outra é fria e lenta, ou se diferenciam pela profundidade. O fluxo de energia pode ser comparado a estas correntes oceânicas, existe uma energia que engloba tudo, desde o mais simples ser, até os planetas, mas dentro desta energia como nos oceanos, ocorrem correntes, que são a força motriz que renovam e dão vitalidade e poder. Através de séculos de observação, mestres notaram que podiam utilizar estes fluxos para realizarem coisas maravilhosas, muitos foram para o lado artístico, outros para a manutenção da saúde ou para as artes combativas.

Na China principalmente, também apareceu a filosofia das mutações, Yin-Yang, os opostos que se completam, certamente relacionados ao fluxo da energia vital, que hoje é de uma maneira e amanhã poderá ser de outra. O jogo conjunto Yin-Yang em eterna mutação determina o equilíbrio de todos os pares, ou dos pares de conceitos que constituem uma unidade polarizada, como, por exemplo: corpo e espírito, consciente e inconsciente, o ideal e a realidade, direita e esquerda, governo e oposição, acima e abaixo, dia e noite, etc. Cada pólo tem valor idêntico ao outro, os pólos se completam e se necessitam mutuamente. No entanto, quando o equilíbrio habitualmente existente entre eles é perturbado, ambas as partes mostram o seu lado destrutivo e maléfico. Portanto, a meta não é incentivar um pólo em prejuízo do outro, por parecer melhor, porém visar um equilíbrio que beneficie ambos.

Os artistas orientais procuram colocar em suas obras a mesma energia que existe no modelo que escolheram, deve existir vida, e a pintura através de seus traços e composição é comparada como um ser vivente. Um ponto de uma paisagem não representa uma águia, ele é o próprio pássaro. Os mestres da arte da caligrafia japonesa ( Shodô ), falam que quando escrevem o ideograma representando a chuva, é a chuva que está contida no papel e podem até sentir o sopro úmido quando chegam perto de sua criação. Massao Okinaka Sensei, único grande mestre de Sumiê ( pintura oriental ) no Brasil, um dia pintou um peixe gato com um só traço, a energia e vitalidade que ele passou para o papel foi tanta que parece que o peixe está se mexendo.

Na manutenção da saúde, mestres aprenderam a canalizar a energia vital para através de toques ou exercícios controlarem e harmonizarem o fluxo que corre pelo corpo. Um fluxo interno bloqueado ou descontrolado causa doenças e sentimentos tristes, se retirarem estes "nódulos" a energia volta a se movimentar e assim a vitalidade volta a existir. O Tai Chi Chuan é um destes exercícios, através de seus movimentos ele busca que o praticante se harmonize com o fluxo de energia e sinta que ele existe e está presente em seu corpo. Na China apareceu um meio de se harmonizar o ambiente através do posicionamento de certos elementos e posturas que uma casa ou local deve ter, é o Feng Shui, através dele procura-se canalizar de maneira benéfica o fluxo que corre pelo lugar.

Morihei Ueshiba Sensei, fundador do Aikidô e "amigo pessoal de Gichin Funakoshi Sensei", dizia que tudo à nossa volta está repleto de energia vital, e que através da busca da harmonia pode-se controlar esta força para realizar coisa belas, através da harmonia, um fluxo ruim que nos é dirigido, é controlado e desviado para um local que não faça estragos. Ueshiba Sensei percebeu que a energia caminha muitas vezes fazendo espirais, e quando isto é passado para movimentos de artes marciais, uma pessoa pequena pode projetar outra enorme muito longe.

No Kendô ( esgrima japonesa ) existe a expressão " Kakegoe" , ela é relacionada ao Kiai ( grito) que quando realizado utilizando-se de muita energia consegue desarmar um adversário. Os mestres conseguem somente através do olhar fazer um adversário ficar todo suado, mesmo que não sejam realizados muitos movimentos. Para se chegar à este ponto, eles estudaram e através de anos de treino conseguiram canalizar o fluxo de energia para certos lugares. Um praticante habilidoso consegue com uma espada ( Kataná ) através de um golpe rápido cortar um cano de metal, ou como alguns mais experientes, cravar a lâmina em um capacete militar.

O conceito de energia vital quando entendido faz muito bem para a vida e principalmente para a postura frente às coisas que acontecem. Tudo está contido em uma mesma energia, então todos fazem parte de uma mesma família, ou seja, são irmãos. Assim nosso próximo, mesmo que por exemplo seja diferente quanto à raça, é nosso semelhante, a energia que um dia percorreu seu corpo, hoje está no nosso, o mesmo ocorre com os animais, plantas e tudo que existe. Esta filosofia gera um maior respeito e aceitação das coisas que acontecem, deixando-nos preparados para realizar coisas mais belas, ao se sentir alegre por estar no meio de um lindo jardim ou quando brincamos com um cachorro, cria-se um sentimento de bem estar e assim podemos desfrutar o que de mais maravilhoso a vida nos reserva.

(Em resumo e adaptação.)

Autor: Rodrigo Dantas Casillo Gonçalves.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Yasutsune Itosu ( criador dos Heians )


Yasutsune Itosu’Sensei, nasceu em 1830 (ou 1832) na cidade de Yamagawa, em Shuri, Okinawa. Aos 16 anos tornou-se discípulo de Sokon Matsumura’Sensei de quem aprendeu as bases do Shuri-te (linha de To-de ensinada em Shuri) e o manejo do sabre. Letrado nas línguas chinesa e japonesa foi secretário do rei de Okinawa até à queda da monarquia em abril de 1879. Durante esse período aprende To-de (Okinawa-te) com outros Mestres da época como: Gusukama’Sensei (de Tomari), Nagahama’Sensei (de Naha) e Yasuri’Sensei (discípulo de Iwah’Sensei possivelmente de origem chinesa). A partir de 1885 decide dedicar-se por inteiro ao ensino do Okinawa-te e em 1892 propõe a integração do To-de no sistema educativo de Okinawa. Em 1901 introduz a prática do To-de (Okinawa-te) como disciplina de educação física na escola primária de Shuri. Em 1907 cria os cinco Kata Pinan(Heian), (com base no Kata Kushanku) e, num processo inovador, visando a adaptação do To-de (Okinawa-te) ao sistema educativo separa em três o Kata Naihanchi (mais tarde denominada Tekki por Funakoshi’O-Sensei), e cria três versões dos Kata's Kushanku (Kwanku), Passai (Bassai) e Rohai. O seu intenso trabalho de adaptação e codificação inspirou numerosos discípulos e seguidores que originaram importantes correntes do Karatê-Dô moderno, tais como: Gichin Funakoshi’O-Sensei e Kenwa Mabuni’Sensei. Porém, outros discípulos diretos de Itosu’Sensei tais como Kentsu Yabu e Chosin Chibana não conseguem aceitar as profundas transformações que propõe e tentam manter as interpretações guerreiras (Bunkai) dos Kata’s originais. Outros discípulos diretos de Itosu’Sensei foram: Choki Motobu’Sensei, Chomo Hanashiro, Chotoku Kyan’Sensei, Moden Yabiku, Shinpan Shiroma, Anbun Tokuda, Oshiro Chojo, Taoyama Kanken e Shigeru Nakamura. Infatigável até aos últimos dias da sua vida Yasutsune Itosu’Sensei morreu em 1916.

sexta-feira, 24 de junho de 2011


Você é único, assim como a vida que existe em ti!
A cada segundo que passa, aumenta tua experiência vivencial!
E diminui o vivenciamento do “ Caminho “!
O “ Caminho das mãos vazias “, o Karatê-Dô, é uma Arte para a vida, é vitalício!
Se dela te valerdes para o aperfeiçoamento pessoal, nela terás crescimento!
Se tua busca estiver acima da barreira do ego, encontrarás nela o “ Caminho “!
Estuda-a todos os dias, pratique-a incondicionalmente, aprenda sua doutrina!
A provação não está fora, mas dentro de ti!

Prof. Sylvio Rechenberg

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Fatos Históricos

A palavra "Dô" provém de "Tao" - "caminho".


O Taoísmo baseia-se no "Tao Te King" (o Livro do Caminho Perfeito) atribuído a Lao-Tse ~571/479 a.C. e é uma das principais correntes filosóficas da China.

Outra corrente fundamental do Oriente é o Budismo introduzido por Sidharta Gautama nascido no Norte da Índia em ~622 a.C. e conhecido por Buda (o Iluminado).

Bodhidarma (?470-543?), budista indiano, terá viajado até ao mosteiro de Shaolin na província de Honan onde, introduz, no ano de 520, o Budismo Zen.

Os primeiros traços do Tai-Chi Chuan aparecem em Chenjiagou, no condado de Wenxian província de Henan, há cerca de 300 anos.

Ryukyu, arquipélago situado a Sudoeste do Japão e muito próximo do extremo Norte de Taiwan, foi desde cedo terreno de disputas entre Chineses e Japoneses.

No Séc. VII o arquipélago
Ryukyu foi invadido pelos Chineses. Até ao século XIII esteve envolvido em guerra civil.
O rei Sho Hashi (1372-1439) conseguiu a unificação dos três reinos do território Ryukyu e instalou uma paz que durou dois séculos. Uma das medidas impostas foi a interdição do uso de armas pelas classes inferiores. Ainda assim, desde o Séc. XIV, os habitantes do arquipélago tiveram de passar a prestar tributo à China.
Em 1609 o arquipélago foi atacado pelos japoneses do clã Shimazu, que já dominava Kyushu, e que também passou a exigir tributo aos ilhéus. (Aliás, esta situação de duplo tributo - à China e ao Japão - prolongou-se até ao Século XIX). Os Shimazu renovaram a proibição do uso de armas, desta vez à população em geral.

Desde 1609 até 1868, início do período Meiji, foi reforçada a ligação ao continente, nomeadamente à província chinesa de Fujian, onde floresciam os métodos de luta chineses normalmente designados por Kenpo ("método dos punhos"). No arquipélago tais métodos eram conhecidos por To-de. Qualquer desses métodos era ensinado em absoluto segredo de mestre para discípulo.

Das Kata's tradicionais de Karate, Mestre Gichin Funakoshi selecionou as que considerou mais importantes e incorporou ainda algumas de sua autoria, destinadas aos principiantes, como as Taikyoku. No total selecionou 18 kata's que apresentou divididas em dois grupos: -Shorin-ryu e -Shorei-ryu. As kata's pertencentes ao grupo Shorin-ryu enfatizam a rapidez e a agilidade (Shorin provém do termo Shaolin). Pelo contrário as Kata's Shorei-ryu (mais influenciadas pelos estilos do Sul da China) enfatizam a força muscular e a energia física, o que as torna mais lentas.

As Kata's Shorin-ryu são doze : 1-Taikyoku Shodan, 2-Taikyoku Nidan, 3-Taikyoku Sandan, 4-Heian Shodan, 5-Heian Nidan, 6-Heian Sandan, 7-Heian Yodan, 8-Heian Godan, 9-Bassai, 10-Kwanku, (Kanku)11-Empi, 12-Gankaku.

As Kata's Shorei-ryu são seis: 1-Tekki Shodan, 2-Tekki Nidan, 3-Tekki Sandan, 4-Jutte, (Jite)5-Hangetsu, 6-Jihon. (Jion)

quarta-feira, 18 de maio de 2011












" Principio de número dois, descrito no Niju-Kun de O’Sensei."

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Vencer sem "lutar"

Vencer sem lutar (Um resumo com adaptação do texto origina!) Estou convicto que a competição no "karate esportivo" mostra aos alunos que se eles querem vencer, o único caminho é a luta “confronto”, enquanto que no Karatê-Dô aprendemos que a vitória pode ser obtida sem luta “confronto”!
O Karatê-Dô é um modo de vida, não é um jogo! O Karatê-Dô tem um objetivo bastante elevado, ensina às pessoas que, na vida diária, a única forma de vencer, é com os outros e não contra os outros! Em japonês "hito" significa "homem" e escreve-se assim /\, duas linhas que parecem juntar-se, o que aponta que cada homem se inclina para o seu semelhante, e que cairá caso esse suporte seja retirado. Isto parece apontar para o fato de que o ser humano só pode progredir através da cooperação e não da luta. Eu penso que os dois ensinamentos são completamente diferentes, não se pode seguir ambos, pois isso depende do que queremos para a nossa vida. Eu penso que este ponto deve ser compreendido e não é difícil. Não me refiro simplesmente aos que praticam kumite de competição. Estou convencido que aqueles que acham este tipo de prática divertida, devem seguir os seus sentimentos. Embora eu veja nada de errado nisso, penso que devem admitir que isso não tem nada a ver com o conceito de Karatê-Dô.
Comecei a treinar Karatê-Dô há muitos anos. No princípio, como acontece sempre, era só uma questão de emulação, uma experiência que gradualmente se transformou em conhecimento. E agora estou a começar o processo da compreensão. Descobri que o processo de compreensão só começou quando comecei a mover-me conjuntamente com o meu parceiro em movimentos naturais. Acredito que o treino é um processo de auto-aprendizagem que acontece com o relacionamento com os outros. Inicialmente eu só experimentei um relacionamento conflituoso com os outros, porque não era capaz de estar bem comigo, sem os meus colegas. Apesar de todas as minhas boas intenções, esta aproximação tornava-se sempre numa confrontação durante os treinos. E era normal que assim fosse.
Penso que a jornada que o Karatê-Dô representa é extraordinária. É preciso que treinemos incessantemente com grande dedicação, humildade e paciência, com confiança total no nosso professor, a fim de que possamos agarrar, cada um à nossa própria maneira, o significado desta disciplina maravilhosa.
Quando decidimos começar a praticar Karatê-Dô, escolhemos descobrir através dos nossos corpos, o relacionamento entre nós e os outros, e entre nós e a natureza. Só compreendemos isto mais adiante na nossa jornada. No inicio, o nosso desejo era fortalecer o nosso corpo e a nossa mente, e só com o tempo descobrimos que não o fazemos para subjugar outros.
Existimos graças às outras pessoas, não poderíamos viver por nós próprios, e devemos estar gratos por compartilhar as nossas vidas com eles! Quando pensamos na felicidade, devemos também pensar na felicidade dos outros, tentando nos colocar no lugar dos outros. É justamente, quando nos pomos no lugar das outras pessoas que o nosso treino e prática nos conduzem no sentido da compreensão da mais elevada das vitórias, é então que nos tornamos num só com o nosso parceiro e ganhamos "sem combater". Nos treinos necessitamos de estar juntos com o nosso colega, transformarmo-nos "num" com ele, para nos imaginarmos realmente no seu lugar, sentir exatamente o que ele sente, e experimentar o que ele faz. Se nós não pudermos fazer isto, será muito difícil conseguir unicamente a harmonia com nosso parceiro simplesmente através da técnica, e tudo se resumirá, inevitavelmente numa questão de domínio sobre o outro, que é algo de diferente da “via” do Karatê-Dô. A sua "via" conduz-nos para esse "mundo oculto", onde o confronto, a oposição, o conflito, a dualidade e a submissão desaparecem, sendo substituídos por palavras tais como, bem-vindo, acompanhar, desviar, dissolver, unir e harmonizar.
Acredito que devemos preservar os ensinamentos e os princípios do Karatê-Dô através da nossa compreensão, mudando-nos e aperfeiçoando-nos a nós próprios. Precisamos melhorar a nossa capacidade de interagir com o mundo ao nosso redor, com os outros e com a natureza. Egami'Sensei, fiél discípulo de O'Sensei Funakoshi, deixou-nos o seu testamento no seu livro "The Heart of Karate-do", publicado previamente com o título "The Way of Karate Beyond Technique". Não é necessário que mudemos as técnicas. Se a técnica mudar com os anos, será porque nós mudamos a nós próprios, porque o que queremos da vida mudou: para construir um novo tipo de existência com os outros, ou, inevitavelmente contra os outros. Então o gedan-barai que executamos poderá acompanhar a energia do parceiro até a dissolução da sua energia, sem perturbá-lo ou aleijá-lo, de outra, partiria o seu braço. Fomos habituados a concentrar a energia num ponto e consequentemente também a nossa atenção é focalizada num ponto. É desejável que cada um de nós investigue e descubra a percepção de um estado de globalidade, uma "visão aberta", que inclua o ponto focal da técnica e o adversário por inteiro. Nesta dimensão, que não é somente física, nem somente mental, a técnica não é concentrada somente no ponto do contato, mas irradia através do corpo inteiro do adversário.
Isso dependerá do que desejamos que "saia" da técnica, e a técnica espelhará sempre fielmente o que nós somos no momento preciso de sua execução. Certamente não podemos ser diferentes do que somos, nem podemos ensinar o que não compreendemos, mas com o treino e o compromisso de compreender as palavras dos antigos mestres, podemos melhorar e assim contribuir, cada um de nós, à sua própria maneira, para construir a imagem do Karatê-Dô que os antigos mestres desejaram divulgar às novas gerações: "Um treino do espírito que conduz à harmonia, através do treino do corpo!".

Enzo Cellini

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Diferenças entre "Budô" e esporte.

Entrevista com Motonobu Hironishi'Sensei (discípulo de O'Sensei)
(Texto resumido, extraído do boletim Shotokai)
Sensei, onde e quando o Senhor nasceu?
Nasci em 01 de janeiro de 1913 na cidade de Kyoto

Quando o senhor começou a praticar Karatê-Dô?
Comecei a praticar Karatê-Dô em 1931 com a idade de 19 anos, na Universidade de Waseda.

Quem foram os seus companheiros?
Foram Egami e Noguchi. Como professor O-Sensei'Gichin Funakoshi e como assistente foi Takeshi Shimoda'Sensei e, mais tarde, o filho de O’Sensei, Yoshitaka. Também nesse tempo, eu me recordo que na Universidade Takushoku, Nakayama, com o qual também estávamos algumas vezes.
Como surgiu a amizade entre você e o Sr. Egami?
Eu não posso dizer como, mas desde o primeiro momento apareceu um relacionamento espontânea, uma espécie de unidade que se estendeu incluindo até aspectos da vida cotidiana. Isto pode ter sido motivado pela diferença de caráter e constituição. O Sr. Egami era talvez mais agitado e eu possivelmente mais tranqüilo.
Sabemos senhor Hironishi, que em sua juventude, obteve um 1 º prêmio no concurso organizado pelo jornal Asahi.
Sim, naqueles momentos na juventude, tinha uma constituição muito forte, de modo que, após inúmeros exames, sob o conceito dos médicos da época, então, me elegeram como o biótipo físico de constituição ideal.
Você poderia nos contar sobre Karatê-Dô e suas origens e evolução subseqüente?
Antes de ser difundido era uma arte pouco praticada. Naquela época o Japão passava por um tempo de nacionalismo elevado, de modo que o Karatê-Dô que veio de Okinawa foi pouco considerado em relação ao Judo e o Kendo, que eram tradicionalmente mais conhecidos. Depois de estudar e pesquisar muitos livros, viajar para o exterior, percebemos que em toda a extensão do mundo islâmico e budista, existia uma arte de características similares ao Karatê-Dô, que pretende a busca da verdade por meio da prática através do corpo. Esta arte e a religião mantiveram uma estreita simbiose. Além disso, no período primitivo com o confronto entre diferentes tribos, surgiram diferentes formas de luta que com o tempo foram se especializando, até chegar o momento da sua introdução no Japão. Sua evolução posterior iniciou-se com O-Sensei'Gichin Funakoshi e seu filho Yoshitaka, juntamente com seus alunos mais destacados.
Como era O-Sensei'Funakoshi e seu filho Yoshitaka?
O-Sensei'Funakoshi era de menor estatura, comparado com a altura média. Possuía um caráter afável e sereno, com um humor muito constante. Era uma pessoa muito calada, tranqüila, que gostava de escrever poesias e fazer caligrafia. Sua aparência e seu porte eram de um intelectual. Tecnicamente possuía um Tsuki muito forte e seus bloqueios eram muito firmes, que comprovávamos dolorosamente quando o atacávamos. Yoshitaka era o terceiro de seus filhos. Seu caráter era muito forte, e tecnicamente era muito ortodoxo, com um Karatê-Dô muito ofensivo.
Que relações existiam entre os professores: Funakoshi'O-Sensei, Mabuni'Sensei e Miagi'Sensei?
Antigamente, na parte leste do Japão com o centro em Tóquio, se praticava o Karatê-Dô de O-Sensei'Funakoshi. Na parte oeste com centro em Osaka, era praticado o estilo de Mabuni'Sensei. Como esse mestre tinha uma idade inferior a O-Sensei'Funakoshi, senti um profundo respeito por ele. Miagi'Sensei centralizava a sua influência em Okinawa.
Antigamente, antes da Segunda Guerra Mundial, a cada ano tinha uma demonstração de artes marciais frente ao Imperador. O-Sensei'Funakoshi foi o único que teve a honra de fazer essa demonstração não uma, mas duas vezes, onde o Karatê-Dô ganhou em importância e prestígio.
Gostaríamos de saber como começou a competição?
Para difundir o Karatê-Dô se estudou um tipo de Kumite livre que só se realizava nas demonstrações. Com a passar do tempo este tipo de kumite começou a ter outro caráter, que se desviava do caráter do espírito Budô. Em 1940, O-Sensei'Funakoshi o “ proibiu “ e em 1941 ratificou esta proibição, advertindo aos estudantes, que eles seriam expulsos caso participassem de campeonatos!!
Entre companheiros de classe e como método de estudo, era permitido, porem jámais foi permitido com o objetivo de ganhar campeonatos. De qualquer modo, esse tipo de kumite era muito mais difícil e mais duro do que aquilo que é praticado em competição hoje em dia.

O que é Shotokan-Shotokai?
Shotokai é uma associação fundada por O-Sensei'Funakoshi e reúne os alunos que praticam seu método. Antes da Segunda Guerra Mundial, esta associação teve 90% dos praticantes de Karatê-Dô. Hoje é a única associação que conta com a permissão da família de O-Sensei'Funakoshi para usar o nome Shotokan.
Gostaríamos de conhecer os motivos das separações dentro da escola?
O principal motivo foi o desejo de alguns professores em desenvolver dentro do Karatê-Dô a idéia de esporte.
Por causa da confusão durante e depois da guerra, surgiram novos estilos influenciados pela imagem de mudança e modernização que eclodiu no país. Eram modalidades que atraiam a juventude pelo caráter desportivo de natureza competitiva tão em voga naquelas circunstâncias.
O senhor poderia explicar o seu conceito de Kime?
Para que uma técnica tenha Kime, esta deve transmitir a energia adiante. Se em uma técnica se utiliza a contração muscular, o movimento se detêm, por isso não a consideramos Kime.
Buscamos o desenvolvimento da força interior e não unicamente a exterior. Por efeito ótico esta energia não se vê. Seria mais fácil utilizar as técnicas com contração muscular, porem assim se corta o fluxo da energia.
O-Sensei'Funakoshi dizia que no Karatê-Dô deve existir um equilíbrio entre tensão e relaxamento, porem atualmente existem estilos que só buscam a tensão.
Normalmente se pensa que quando se chega no contato o golpe terminou, porem na verdade é nesse momento que ele começa.
Usa-se o movimento completo do corpo, começando com a projeção dos quadris. Para entender isso completamente, muitos anos são necessários.

Quais são para o senhor as diferenças entre Budô e esporte?
O significado do Kanji Bu, é "parar a lança." Isto tem um sentido de buscar a ( NÃO oposição ), daí a insistência de O-Sensei'Funakoshi em passar de Jutsu para “Dô”, para ser natural, não ir contra a natureza, mas adequar-se as suas leis, em prol da evolução humana.
No Budô tecnicamente se muda o "ataque" pelo " não ataque".
No esporte se ensina para obter a vitória. No Budô é ensinado o conceito de "perder" o qual não significa, deixar-se vencer, esta questão constitui uma forma de aprender a ir além, de transcender, da vitória ou da derrota, superando o egoísmo, única maneira de ser "um "com o oponente.
No Japão, existe uma expressão que diz que "perder é ganhar". No Budô, quando se recebe um golpe se deve agradecer, pois isto leva consigo um ensinamento.
Para uma competição deve-se ter regulamentos e proibir muitos ataques perigosos, determinam-se regras num espaço determinado. Porem numa guerra real não existem regulamentos; atacam por todos os lados.
Numa competição existem muitos regulamentos, mas note que na luta real é muito mais importante e prático o que é proibido no dito regulamento.
Na competição só se presta atenção para a frente, para um oponente apenas. Se pensa que cuidar da retaguarda é perda de tempo. No boxe se luta em uma posição bastante alta, porque é proibido bater nas partes baixas. Na competição, como no boxe os golpes perigosos são proibidos, na confiança de que nada pode acontecer.
No Budô, onde o conceito é integral, a guarda sempre muda.
Olhando para o judô esportivo, vemos que a luta começa com o agarramento, sem pensar sobre a possibilidade de um ataque anterior, então não há nenhum estudo do ma-ai (distância).
No Kendo, antigamente se trabalhava em Kokutsu-dachi (posição para trás). Atualmente, e devido às regras desportivas, a guarda ficou mais alta e já não se ataca a nível gedan (baixo).
Antes se golpeava obliquamente a partir do pescoço, com a intenção de atravessar o corpo. Atualmente, só se ataca na cabeça, usando golpes secos e sem atuação desde o quadril.
No caso do tsuki (soco), se buscava golpear e penetrar em muitas áreas vitais do corpo. Devido à dificuldade em proteger as pernas se estudava muito os ataques nas articulações. Atualmente, estas técnicas são proibidas justamente por esta incapacidade de serem protegidas.
Em qualquer esporte, só é cobrado do árbitro que se cumpra o regulamento, sem ter o poder de decidir o vencedor, o que não ocorre na competição, onde o árbitro pode decidir quem ganha.
Pode-se ver que existe muita diferença entre o combate real e a competição, e isso se traduz no kamae (não apenas na guarda física, sem a atitude).
Kamae se expressa de uma forma que denota o estado de espírito e na atitude (nível de ki), e embora os golpes numa competição possam doer, sua finalidade não é livrar-se do adversário. Na realidade, considerando a competição em termos de combate real, o melhor é receber o golpe para em seguida golpear com a idéia de atravessar. E nestas circunstâncias, não tenha medo, deixe-se golpear e entre com decisão.
Da competição para a forma real tudo muda!
O que é o Karatê-Dô para você?
Com o passar dos anos cada vez eu gosto mais do Karatê-Dô. A medida que aumenta minha idade compreendo as coisas com mais profundidade.
Quando iniciei, queria ser forte para lutar. Depois compreendi que não precisa muita técnica para lutar.
A maioria dos jovens querem ser fortes e lutar, porem os instrutores devem educá-los e orientá-los adequadamente. Com o tempo e a prática, irão compreender o correto.

Quem foram seus discípulos?
Posso dizer com certo orgulho, que a maioria dos grandes mestres atuais em algum momento ou outro, praticaram comigo.
Que conselho você daria?
Gostaria de salientar, na prática (keiko) Karatê-Dô que o objetivo final deve ser o de obter o espírito do Budô da não-resistência, o espírito sem proveito próprio, sem o ego, (mushotoku), procurar a unidade, a unidade ...
Temos de encontrar a mesma relação que existe entre mãe e filho, mesmo quando a criança magoa a mãe, ela não o odeia por isso.
Entre os homens, quando um golpe não fere, não existe raiva, quando fere, se desperta a raiva. Observar o comportamento de homens mais velhos com os netos, que são mais amigáveis e tolerantes por causa de sua maturidade e maior capacidade de compreensão.
Portanto, numa luta deve-se atingir o mesmo estado de espírito, fixo e imutável, seja com dor ou sem dor.
Não existem ofensas, e sim uma grande compreensão e entendimento.
É essencial o bom relacionamento, a amizade, conviver bem e progredir.
Conforme se progride tecnicamente o entendimento muda.
É fundamental o estudo e o trabalho do kata.
Os homens têm manias, apegos, vícios, e quanto mais se trabalha e se progride no kata, mais se perdem estas manias e os maus hábitos.