sábado, 28 de junho de 2025

Reflita em silêncio!

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Para que é esse Kata?

Você que pensa que "dominou" um Kata e o pratica por saber que será cobrado em algum momento e, portanto, o executa para não esquecer da sua "forma", da sua feitura, saiba então que você está completamente equivocado com esse tipo de atitude! 

Você está preocupado em não esquecer, em não passar vergonha quando for cobrado para executá-lo, você está preocupado de que na hora de uma sabatina talvez não consiga lembrá-lo.

Mas não se pratica Kata para isso!

A menos é claro, que você esteja começando a manter os primeiros contatos com essa "forma" (Kata) e se apropriando de como essa "forma" deve ser executada, ou de como é formada essa "forma", para que ela seja corretamente praticada.

Para aprender corretamente um Kata o tempo de uma vida ainda não será o suficiente, principalmente se você o pratica somente quando está no Dôjo!

Então, se você frequentasse o Dôjo regularmente três vezes por semana e executasse esse mesmo Kata uma vez em cada aula, no final de um ano de prática, você teria executado 156 vezes esse único Kata.

Então, repetindo 156 vezes uma sequência de movimentos que visam a "autodefesa", você garante que ao final desse ano você estará preparado para aplicar parte desses movimentos nas vias de fato em um conflito físico real?

Se você praticar as técnicas que compõem esse Kata, isoladamente, inúmeras vezes em cada aula no Dôjo, talvez no final de um ano, algumas dessas técnicas tenham uma certa eficiência, se forem aplicadas corretamente, mas mesmo assim ainda não estarão absorvidas, ainda não estarão incorporadas a um estado de ação e reação instintivos necessários para uma situação de conflito real.

E isso sem contar com o teu calejamento para suportar impactos nas partes do corpo que serão utilizadas para atacar e defender ao executar essas técnicas, quanto no teu condicionamento físico geral de resistência para suportar socos e ponta pés, bem como se manter assim o tempo que for necessário. 
   
Portanto, num confronto real, a emoção do medo, o estresse, a ansiedade, farão você paralisar, farão você esquecer tudo o que aprendeu, farão você agir descoordenadamente, involuntariamente e desesperadamente para tentar sair vivo daquela situação. 
  
Então, considerando o Kata como uma ferramenta capaz de qualificar ações dinâmicas marciais que devem ser incorporadas, compreendidas e aplicadas, não contra um, mas contra vários adversários, certamente esse objetivo ainda estará muito longe de ser alcançado.

Logo, a questão então não é praticar para não esquecer, mas praticar para sobreviver em uma eventual situação de conflito físico real.
 
Somente assim esse Kata se tornará parte de você, onde você poderá se valer das suas reais finalidades, pelas quais foi criado e passado de geração em geração para ser assim praticado e incorporado ao instinto de sobrevivência que está presente em cada um de nós!

Prof.Sylvio Rechenberg     

domingo, 8 de junho de 2025

Atentai bem sobre esse texto publicado neste Blog Educativo em 2017.

Resumo e compilação:

“... Eu comecei a treinar no Dojo de O-Sensei’Funakoshi  e a formação era na maior parte Kata, eu diria aproximadamente 80% Kata e 20% Kihon, ...Na verdade, passamos o primeiro ano e meio apenas no Heian Shodan.

“... eu me lembro que ele(O’Sensei) era uma pessoa muito séria e qualquer erro no Kata tínhamos que repetir e faze-lo novamente até que não houvesse mais erros.”

“... ele(O’Sensei) simplesmente não acreditava em chamar Karatê por um estilo. Era apenas Karatê para ele.”

“...quando o Dojo de O-Sensei’Funakoshi foi destruído durante a guerra, todos os estudantes se mudaram para a faculdade para treinar.”

“...Dois grupos começaram a funcionar; o grupo dos alunos mais velhos e o grupo dos mais jovens. O grupo dos mais jovens queriam Nakayama’Sensei para estar no comando e o grupo dos mais velhos queriam Obata’Sensei para estar no comando, porque ele era o mais antigo.”

“...acho que é muito difícil para os americanos ou não-japoneses compreender a ideia da cultura japonesa. A ideia de “Mukso” ou respeito, etc, não fazem parte da cultura americana desde o nascimento como é no Japão. Então eu acho que os americanos nunca podem entender totalmente esta parte do Karatê.”

“...Este é o meu desafio ou objetivo: ensinar os não-japoneses a entender a cultura japonesa.”

“...A finalidade da ITKF é preservar o Karatê tradicional na maneira correta. Um dos perigos é o Karatê torna-se apenas um esporte! Se a definição de Karatê se tornar um Karatê de competição, isso não é o que estamos tentando fazer. Karatê é primeiramente uma arte marcial. A competição é apenas uma das formas de treinar o nosso Karatê tradicional.

“.... Se a competição se tornar a definição para o Karatê, então iremos transforma-lo num Karatê de má qualidade e as técnicas se tornarão ineficazes. Não é assim que preservaremos o Karatê como uma arte marcial.

“... tenho como missão preservar o Karatê tradicional e tudo o que ele representa e quando algumas pessoas querem me fazer ceder, eu não cederei. Eu devo ser muito forte e me manter firme contra essas mudanças que eles querem. Preciso preservar o Karatê como uma “arte” para a próxima geração.

“...Eu digo a estas pessoas, "você faz o que quer, e eu vou continuar ensinando o Karatê como uma arte tradicional".

“...Se o Karatê é para durar, deve ter uma base forte ou se tornará um esporte morto como o judô se tornou.

“... muitas pessoas podem tocar instrumentos musicais, mas poucos podem tocar a música de "Beethoven". É muito difícil.”

“...No Karatê o objetivo(da técnica) é eliminar o inimigo com um único golpe como com o corte de uma espada, um corte, uma vida.”

“...Os samurais eram soldados profissionais. Trabalhavam para seu chefe. As artes marciais são diferentes, porque são sobre o desenvolvimento pessoal para se tornar uma pessoa melhor.

“...(no futuro)Gostaria que o Karatê tradicional fosse exatamente a mesma coisa, ensinado como é hoje. Devemos lembrar que o karatê não é uma ciência. É uma “arte”. Usamos a ciência para melhorar a forma de arte.

“...Acho que isso pode ser melhor explicado se pensarmos em um pintor ou artista. Ele deve usar os pinceis, a tela e as tintas para criar uma bela pintura, mas ainda é o homem que deve fazer a pintura. É por isso que o Karatê também é uma forma de Arte.”

Hidetaka Nishiyama’Sensei

esquerda Masatoshi Nakayama'Sensei, centro Isao Obata'Sensei e direita 
Hidetaka Nishiyama'Sensei.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

O Perigo do Orgulho ( por Gichin Funakoshi'O-Sensei)

Num início de noite, pouco depois de completar meu trigésimo aniversário, dirigia-me de Naha de volta para Shuri. A estrada estava solitária e ficou ainda mais solitária depois do Templo Sogenjí. À esquerda se estendia um cemitério, e nas proximidades localizava-se um grande reservatório de água onde nos dias há muito passados os guerreiros costumavam dar de beber a seus cavalos. Ao lado do reservatório encontrava-se uma área gramada com uma pequena plataforma de pedra no centro; os jovens de Okinawa vinham a esse lugar para testar sua força em confrontos de queda-de-braço.

Naquele anoitecer em particular, enquanto passava, vários jovens estavam entretidos no esporte. Como já observei anteriormente, a queda-de-braço de Okínawa é um pouco diferente daquela praticada no resto do Japão. Eu gostava muito do esporte e (devo confessar) não sentia falta de confiança. Parei e fiquei olhando por algum tempo. 

De súbito, um deles gritou para mim, “Ei!, você! Venha cá e faça uma tentativa! A menos que tenha medo, naturalmente.” “Isso mesmo! “, acrescentou outro. “Não fique aí olhando. Isso não é educado!” 

Eu não estava procurando encrenca mesmo; por isso disse, “Por favor, me desculpem, mas devo ir agora.” E retomei meu caminho. “Oh, não, você não vai!” E, com isso, dois deles correram na minha direção. “Fugindo?”, escarneceu um. “Você não tem boas maneiras?”, perguntou outro. Juntos, os dois me agarraram e arrastaram até a plataforma de pedra. Lá estava sentado um homem mais velho que entendi ser o juiz — e provavelmente o praticante de queda-de-braço mais forte do grupo. 

Sem dúvida, eu poderia ter usado as habilidades que tinha adquirido e fugido sem dificuldade, mas decidi aderir ao esporte. Venci com facilidade o primeiro confronto, mantido com o jovem que parecia o mais fraco do grupo. O segundo jovem também foi uma vítima fácil. E o mesmo aconteceu com o terceiro, o quarto e o quinto. A essa altura, restavam apenas dois homens, um deles o juiz, e ambos pareciam oponentes fortes. “Bem”, disse o juiz, com um sinal de cabeça para o outro, “agora é sua vez. Está preparado para um embate com este estranho?” “Penso que não”, interferi. “Já tive o bastante, e tenho certeza de não poder vencer. Desculpem-me, por favor.” Mas eles eram insistentes. Meu adversário seguinte, com o cenho carregado, agarrou minha mão, de modo que não pude fazer outra coisa senão combater. Também esse confronto foi meu, e bem rapidamente. “Agora preciso ir mesmo”, eu disse. “Obrigado. Por favor, desculpem.” Aparentemente, dessa vez minhas desculpas foram aceitas. 

Mas enquanto retomava o caminho para Shuri, tive uma sensação de que a caminhada não ficaria sem algum incidente. E estava certo, pois em pouco tempo ouvi sons atrás de mim. Por sorte minha, ao sair de casa cedo para ir a Naha, peguei um guarda-chuva, pois estivera chovendo. Agora que a chuva tinha parado, usava o guarda-chuva como bengala; decidi que serviria também como meio de defesa; assim, abri-o rapidamente e mantive-o protegendo a cabeça para prevenir um soco por trás. 

Bem, vou encurtar a história. Embora houvesse sete ou oito no grupo, consegui esquivar-me de todos os golpes dirigidos contra mim, até que finalmente ouvi a voz do mais velho dizendo, “Quem é esse rapaz? Parece que ele conhece Karatê.” O ataque terminou. Os homens ficaram ao meu redor, olhando-me com raiva, mas não houve mais socos e nem tentativas de bater-me quando retomei a estrada. 

Enquanto caminhava, ia recitando meus poemas favoritos, e ao mesmo tempo ficava atento a sons de movimentos furtivos, mas não ouvi nenhum. Quando cheguei a Shuri, estava cheio de remorso. Por que havia entrado no confronto da queda-de-braço? Teria sido por mera curiosidade? Mas a resposta verdadeira me veio à mente: era confiança excessiva em minha força. Numa palavra, era orgulho. Era uma violação do espírito do Karatê-Dō, e me sentia envergonhado. Mesmo ao contar a história agora, depois de transcorridos todos esses anos, ainda me sinto profundamente envergonhado.

Gichin Funakoshi'O-Sensei

domingo, 18 de maio de 2025

A fidelidade com o verdadeiro caminho da razão.

Dominar sequências de movimentos, conseguir chutar alto e veloz, conseguir fazer mil abdominais, mil flexões, dar conta de proezas atléticas, ser educado, disciplinado, ainda assim, apesar de admirável, todas essas coisas NÃO te transformam em um karateka!

O "caminho" do Karatê-Dō NÃO trata das virtudes de um atleta! 

O "caminho" do Karatê-Dō trata de superar as fraquezas do ego, de lutar consigo mesmo para nunca desistir de "lutar", trata de sentir-se em paz consigo mesmo e com o mundo ao redor. 

Para que haja essa paz, não pode haver conflito e, para que haja conflito, basta alimentar o teu ego!

Prof.Sylvio Rechenberg

quinta-feira, 8 de maio de 2025

O "Caminho Silencioso" (por D'Avila)

No silêncio do Dojō, antes do primeiro movimento, já começa o verdadeiro treino. Quando a voz se eleva para recitar os cinco princípios, não é apenas um ritual — é um pacto entre o corpo e o espírito, entre o guerreiro e o homem que escolheu crescer a cada queda.

Esforçar-se para a formação do caráter

Cada dia em que você veste o dōgi é uma escolha. A escolha de ser firme sem ser duro, de ser justo sem ser cego, de moldar a si mesmo como se molda o ferro — pelo calor do esforço e o frio da disciplina.

Fidelidade ao verdadeiro caminho da razão.

No Karatê-Dō, não há espaço para orgulho vazio. Há apenas o caminho — e ele exige honestidade. Com o outro. Com o mundo. Mas, sobretudo, com você mesmo.

Criar o intuito do esforço.

Você sabe o preço do retorno após a pausa. O suor que queima os músculos também aquece a alma. E a alma forjada no esforço nunca se quebra, apenas se curva — como o bambu que resiste ao vento.

Respeito acima de tudo.

A cada saudação, a cada rei, você aprende que a verdadeira força se curva. Não por submissão, mas por reverência. Ao oponente, ao sensei, à arte, e à dádiva de poder trilhar esse caminho com consciência.

Conter o espírito de agressão.

No cerne do Karatê-Dō, a mão que golpeia é a mesma que protege. Aprender a conter é mais difícil que aprender a atacar. Mas é aí que mora a essência: o controle absoluto, que só os fortes conhecem.

Jorge Luiz d'Avila

segunda-feira, 28 de abril de 2025

(Kara) o "vazio" do Karatê-Dō:

Além do óbvio, sem o uso de armas, o "Vazio" (Kara) representa uma constante busca por esvaziar o coração e a mente do egoísmo, da vaidade, da ambição, da prepotência, males que interferem no nosso dia a dia e que poluem o "foco" no correto auto aperfeiçoamento e na nossa paz interior.

O-Sensei'Funakoshi compara o praticante de Karatê-Dō a um (bambu verde), que por sua vez é "vazio" (Kara) por dentro, reto e com nó. Logo, sem nenhum interesse mundano, mantendo-se humilde, mas com retidão e disciplina nas suas ações.

O "vazio" é a verdadeira essência do Karatê-Dō, ​transcende as formas externas e técnicas, está enraizado num estado mental de constante clareza, permitindo assim agir com precisão: ​

... (A vacuidade, o vazio, jaz no coração de toda matéria e na verdade de toda a criação)...

... (Assim como um vale vazio pode ecoar o som, o praticante que se esvazia interiormente pode responder com eficácia às situações que enfrenta)... ​

(Gichin Funakoshi'O-Sensei)