domingo, 8 de junho de 2025

Atentai bem sobre esse texto publicado neste Blog Educativo em 2017.

Resumo e compilação:

“... Eu comecei a treinar no Dojo de O-Sensei’Funakoshi  e a formação era na maior parte Kata, eu diria aproximadamente 80% Kata e 20% Kihon, ...Na verdade, passamos o primeiro ano e meio apenas no Heian Shodan.

“... eu me lembro que ele(O’Sensei) era uma pessoa muito séria e qualquer erro no Kata tínhamos que repetir e faze-lo novamente até que não houvesse mais erros.”

“... ele(O’Sensei) simplesmente não acreditava em chamar Karatê por um estilo. Era apenas Karatê para ele.”

“...quando o Dojo de O-Sensei’Funakoshi foi destruído durante a guerra, todos os estudantes se mudaram para a faculdade para treinar.”

“...Dois grupos começaram a funcionar; o grupo dos alunos mais velhos e o grupo dos mais jovens. O grupo dos mais jovens queriam Nakayama’Sensei para estar no comando e o grupo dos mais velhos queriam Obata’Sensei para estar no comando, porque ele era o mais antigo.”

“...acho que é muito difícil para os americanos ou não-japoneses compreender a ideia da cultura japonesa. A ideia de “Mukso” ou respeito, etc, não fazem parte da cultura americana desde o nascimento como é no Japão. Então eu acho que os americanos nunca podem entender totalmente esta parte do Karatê.”

“...Este é o meu desafio ou objetivo: ensinar os não-japoneses a entender a cultura japonesa.”

“...A finalidade da ITKF é preservar o Karatê tradicional na maneira correta. Um dos perigos é o Karatê torna-se apenas um esporte! Se a definição de Karatê se tornar um Karatê de competição, isso não é o que estamos tentando fazer. Karatê é primeiramente uma arte marcial. A competição é apenas uma das formas de treinar o nosso Karatê tradicional.

“.... Se a competição se tornar a definição para o Karatê, então iremos transforma-lo num Karatê de má qualidade e as técnicas se tornarão ineficazes. Não é assim que preservaremos o Karatê como uma arte marcial.

“... tenho como missão preservar o Karatê tradicional e tudo o que ele representa e quando algumas pessoas querem me fazer ceder, eu não cederei. Eu devo ser muito forte e me manter firme contra essas mudanças que eles querem. Preciso preservar o Karatê como uma “arte” para a próxima geração.

“...Eu digo a estas pessoas, "você faz o que quer, e eu vou continuar ensinando o Karatê como uma arte tradicional".

“...Se o Karatê é para durar, deve ter uma base forte ou se tornará um esporte morto como o judô se tornou.

“... muitas pessoas podem tocar instrumentos musicais, mas poucos podem tocar a música de "Beethoven". É muito difícil.”

“...No Karatê o objetivo(da técnica) é eliminar o inimigo com um único golpe como com o corte de uma espada, um corte, uma vida.”

“...Os samurais eram soldados profissionais. Trabalhavam para seu chefe. As artes marciais são diferentes, porque são sobre o desenvolvimento pessoal para se tornar uma pessoa melhor.

“...(no futuro)Gostaria que o Karatê tradicional fosse exatamente a mesma coisa, ensinado como é hoje. Devemos lembrar que o karatê não é uma ciência. É uma “arte”. Usamos a ciência para melhorar a forma de arte.

“...Acho que isso pode ser melhor explicado se pensarmos em um pintor ou artista. Ele deve usar os pinceis, a tela e as tintas para criar uma bela pintura, mas ainda é o homem que deve fazer a pintura. É por isso que o Karatê também é uma forma de Arte.”

Hidetaka Nishiyama’Sensei

esquerda Masatoshi Nakayama'Sensei, centro Isao Obata'Sensei e direita 
Hidetaka Nishiyama'Sensei.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

O Perigo do Orgulho ( por Gichin Funakoshi'O-Sensei)

Num início de noite, pouco depois de completar meu trigésimo aniversário, dirigia-me de Naha de volta para Shuri. A estrada estava solitária e ficou ainda mais solitária depois do Templo Sogenjí. À esquerda se estendia um cemitério, e nas proximidades localizava-se um grande reservatório de água onde nos dias há muito passados os guerreiros costumavam dar de beber a seus cavalos. Ao lado do reservatório encontrava-se uma área gramada com uma pequena plataforma de pedra no centro; os jovens de Okinawa vinham a esse lugar para testar sua força em confrontos de queda-de-braço.

Naquele anoitecer em particular, enquanto passava, vários jovens estavam entretidos no esporte. Como já observei anteriormente, a queda-de-braço de Okínawa é um pouco diferente daquela praticada no resto do Japão. Eu gostava muito do esporte e (devo confessar) não sentia falta de confiança. Parei e fiquei olhando por algum tempo. 

De súbito, um deles gritou para mim, “Ei!, você! Venha cá e faça uma tentativa! A menos que tenha medo, naturalmente.” “Isso mesmo! “, acrescentou outro. “Não fique aí olhando. Isso não é educado!” 

Eu não estava procurando encrenca mesmo; por isso disse, “Por favor, me desculpem, mas devo ir agora.” E retomei meu caminho. “Oh, não, você não vai!” E, com isso, dois deles correram na minha direção. “Fugindo?”, escarneceu um. “Você não tem boas maneiras?”, perguntou outro. Juntos, os dois me agarraram e arrastaram até a plataforma de pedra. Lá estava sentado um homem mais velho que entendi ser o juiz — e provavelmente o praticante de queda-de-braço mais forte do grupo. 

Sem dúvida, eu poderia ter usado as habilidades que tinha adquirido e fugido sem dificuldade, mas decidi aderir ao esporte. Venci com facilidade o primeiro confronto, mantido com o jovem que parecia o mais fraco do grupo. O segundo jovem também foi uma vítima fácil. E o mesmo aconteceu com o terceiro, o quarto e o quinto. A essa altura, restavam apenas dois homens, um deles o juiz, e ambos pareciam oponentes fortes. “Bem”, disse o juiz, com um sinal de cabeça para o outro, “agora é sua vez. Está preparado para um embate com este estranho?” “Penso que não”, interferi. “Já tive o bastante, e tenho certeza de não poder vencer. Desculpem-me, por favor.” Mas eles eram insistentes. Meu adversário seguinte, com o cenho carregado, agarrou minha mão, de modo que não pude fazer outra coisa senão combater. Também esse confronto foi meu, e bem rapidamente. “Agora preciso ir mesmo”, eu disse. “Obrigado. Por favor, desculpem.” Aparentemente, dessa vez minhas desculpas foram aceitas. 

Mas enquanto retomava o caminho para Shuri, tive uma sensação de que a caminhada não ficaria sem algum incidente. E estava certo, pois em pouco tempo ouvi sons atrás de mim. Por sorte minha, ao sair de casa cedo para ir a Naha, peguei um guarda-chuva, pois estivera chovendo. Agora que a chuva tinha parado, usava o guarda-chuva como bengala; decidi que serviria também como meio de defesa; assim, abri-o rapidamente e mantive-o protegendo a cabeça para prevenir um soco por trás. 

Bem, vou encurtar a história. Embora houvesse sete ou oito no grupo, consegui esquivar-me de todos os golpes dirigidos contra mim, até que finalmente ouvi a voz do mais velho dizendo, “Quem é esse rapaz? Parece que ele conhece Karatê.” O ataque terminou. Os homens ficaram ao meu redor, olhando-me com raiva, mas não houve mais socos e nem tentativas de bater-me quando retomei a estrada. 

Enquanto caminhava, ia recitando meus poemas favoritos, e ao mesmo tempo ficava atento a sons de movimentos furtivos, mas não ouvi nenhum. Quando cheguei a Shuri, estava cheio de remorso. Por que havia entrado no confronto da queda-de-braço? Teria sido por mera curiosidade? Mas a resposta verdadeira me veio à mente: era confiança excessiva em minha força. Numa palavra, era orgulho. Era uma violação do espírito do Karatê-Dō, e me sentia envergonhado. Mesmo ao contar a história agora, depois de transcorridos todos esses anos, ainda me sinto profundamente envergonhado.

Gichin Funakoshi'O-Sensei

domingo, 18 de maio de 2025

A fidelidade com o verdadeiro caminho da razão.

Dominar sequências de movimentos, conseguir chutar alto e veloz, conseguir fazer mil abdominais, mil flexões, dar conta de proezas atléticas, ser educado, disciplinado, ainda assim, apesar de admirável, todas essas coisas NÃO te transformam em um karateka!

O "caminho" do Karatê-Dō NÃO trata das virtudes de um atleta! 

O "caminho" do Karatê-Dō trata de superar as fraquezas do ego, de lutar consigo mesmo para nunca desistir de "lutar", trata de sentir-se em paz consigo mesmo e com o mundo ao redor. 

Para que haja essa paz, não pode haver conflito e, para que haja conflito, basta alimentar o teu ego!

Prof.Sylvio Rechenberg

quinta-feira, 8 de maio de 2025

O "Caminho Silencioso" (por D'Avila)

No silêncio do Dojō, antes do primeiro movimento, já começa o verdadeiro treino. Quando a voz se eleva para recitar os cinco princípios, não é apenas um ritual — é um pacto entre o corpo e o espírito, entre o guerreiro e o homem que escolheu crescer a cada queda.

Esforçar-se para a formação do caráter

Cada dia em que você veste o dōgi é uma escolha. A escolha de ser firme sem ser duro, de ser justo sem ser cego, de moldar a si mesmo como se molda o ferro — pelo calor do esforço e o frio da disciplina.

Fidelidade ao verdadeiro caminho da razão.

No Karatê-Dō, não há espaço para orgulho vazio. Há apenas o caminho — e ele exige honestidade. Com o outro. Com o mundo. Mas, sobretudo, com você mesmo.

Criar o intuito do esforço.

Você sabe o preço do retorno após a pausa. O suor que queima os músculos também aquece a alma. E a alma forjada no esforço nunca se quebra, apenas se curva — como o bambu que resiste ao vento.

Respeito acima de tudo.

A cada saudação, a cada rei, você aprende que a verdadeira força se curva. Não por submissão, mas por reverência. Ao oponente, ao sensei, à arte, e à dádiva de poder trilhar esse caminho com consciência.

Conter o espírito de agressão.

No cerne do Karatê-Dō, a mão que golpeia é a mesma que protege. Aprender a conter é mais difícil que aprender a atacar. Mas é aí que mora a essência: o controle absoluto, que só os fortes conhecem.

Jorge Luiz d'Avila

segunda-feira, 28 de abril de 2025

(Kara) o "vazio" do Karatê-Dō:

Além do óbvio, sem o uso de armas, o "Vazio" (Kara) representa uma constante busca por esvaziar o coração e a mente do egoísmo, da vaidade, da ambição, da prepotência, males que interferem no nosso dia a dia e que poluem o "foco" no correto auto aperfeiçoamento e na nossa paz interior.

O-Sensei'Funakoshi compara o praticante de Karatê-Dō a um (bambu verde), que por sua vez é "vazio" (Kara) por dentro, reto e com nó. Logo, sem nenhum interesse mundano, mantendo-se humilde, mas com retidão e disciplina nas suas ações.

O "vazio" é a verdadeira essência do Karatê-Dō, ​transcende as formas externas e técnicas, está enraizado num estado mental de constante clareza, permitindo assim agir com precisão: ​

... (A vacuidade, o vazio, jaz no coração de toda matéria e na verdade de toda a criação)...

... (Assim como um vale vazio pode ecoar o som, o praticante que se esvazia interiormente pode responder com eficácia às situações que enfrenta)... ​

(Gichin Funakoshi'O-Sensei)

sábado, 26 de abril de 2025

Vigília de Shoto 2025 (26 de abril)

Shoto era o pseudônimo que Funakoshi Gichin'O-Sensei usava para assinar os seus poemas. Amante das coisas simples e naturais, maravilhava-se, na sua juventude, com o ondular dos pinheiros batidos pelo vento marítimo nas vertentes dos montes onde se erguia o castelo de Shuri. Foi essa imagem da sua ilha natal de Okinawa que lhe inspirou o pseudônimo Shoto, o qual pode ser traduzido literalmente como "o pinheiro e o mar” e mais poeticamente como o "ondular dos pinheiros". Em 1935, os alunos mais antigos de Funakoshi'O-Sensei criaram uma fundação em honra do seu mestre, a qual tinha como primeiro objetivo reunir fundos para a construção de um Dojo. Em 1938, no dia em que, pela primeira vez depois das obras de construção estarem completamente prontas, o mestre franqueou o portão de entrada, virou-se para a direita para contemplar o belíssimo Dojo e deparou-se com uma inscrição escrita em caracteres brancos numa placa colocada sobre o alpendre de entrada - Shotokan. Essa expressão pode ser traduzida de uma forma simples por “Casa Shoto”, mas é provável que o sentir dos alunos na altura exigisse uma tradução mais formal – “o Paço de Shoto”. Na sua localização original, o Shotokan situava-se no bairro de Toshima, em Tóquio, um pouco ao norte da célebre Universidade de Waseda. Tendo sido o primeiro Dojo a ser erguido para a prática do Karatê-Dō no Japão e pertencendo ao homem que, 16 anos antes, em 1922, introduzira a sua prática na ilha central do Japão, compreende-se que se tenha tornado praticamente um local de culto para todos os karatekas dessa época e das gerações seguintes. Progressivamente, e por mera associação de ideias, os mestres primeiro, depois os alunos, passaram a ser conhecidos como os homens do Shotokan e o comitê originalmente criado em 1935 para a recolha de fundos para a construção do Dojo, que geriu depois a construção da obra, iniciada em 1936 e que, em julho de 1939, promoveu a sua inauguração formal perante as mais altas celebridades da época, passou a ser conhecido por Shotokai – expressão que pode ser traduzida simplesmente por “Associação (de amigos) de Shoto” ou, de modo mais formal, por “Fundação Funakoshi”. Esta associação era composta pelos alunos mais antigos de Funakoshi'O-Sensei – com destaque para o seu terceiro filho Funakoshi Yoshitaka, Saigo Kichinosuke, Obata Isao, Egami Shigeru e Hironishi Genshin. (C) Copyright: José Patrão, 2000 - 2003

           A escola Shotokan de O-Sensei em 1936 ano da inauguração.

domingo, 20 de abril de 2025

É Páscoa em 2025

Que a ressurreição do Senhor Jesus Cristo, o nosso Salvador, filho de Deus, o Criador de todas as coisas, possa renovar em todos nós a fé e a esperança na vida eterna!

Feliz Páscoa!